ETIMOLOGIA - a origem
Estuda a origem de uma palavra, observando-se sua composição e inexorável evolução histórica. Sempre que se pensa em pesquisar o significado de um vocábulo, recorre se à Etimologia. Muito se tem escrito sobre o assunto, desde S. Isidoro de Sevilha que, por volta do ano 600, publicou a primeira Enciclopédia de história, mas pouco se consegue de prático, haja vista a dificuldade, a falta de meios, a deficiência na formação da Língua clássica. Como ao aluno brasileiro é ‘vedado’ o estudo de latim e grego na maioria das escolas, a dificuldade de absorção e compreensão de palavras que contenham radicais e/ou afixos provenientes dessas línguas é inconteste.
Para ilustrar essa dificuldade, segue um belo exemplo do étimo que nos apresenta o programa “Alô Escola” da TV Cultura de São Paulo:
“Família etimológica – ‘atravessar’ e ‘travesseiro’”
Será que as palavras ‘atravesso’ e ‘travesseiro’ têm algo em comum? Confira na letra abaixo, extraída da canção “Garganta”, de Ana Carolina:
“minha garganta arranha a tinta e os azulejos
do teu quarto, da cozinha, da sala de estar
venho madrugada perturbar teu sono
como um cão sem dono me ponho a ladrar
atravesso o travesseiro, te reviro pelo avesso
tua cabeça enlouqueço, faço ela rodar
atravesso o travesseiro, te reviro pelo avesso
tua cabeça enlouqueço, faço ela rodar...”
“Atravesso o travesseiro”, diz a letra. As palavras ‘atravesso’ e ‘travesseiro’ não são apenas parecidas como possuem uma origem comum: a idéia de algo posto de través, atravessado. O travesseiro recebe esse nome justamente porque fica atravessado em relação ao colchão.
Como a Etimologia é o estudo da origem das palavras, por meio dela, podemos descobrir palavras que possuem a mesma raiz, que partilham a mesma origem. Termos como ‘atravessar’, ‘de través’, ‘através’, ‘travesseiro’ e tantas outras pertencem a uma mesma família, isto é, a uma mesma família etimológica.
Outro belo exemplo de evolução lingüística apresenta-nos o eminente filólogo Antônio Houaiss, em seu Dicionário Eletrônico, sobre os verbos SER e IR que, por sua complexidade, tanto confundem e intrigam os estudantes da Gramática Normativa:
SER
Latim sedèo,es,sédi,sessum,sedére “estar sentado, assentar-se, ficar sentado”, fundido com formas do verbo latino esse “ser”; da idéia original de “estar sentado” passou à de “ser”; Século XIII eran, Século XIII fui.
IR
Em português o étimo deste verbo é bem complexo. Estão na base de sua constituição três radicais verbais que, do ponto de vista do latim, eram absolutamente isolados entre si, verbo vado,is,vadère, verbo eo,is,íre e fui, perfectum de esse; com os dois primeiros radicais conjugam-se as formas do presente do indicativo, pretérito imperfeito do indicativo, futuro do presente, futuro do pretérito, presente do subjuntivo, imperativo afirmativo e negativo, infinitivo, gerúndio e particípio, com a seguinte distribuição: radical de vadère, presente do indicativo exceto da 2ª.p.pl., presente do subjuntivo, 2ª p.s. imperativo afirmativo, imperativo negativo todo; radical de íre, 2ª p.pl. presente do indicativo, pretérito imperfeito do indicativo, futuro do presente, futuro do pretérito, 2ª p.pl. imper. afirmativo, formas nominais, inf., gerúndio e part.; com o rad. fu-, de esse, conjugam-se pret.perf.ind., pret.m.-q.-perf.ind., pretérito imperfeito do subjuntivo, futuro do subjuntivo; Em 944 uai, Século XIII ir.
Este livro, portanto, não substitui o Dicionário Etimológico, já que não trata a evolução; é, sim, material de instrumentalização.
Passemos a outro exemplo, agora com prefixos: quando se pretende compor um texto e surge uma dúvida quanto ao emprego correto do prefixo, o que fazer? Como saber que imoral não é o mesmo que amoral? De fato é difícil uma resposta sem estudo aprofundado. Vamos entender.
O prefixo i(n) indica negação ou sentido contrário; já o prefixo a significa ausência. Ocorre que a moral – não confundir com o moral: “ânimo, disposição, vontade” – representa “o conjunto das nossas faculdades morais; brio, vergonha.”, segundo o Dicionário Aurélio Século XXI. Imoral é o sujeito contrário à moral; desonesto; libertino, desleal; porém, o sujeito amoral é o que não tem o senso da moral, ou seja, se não segue os padrões normativos, provavelmente, não o faz de forma premeditada, agressiva, mas por ignorância ou desconhecimento desses mesmos padrões. Então a qual dos dois poderia ser aplicado o prefixo anti? Como o prefixo grego anti representa uma ação contrária, não parece certo dizer antimoralidade com sentido de amoralidade, mas sim imoralidade.
Como se pode perceber, esse estudo é complexo, mas prazeroso. A cada descoberta, um novo sorriso de vitória, com a certeza inequívoca da evolução. Para auxiliar nesse aprofundamento, seguem listas de radicais, prefixos e sufixos gregos e latinos que servirão de base para sua pesquisa e conseqüente desenvolvimento lingüístico.
Bom estudo!
