O AMAR COMPARTILHADO

“Somente se concede validade à figura do padrinho (para o menor impúbere), se ficarmos dentro da etimologia da palavra: em lugar do pai, fazendo com muito amor as obrigações deste; nunca esquecendo que o padrinho não substitui o pai. Apadrinhar é proteger, defender, ter conduta tutorial, mesmo que não haja ocorrido a orfandade. Não se deve aceitar esta função social somente por investidura ou lisonja. Na vida, permanecem afilhados aqueles que se pretendem e aceitam como tal – depois de donos de si. Ao padrinho só resta ficar feliz com esta possibilidade de exercício dos dotes de confraternidade, mesmo que o tempo e o distanciamento tenha se encarregado de macular a convivência. Neste caso, deve se proteger como relíquia os bens amorosos que ficaram na memória...” Joaquim Moncks, in “DOS AFILHADOS”.

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/4385996

– Marilú Duarte, via e-mail, em 13/07/2013:

Por que os indivíduos estão se tornando cada vez mais distantes e frios? Por que os relacionamentos estão tão frágeis e inseguros e independem necessariamente da consanguinidade? Não basta ser pai ou mãe, é preciso antes de tudo exercer a fraternidade. Mas, afinal de que forma é possível exercê-la? Estaria o fraterno apenas presente nas relações familiares ou também em grupos de irmandades que exercitam a convivência equilibrada e principalmente partilhada com os mesmos objetivos? Fraternidade é tudo isso e muito mais, pois o afeto e amor demonstrados pelo próximo, independe do contato ou do conhecimento e vínculo. Pesquisas neuro-científicas e psicológicas vêm demonstrando que a fraternidade é o segredo para que o indivíduo atinja a felicidade. Isto significa que não são os atributos figurativos ou reais do ser pai, mãe, ou padrinho, que validará a investidura e o resultado de sua influência na vida de outro ser. Mas sim a forma como se processa a fraternidade, que nada mais é do que respeitar o outro como um ser livre e igual em dignidade e direitos. Ser fraterno é agir com a razão e a consciência revestido por essa simbologia, que é um estado de espírito nobre e elevado, proveniente de um viver consciente, baseado em ações positivas que geram a harmonia e a coerência entre o pensar, o sentir e o agir. Não há como substituir um pai ou uma mãe, em razão do vínculo genético e psicológico que envolve a relação, mas há como transformar vidas, com a prática da fraternidade. Nos anos 80 foram introduzidas as técnicas de neuroimagem nos laboratórios de psicologia, passando a ser estudado o cérebro em função da felicidade. Ficou constatada sua relação direta com a fraternidade, ou seja, com a empatia, a compaixão e o altruísmo. Aliás, entre as relíquias guardadas na memória, me vem à mente a assertiva do filho do grande arquiteto do Universo: "amai-vos uns aos outros"! Não seria esta uma forma de apadrinhamento e proteção incondicional, onde ficam evidentes as questões relativas ao amor partilhado?

– Do livro O IMORTAL ALÉM DA PALAVRA. Joaquim Moncks / Marilú Duarte, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4389047