Rótulos

Seres humanos gostam de simplificar as coisas. Uma das formas que encontraram para fazer isso, é dar algum "nome aos bois".

Uma coisa que tem nome, um comportamento nomeado, tudo isso facilita nossa vida, porque ajuda a organizar e homogenizar nossos pensamentos. Nomearam e rotularam por exemplo, os diversos distúrbios mentais.

Antigamente, as pessoas eram taxados apenas como "loucas", ou "doidas", já hoje em dia, graças a psicologia e psiquiatria moderna , cada "doidice" tem um nome específico, o que contribuiu sensivelmente para a percepção de haver hoje em dia muito mais gente perturbada.

Faz parte da nossa vida atual de ser bipolar, ter a síndrome TDAH ou ter pelo menos alguma fobia interessante, da "abissofobia" ate a "zoofobia" tem de tudo, basta escolher!

Outro exemplo de nomear para descomplicar a vida, só que conseguindo o inverso, foram as rotulações "machista" e "feminista".

A princípio algo tão fácil : Se o seu eixo de pensamento gira em torno do "homem" e do universo masculino, então você é machista....se o eixo do seu pensamento gira em torno da "mulher" e do universo feminino, você é feminista.

Mas, em vez de simplificar, as duas palavrinhas trouxeram a maior confusão para muitos e o que podemos observar hoje, é que pouca gente sabe o que de fato é "machismo" e "feminismo" e em alguns casos essa rotulação serviu a propósitos inimagináveis. Um exemplo? Conversa numa família somente constituída por uma mãe com sua filha ...

Filha : Mãe, você já lavou minha calça jeans que eu deixei na cesta de roupa suja?

Mãe : Não, não lavei !! Porque você não lava você mesma ? Você é muito "machista" porque pensa que só porque sou sua mãe, devo lavar suas jeans !

Como é isso? Se trata de duas mulheres , onde é que entra o "machismo" nisso?? Na realidade o exemplo acima apenas trata da preguiça ou da falta de tempo ou da falta de vontade, mas como isso são colocações um tanto auto-acusadoras, é mais fácil botar a culpa num imaginado "machismo" externo.

Tenho observado, que algumas pessoas usam a palavra "machismo" para não precisar fazer suas mais básicas tarefas "humanas". Não fazem o que devem por ser coisa do "machismo" ou também do "feminismo" e o que termina faltando é o tal do "bom-senso".

Rótulos que se usam indevidamente e em excesso, perdem seu sentido, seu foco principal e também a sua força.

Eles são práticos, mas devem ser usados com muita cautela, porque uma das grandes desvantagens da rotulação dos nossos comportamentos, é uma visão estreita do mundo que nos cerca.

Invés de ter uma perspectiva ampla e diversificada da vida, passamos a ver tudo de forma "bifocal" : ou tudo é preto, ou tudo é branco.

O mesmo fenômeno podemos observar tanto na política , como também em questões religiosas. Há uma tendência brasileira de se enxergar os acontecimentos políticos e religiosos apenas por duas lentes, "os reacionários" e "os esquerdistas", preto e vermelho como também os "crentes" e os "ateus".

Se estou descontente com um desses lados, devo pertencer ao lado oposto! E esse lado oposto não pode ter de maneira alguma argumentos interessantes, justamente e apenas, por ser o lado oposto!

Não pode haver um caminho do "meio", porque o "meio" é um "limbo", algo indefinido e portanto inexistente.

Essa forma de pensar em linhas claras, definidas e castradas, dificulta tremendamente qualquer diálogo frutífero e piora ainda mais quando ambos os lados se fundem com outras ideias, como no caso dos "religiosos reacionários" ou dos "ateus esquerdistas".

O supra sumo da loucura em massa !

Precisamos rever nossos conceitos, aprender a dialogar e aprender a pensar fora das rotulações óbvias para conseguir enxergar o mundo de forma menos tolhida.

NinaMiroca
Enviado por NinaMiroca em 17/07/2013
Código do texto: T4391739
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