"Quando Anjos nos Visitam"
Li "Sobre a Autora", "Nota da Editora" e "Apresentação" do doutor Celso Panza - aliás inspirada como um abraço de luz. Esplendor puro.
Dos 15 trabalhos deste E-livro, comento alguns:
"Acorrentado": Heresia seria passar por este texto sem nada dizer. Perguntas da poetisa, questionamentos de quem percebe que nem tudo são arrebóis floridos e anjinhos pairando.
Estrofe estupenda:
"Pois um anjo verdadeiro
Voa, sem a pretensão
De chegar ao paraíso,
Pois o leva dentro em si."
Soluções estilísticas satisfatórias.
Sugestões minhas: no fragmento "Pois a oração de um anjo / Transcende toda a palavra," talvez - talvez, eu disse - ficasse melhor assim: "Transcende a toda palavra".
E adiante: "É a flor do sentimento / Brotando de alma para alma..." também caberia "Brotando de alma em alma..."
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"Alma Penada": Anna interpretou com realismo como deve se sentir a alma de alguém que se foi e não teve coragem para abandonar o lar onde viveu. Interpretou sem piedade, sem mãos amigas, sem qualquer luz redentora: apenas com as ofuscantes trevas da verdade, da realidade. O poema nos faz parar e pensar (um dos atributos de um bom texto): pensar nas ilusões desta vida, nas aparências que tanto nos confundem, nos eventos que jamais admitimos como possíveis ou reais...
A autocrítica da personagem, dissolvida em névoa fúnebre, só veio no além-túmulo. Aí já não há o que consertar, nem como consertar. E porque consciente, pensante, esse espírito sofre, e se lamenta, e possui expectativas, esperanças, sonhos, vontades... E decepções. O poema diz sem dizer:
"Gente, olha o pé no chão, a lógica das coisas, as atitudes certas - porque tudo passa! Olha a pá de cal! Cuidado! Vivamos bem!”
Um texto maduro, sem ilusões ou alegrias; seco, direto, objetivo, inegável como uma foto ou um fato...
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"Amargos Desejos": Este trabalho relata a respeito de um ser humano de olho maior que a barriga, olho gordo mesmo, querendo abarcar o mundo com as pernas, desejando pegar tudo de todos. Anna quase o chama de "burro" (ou melhor, chama, sutilmente).
Um ser que tem consciência "Das garras do nada", porém ignora isto e continua desejando não apenas manipular tudo de todos, com suas mãos e olhos sinistros, obscenos, pegajosos, mas até mesmo assumir essas formas todas que Anna descreve. Assumi-las, nuance por nuance, cor por cor, som por som... Uma figura definitivamente nociva ao mundo. Ambição das ambições. Semelha aquele patife que, já que não pode tomar posse de uma colina, um bosque, um prado, põe fogo neles. Destrói tudo, inapelavelmente. Filho da puta.
Entretanto, alguma coisa neste texto não convence. Falta algo. Talvez reescrevê-lo, elaborá-lo melhor, acalentá-lo mais, torná-lo excelso.
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"Dimensão": A magia da noite, seus mistérios e seu poder psicológico exercem sobre nós uma pressão, mista de medos, receios, temores e vênia reverencial, perturbando, intimidando e forçando o aprofundamento de reflexões e perdões, frustrações e lembranças, olhares e partidas... Suplício consentido, canção revisitada, essa penumbra nos acolhe e protege, surpreende e consola, anima e faz sorrir.
Puxa, falei bonito, não?
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"Dimensão": A magia da noite, seus mistérios e seu poder psicológico exercem sobre nós uma pressão, mista de medos, receios, temores e vênia reverencial, perturbando, intimidando e forçando o aprofundamento de reflexões e perdões, frustrações e lembranças, olhares e partidas... Suplício consentido, canção revisitada, essa penumbra nos acolhe e protege, surpreende e consola, anima e faz sorrir.
Puxa, falei bonito, não?
Só lembro que as palavras acima, minhas, decorrem das palavras da Anna Bailune, motivadoras, provocadoras, primaveris. Se brilhei verbalmente, o brilho é dela, de seus versos verdes, montanhosos, passarais, em expansão - versos-auroras.
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“Distâncias e Silêncios”: outra abordagem do tema “inconsciente”, “alma”. Uma abordagem líquida, brisal, valorizando a vastidão oceânica entre os seres. Poema de uma alma armada, em combate. Poema muito superior a este mísero comentário meu.
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“É na alma”: Tentativa de definir, explicar e até situar geograficamente o próprio espírito:
"Esse lago que não seca,
A escritora dá outro nome - alma - ao intelecto, ao aspecto racional da mente, que formula e expõe pensamentos e sensações, verbalizando-os. Ela discorre sobre escuridão, caminhada, despertar, revelação, ascensão, cachoeiras, miragens, cores, gestos... Só não falou em destino.
