Sobre Culpar os Pais
É sempre complicado assumir a responsabilidade pelos nossos próprios erros e atrasos na vida. Quando muito jovens, alguns tendem a culpar os pais pela maioria de seus desacertos - e durante algum tempo, a psicologia vem contribuindo para que isto aconteça. Apesar de jamais desconsiderar a importância da psicologia no processo de autoconhecimento, acredito que inúmeras vezes ela tem criado rótulos que em nada o facilitam.
Durante a infância, as impressões que vão ficando marcadas em nós podem ser muito importantes para ajudar a definir que tipo de adultos nós seremos; mas a qualquer momento, cada um deve ter a responsabilidade de escolher o próprio caminho e segui-lo sem a necessidade de culpar os pais, a escola, a sociedade ou as condições de vida pelo seu insucesso.
Vemos, muitas vezes, irmãos que foram criados sob as mesmas condições de vida (favoráveis ou não); enquanto alguns obtém sucesso e atingem seus objetivos, outros entregam-se ao exercício da lamentação e passam a responsabilizar os pais e as condições de vida por suas frustrações. Ora, se foram criados sob as mesmas condições, por que um deles atingiu o sucesso e o outro não? Não seria uma questão de esforço pessoal e dedicação?
Quando os filhos utilizam-se dos erros dos pais a fim de justificar os próprios erros, não percebem que, além de estarem sendo desrespeitosos em relação aos seres humanos que os pais são - pois sendo humano, quem não comete erros? -, na verdade, eles (os filhos) sabotam a si mesmos. Usam como desculpa para a inação o fato de que não tiveram bons exemplos a seguir; ora, exatamente por estarem conscientes deste fato, não teriam os filhos mais motivos para tentarem usar o que chamam de "a má vida dos pais" como um exemplo para melhorarem as próprias vidas?
Culpar os outros pelo seu próprio fracasso é como culpar a Deus porque choveu no dia do pic-nic. Não faz sentido. Apesar de muitas vezes, a convivência com os outros afetar as nossa vidas, somos nós quem temos a responsabilidade de fazer as nossas escolhas. E o tempo passa; se deixarmos para mais tarde, estaremos perdendo um tempo precioso!
Ninguém vem para a vida com a intenção de errar. Todos nascemos e vivemos desejando fazer escolhas certas e sermos felizes, e acho que mesmo quando nós erramos, temos o direito de refazer o caminho, consertarmos nossos erros e seguir em frente. Acredito que uma das coisas mais tristes para um pai ou uma mãe, é quando um filho os despreza, apontando os erros que eles cometeram (e dos quais tentam poupar o filho ingrato), e escutam-no dizer em tom de condenção: "Mas quem é você para julgar-me?"
Se eu fosse a mãe, responderia:
"Eu sou sua mãe! Sou a pessoa por quem você deveria mostrar consideração e respeito, a pessoa que mais deseja a sua felicidade nesse mundo, e que jamais, em qualquer ocasião, seria capaz de agir de forma a desejar-lhe qualquer mal. Eu sou a mulher que o trouxe ao mundo, e quando eu deixá-lo, quero ter a certeza de que você será capaz de viver bem sem a minha presença, sabendo que eu o encaminhei bem na vida, e que contribuí para que você fosse uma pessoa de bem. Uma pessoa muito mais feliz e capaz do que eu mesma fui. Uma pessoa bem melhor do que eu."