Black Life
Um dia, sonhei.
Sonhei que estava entrando na sala de um grande prédio, com muito som de conversas e dedos chocando-se com teclas, telefones anunciando uma nova ligação...
...nada de muito estranho.
Então, há uma porta ao fundo, na qual entro e me deparo com uma sala enorme, do tamanho de um apartamento, porém, é uma única peça, com sofás, televisão, microcomputador e uma mesa de tamanho bem considerável.
Estantes longínquas... que poderiam contar histórias.
E livros novos, antigos e entre os dois extremos. De um lado a outro da parede.
Tapete enorme de pele de algum animal formoso ao chão...
Duas janelas, sendo uma de frente para a rua, avistando a esquina e a entrada desse prédio.
Nessa janela, havia um homem olhando perdidamente lá fora. Era um dia frio, nublado, perto do fim da tarde.
Seu terno era cinza claro, possuía cabelo preto, barba a ser feita, vestia sapatos luxuosos.
Estava com óculos e tinha a estatura média de um homem comum.
O telefone tocava ao fundo da sala fria e solitária onde, ali, ele permanecia. E nada o parecia tirar dali... de frente daquela janela.
Sua alma parecia enfraquecida, seu coração pulsava somente para manter seu corpo aquecido e em movimento, sua mente só relembrava os tempos de criança, seu espírito estava quebrado.
Recordava os prêmios, as glórias, o reconhecimento pessoal.
Lamentava a ausência de amizades, familiares, amor.
E se deu por conta que se tornou naquilo que havia sonhado uma vez: em alguém que nasceu para viver... só. Nada mais.
Concluiu, então... que era este... o seu destino.
Por fim, o homem deu um suspiro, deu meia volta e, por conseguinte, claramente o reconheci:
aquele homem... sou eu.