A IDENTIDADE DO ESCRIBA

“A percepção do poema é uma coisa, a sua apreensão intelectiva é outra. A intensidade do sentir e o significado da proposta contida no poema estarão na razão direta de cada leitor-receptor, de seu patamar de sensibilidade e o de intelecção. Por ser um ‘condenado a pensar’, nunca me satisfaço com o "sentir" à flor da pele – a comoção advinda de pronto. Seja no lírico-amoroso, em outras espécies de poesias, e até no épico-histórico. E é óbvio que a produção de sensações é diversa, pessoa a pessoa. Gosto, no entanto, do "estranhamento" que especialmente o gênero Poesia me causa. E eu a descubro assim – despida – num primeiro momento. Depois, a intelecção me induz ao conteúdo... Se ambos os momentos me conduzirem ao “alumbramento” – abrirem-se em mim dando novo sentido ao que está aparentemente posto – a Eterna Arte se perfez como VERDADE. Não a do autor, mas a de seu alter ego criativo, que pode ser o FINGIDOR, como denuncia Pessoa em sua "Autobiografia"... Joaquim Moncks, in O SENSORIAL E O COGNITIVO.

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/4382789 “

– Marilú Duarte, via e-mail, em 11/07/2013.

Como podemos definir percepção? Poderíamos dizer que é a nossa estrutura fisiológica somada a nossa experiência pessoal. Na verdade, não somos um receptor passivo, por isso selecionamos e discriminamos os estímulos, que são vistos ou sentidos de forma totalmente diferenciados por um terceiro, porque cada um tem a sua prioridade de seleção e um processo interno, na comunicação interpessoal. A percepção é impressa e absorvida pelo resultado do contexto sócio-cultural em que vivemos e recebe influência da personalidade, motivações, interesses, expectativas, atitudes, enfim, uma série de fatores relativos ao nosso modo de ser e viver. Certamente que o "sentir" à flor da pele é uma excelente estratégia que reúne ferramentas valiosíssimas para que não façamos de nossa vida um script ou um piloto automático, ou o pior: um subproduto do instinto de sobrevivência e reprodução. Somos condenados a pensar... Porque pensamos na condenação de um ontem que através de experiências mal resolvidas, conflitos não elaborados e faltas não preenchidas, fazem com que o mais atingido seja o alter ego que nos habita, e que assume por vezes, diferentes e surpreendente identidades. Por vezes, a carga de agressividade que vem sendo acumulada pelos anos é tão intensa e insuportável, que o faz revestir-se de uma máscara de supervalorização narcísica ou de uma baixa estima surpreendente e assustadora. O nosso inimigo não é o outro, mas sim o “Eu” que não percebemos e conservamos simuladamente dentro de nós. O estranhamento não é o surpreender-se com reações inadequadas, mas com o fingimento do sentir, sem que efetivamente se sinta. Marilú.

– Do livro O IMORTAL ALÉM DE SI PRÓPRIO. Joaquim Moncks / Marilú Duarte, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4384606