O autor
(do livro - Etimologia - a origem, de Nelson Maia Schocair)
Estuda a origem de uma palavra, observando-se sua composição e inexorável evolução histórica. Sempre que se pensa em pesquisar o significado de um vocábulo, recorre se à Etimologia. Muito se tem escrito sobre o assunto, desde S. Isidoro de Sevilha que, por volta do ano 600, publicou a primeira Enciclopédia de história, mas pouco se consegue de prático, haja vista a dificuldade, a falta de meios, a deficiência na formação da Língua clássica. Como ao aluno brasileiro é ‘vedado’ o estudo de latim e grego na maioria das escolas, a dificuldade de absorção e compreensão de palavras que contenham radicais e/ou afixos provenientes dessas línguas é inconteste.
Para ilustrar essa dificuldade, segue um belo exemplo do étimo que nos apresenta o programa “Alô Escola” da TV Cultura de São Paulo:
“Família etimológica – ‘atravessar’ e ‘travesseiro’”
Será que as palavras ‘atravesso’ e ‘travesseiro’ têm algo em comum? Confira na letra abaixo, extraída da canção “Garganta”, de Ana Carolina:
“minha garganta arranha a tinta e os azulejos
do teu quarto, da cozinha, da sala de estar
venho madrugada perturbar teu sono
como um cão sem dono me ponho a ladrar
atravesso o travesseiro, te reviro pelo avesso
tua cabeça enlouqueço, faço ela rodar
atravesso o travesseiro, te reviro pelo avesso
tua cabeça enlouqueço, faço ela rodar...”
“Atravesso o travesseiro”, diz a letra. As palavras ‘atravesso’ e ‘travesseiro’ não são apenas parecidas como possuem uma origem comum: a idéia de algo posto de través, atravessado. O travesseiro recebe esse nome justamente porque fica atravessado em relação ao colchão.
Como a Etimologia é o estudo da origem das palavras, por meio dela, podemos descobrir palavras que possuem a mesma raiz, que partilham a mesma origem. Termos como ‘atravessar’, ‘de través’, ‘através’, ‘travesseiro’ e tantas outras pertencem a uma mesma família, isto é, a uma mesma família etimológica.
Outro belo exemplo de evolução lingüística apresenta-nos o eminente filólogo Antônio Houaiss, em seu Dicionário Eletrônico, sobre os verbos SER e IR que, por sua complexidade, tanto confundem e intrigam os estudantes da Gramática Normativa:
SER
Latim sedèo,es,sédi,sessum,sedére “estar sentado, assentar-se, ficar sentado”, fundido com formas do verbo latino esse “ser”; da idéia original de “estar sentado” passou à de “ser”; Século XIII eran, Século XIII fui.
IR
Em português o étimo deste verbo é bem complexo. Estão na base de sua constituição três radicais verbais que, do ponto de vista do latim, eram absolutamente isolados entre si, verbo vado,is,vadère, verbo eo,is,íre e fui, perfectum de esse; com os dois primeiros radicais conjugam-se as formas do presente do indicativo, pretérito imperfeito do indicativo, futuro do presente, futuro do pretérito, presente do subjuntivo, imperativo afirmativo e negativo, infinitivo, gerúndio e particípio, com a seguinte distribuição: radical de vadère, presente do indicativo exceto da 2ª.p.pl., presente do subjuntivo, 2ª p.s. imperativo afirmativo, imperativo negativo todo; radical de íre, 2ª p.pl. presente do indicativo, pretérito imperfeito do indicativo, futuro do presente, futuro do pretérito, 2ª p.pl. imper. afirmativo, formas nominais, inf., gerúndio e part.; com o rad. fu-, de esse, conjugam-se pret.perf.ind., pret.m.-q.-perf.ind., pretérito imperfeito do subjuntivo, futuro do subjuntivo; Em 944 uai, Século XIII ir.
Este livro, portanto, não substitui o Dicionário Etimológico, já que não trata a evolução; é, sim, material de instrumentalização.
Passemos a outro exemplo, agora com prefixos: quando se pretende compor um texto e surge uma dúvida quanto ao emprego correto do prefixo, o que fazer? Como saber que imoral não é o mesmo que amoral? De fato é difícil uma resposta sem estudo aprofundado. Vamos entender.
O prefixo i(n) indica negação ou sentido contrário; já o prefixo a significa ausência. Ocorre que a moral – não confundir com o moral: “ânimo, disposição, vontade” – representa “o conjunto das nossas faculdades morais; brio, vergonha.”, segundo o Dicionário Aurélio Século XXI. Imoral é o sujeito contrário à moral; desonesto; libertino, desleal; porém, o sujeito amoral é o que não tem o senso da moral, ou seja, se não segue os padrões normativos, provavelmente, não o faz de forma premeditada, agressiva, mas por ignorância ou desconhecimento desses mesmos padrões. Então a qual dos dois poderia ser aplicado o prefixo anti? Como o prefixo grego anti representa uma ação contrária, não parece certo dizer antimoralidade com sentido de amoralidade, mas sim imoralidade.
Como se pode perceber, esse estudo é complexo, mas prazeroso. A cada descoberta, um novo sorriso de vitória, com a certeza inequívoca da evolução. Para auxiliar nesse aprofundamento, seguem listas de radicais, prefixos e sufixos gregos e latinos que servirão de base para sua pesquisa e conseqüente desenvolvimento lingüístico.
Bom estudo!
O autor
(do livro - Etimologia - a origem, de Nelson Maia Schocair)