A Vida como ela é - Parte I: Superficial.
Hoje, acordei vendo a vida e concluí: é superficial.
Não sei o porquê, só refleti a respeito e, assim, concluí. Por lógica, por metafísica, por crença, por conhecimento, por chute: superficial.
Talvez, durante o sono, minha alma tenha se desprendido da carne, tal qual Platão nos avisou... que isso, quando acontece, nos permite refletir melhor sobre quem somos, o que fazemos, onde estamos e onde vamos, e mais outras infinitas questões que ecoam na mente de todos, sem resposta alguma de lugar nenhum.
Vivemos numa rotina, vemos o Sol surgir, estar a pino e se pôr sobre nossas cabeças.
Usamos as roupas que todos usam, lemos os mesmos livros, vemos as mesmas coisas.
Todos nós possuímos computador, celular, bens materiais.
Todos nós juramos, mentimos, falamos a verdade, ignoramos, damos atenção... isso, quando convém.
Vivemos entre o sim e o não, entre a resposta e a questão, entre a libertinagem e a religião.
E que sentido há em ser uma coisa ou outra? Ou em ser em cima do muro?
Qual o sentido de se viver, periodicamente, a mesma coisa?
Sinto que cada gota de meu vigor se vai desde muitos anos atrás...
...e não há mais como recuperar.
Entretanto... será que precisei passar por lá, para chegar até aqui? Será que não havia outros caminhos, possibilidades, alternativas, outras vias a prosseguir?
Não há resposta.
Talvez, a vida seja superficial porque, nós, assim desejamos. Desejamos estabilidade e rebeldia, fúria e paciência, sexo e pureza.
Prosa e poesia, ensaio e doutrina, prática e teoria.
Como aliar os dois lados? É possível?
E cada pingo de vigor de vida corre entre os dedos da minha alma.
O mesmo vigor de conhecimento não é o mesmo de prosseguir em mesmice. O que desejo, desejo em mente, mas não realizo no dia. O que anseio não vejo despertar ao lado do meu lamento.
E, hoje, mais uma vez... se pôs o Sol sobre meu eu.
Salomão, o mais sábio de todos, disse que a vida é vaidade. Tudo se vai, nada fica. Só a lápide, a memória dos que conhecem alguém, e o nome na História.
Se vivemos a vida em vão, se vivemos uma vida tão superficial, como lidar com a Morte, quando ela vier? Se ela vier e acertar o alvo?
Se há algo de errado, haverá como consertar? Se tudo é superficial, conheceremos o profundo antes de descansar?
Ou a Morte é o portal para o Profundo?
Não há resposta.
Ás vezes, gostaria de ser alienado, ignorante. Parece ser o lugar mais confortável, ao invés de se deparar perante uma vida monocromática, cinza, entre a multidão e a solidão.
Porém, não teria forças. Minha alma e consciência dizem para me conhecer mais, conhecer mais coisas, conhecer mais autores, conhecer mais lugares, conhecer mais a vida...
...como uma tentativa desesperadora de sobrevivência.
Mas... uma hora, terei que enfrentar o teste do tempo... e parar.
E parar... sem descobrir se, a vida, é superficial porque ela é ou porque assim o quis que fosse...
Em verdade... o meu grande medo é viver... por viver.
Por favor, me diga que estará lá...
...em meu crepúsculo...
...em meu... amanhecer.