MOVIMENTO

Deve-se tratar todo o poder com a máxima força que se possa empreender. Àqueles, instituídos de prerrogativas que, por natureza, são contrárias aos anseios do povo, deve o povo, elemento abstrato, mas não sem importância, juntar-se em massa e caminhar às conquistas por ele elencadas. Deve, também, todavia, desconfiar daqueles que se apresentam como porta-vozes do movimento que nasce. Isso, porém, não quer dizer que ao povo não resta outra alternativa senão ceder ou descartar de imediato alguém que tenha tal característica. O que se pretende aqui enfatizar, com relação aos porta-vozes, assenta-se somente, e não há outra razão, para desconfiar de elementos que pareçam possuídos das mais mirabolantes saídas, pelo à primeira vista. Sim, todo movimento, em princípio espontâneo, torna-se, para candidatos a porta-vozes, virgens em disputa. É nesse momento que o movimento deve procurar identificar quem ou quais são seus aliados. Pois, não ter desenvolvido a capacidade de compreender isso, e não haverá segunda chance, colocará todo o movimento em risco. É preciso entender que o que nasceu pequeno e se tornou grande, deve-se ao fato de, com passar dos dias, a sociedade ter-se identificado com as bandeiras que foram nascendo. Dai surge a pergunta: o que fez desabrochar esse sentimento? Ora, muitos dirão trata-se de pessoas querendo a aparecer, outras que o apoio maciço deveu ao fato de a imprensa ter sido acatada pela força repressora. Assim colocado, parece que foi um pouco das duas coisas, mas, será que foi somente isso? Do ponto de vista sociológico o que se destaca é que o aumento do apoio ao movimento, e parece ser essa a principal lição, é que para o povo tudo estava tão sem perspectiva de melhora. A política desacreditada, que propostas de emenda à constituição, Pec 37, Cura Gay, só para ficarmos nesses dois exemplos, despertaram no povo o desejo de transformação social. Não foi à toa que o combate à Pec 37 e à cura gay, tornaram bandeiras quase unânimes. E também a questão da qualidade dos transportes, da saúde, da educação, viraram bandeiras de todo o movimento. Foi por isso que a Pec 37 e a Cura Gay, foram arquivadas. Disso se tira que o povo sabe e quer que seus impostos sejam revertidos em serviços de qualidade. O povo, ao contrário do que se pensa, não está alheio ao que ocorre no Parlamento ou no Executivo. Ele quer participar da vida política da cidade. Ele está cansado e desacreditado que o governo fará as mudanças. Por isso, se antes a sociedade tinha uma postura exógena, distante, e depois incorporou aquelas bandeiras como sua, isso quer dizer que se quer mudanças. " A gente não quer só comida, a gente quer comida, educação e arte", já dizia a canção. Dito isso, e fazendo um paralelo com que vem ocorrendo no judiciário, as mudanças implementadas tem servido apenas para satisfazer, ou alimentar, vaidades castelanas. Além de acarretar transtornos aos funcionários com a alteração do horário, essa "nova realidade", a pretexto de proporcionar duvidosa economia, trará aos funcionários aumento de despesas, pois, obrigará seus filhos a ficarem mais tempo na escola. E, o que é pior, ficarão transitando em vans escolares até que seus pais cheguem em casa. Somado a isso, com a saída de todos no mesmo horário não precisa ser especialista, para sabermos o que acontecerá com esse incremento de usuários do transporte público. É por isso que, medidas dessa natureza precisam ser combatidas, assim como nos demonstrou as recentes manifestações. É preciso que absorvamos essas lições, pois, assim como aquele movimento se iniciou desacreditado, e com o tempo tomou tamanho volume, que não houve como negar-lhe legitimidade. Os funcionários do judiciário de São Paulo, precisam e devem se mobilizar para fazer valer seus direitos. A luta pelos direitos são lutas permanentes; elas nunca se esgotam, posto que, sabemos, sempre haverão aqueles que quererão nos roubar. Sempre estarão em conluio para nos explorar e nos desmobilizar; eles estarão à espreita, sempre estarão dispostos a nos atacar. É por isso, que nós, trabalhadores, não devemos nos esmorecer, não devemos, nunca, abaixar a nossa guarda.