Aliás, falou: a trajetória do seu ser em busca da composição literária perfeita, a sua ânsia de viver em criação, em transe, em êxtase artístico (fado inefável). Tudo destino.
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“Distâncias e Silêncios”: outra abordagem do tema “inconsciente”, “alma”. Uma abordagem líquida, brisal, valorizando a vastidão oceânica entre os seres. Poema de uma alma armada, em combate. Poema muito superior a este mísero comentário meu.
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“É na alma”: Tentativa de definir, explicar e até situar geograficamente o próprio espírito:
"Esse lago que não seca,
Que não seca jamais."
Descrição do ato criador, das origens abissais ao nascimento da obra de arte.A escritora dá outro nome - alma - ao intelecto, ao aspecto racional da mente, que formula e expõe pensamentos e sensações, verbalizando-os. Ela discorre sobre escuridão, caminhada, despertar, revelação, ascensão, cachoeiras, miragens, cores, gestos... Só não falou em destino.
Aliás, falou: a trajetória do seu ser em busca da composição literária perfeita, a sua ânsia de viver em criação, em transe, em êxtase artístico (fado inefável). Tudo destino.
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"Fica pra Você": Amargura inglória, desdém perfumado, social, solene. A poetisa empurra para os abismos da vida esse personagem ingrato, que não soube ou não sabe mais entendê-la e amá-la. Autêntico orgulho feminino em ação.
Poema de duvidosa qualidade literária. Faltou fúria poética, que correspondesse ao seu ódio sagrado.
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"Meu Erro": Ira e tormento ao abordar e descrever a própria alma e suas mil utilidades, como um armazém de sentimentos expressáveis em arte. Transe, agonia, aflição, paroxismo, alívio, paz, alegria ao concluir seus pensamentos líricos feitos versos. Anna fala e cala, delira e pondera, abraça e dá adeus, suplica e vaderetra solenemente, miseravelmente, ardentemente, perdidamente nessa pequena viagem sua, nossa, comum.
“Meu Erro” trata de sonhos desfeitos, ânsias devolvidas intactas, mãos ainda em espera. Trata da autora tentando reunir os cacos dos seus íntimos vitrais, tão partidos quão dolorosos. Mais ou menos isto. Ou melhor: bem mais que isto.
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"Noite": Parece uma maldição lançada contra alguém impassível, sem sentimentos, como uma estátua - alguém que magoou de forma inapelável a autora. Como Anna não sabe matar, "mata" literariamente esse alguém. Ódio exposto. Frustrações sublimadas. Essa pessoa possui (ou já possuiu) intimidade com ela:
"Teu desgosto me acorda,
Me mantém alerta, à porta".
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“O Lobo”: Este poema parece um texto desconexo, ilógico, simples exercício estilístico, apontamentos para um futuro poema, esse sim "de verdade"... Pura ilusão. Ele é tão intempestivo, tão "incoerente", tão sincero quanto a alma humana, quando se expõe integralmente, quando se posiciona sem pensar em consequências, em questionamentos, em perguntas lógicas alheias...
Um grito ancestral, sitiado por medos e expectativas. Assim entendi esse lobo-gente, esse lobo-nós. Ele representa o nosso inconsciente, que tememos e amamos. Tão selvagem como nós, e ainda assim sonho nosso.
Sentimentos mais secretos, pungentes, alados.
Lobo: a inocência feroz.
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"Passos Amarrados": Singela queixa em forma escrita, joia verbal plena de sabedoria. Constatação das mil fugacidades de um relacionamento. Poema sincero, simples, graça pura.
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"Se Soubéssemos": Poema ponderado, prudente, cauteloso, inspirado, simpático...
Mostra uma Anna amante, odiante e seus mil sonhos anônimos, fugazes, remotos...
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"Título": Novamente a ironia indignada, o desprezo canônico por alguém e suas atitudes canalhas.
Esse poema, na verdade, é uma metáfora mal escrita, rudimentar: pedra bruta, não calça rua alguma, não seduz nem sensibiliza ou deleita. Matéria-prima, potencial ele tem; mas só, por enquanto. E um séquito de versos ingênuos, desversos, não-versos, acompanhando, seguindo alguns versos reais, iluminados, majestosos.
"Alma Penada", "Dimensão" e "Título": valem para eles os mesmos aplausos do "Se Soubéssemos". Uma aula de alma.
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Bibliografia:
Série 15 Poemas+, Volume I: Ana Bailune.
Apresentação: Celso Felício Panza. 1ª Edição,
Helena Frenzel Ed. Copyright © 2013
Edição deste volume (usando o iBooksAuthor):
Helena Frenzel.
A grafia dos textos foi mantida como nos originais.
Direitos reservados à editora.
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