O CASULO COMPARTILHADO

“Quem está no casulo deste cantar é aquele que abdica das coisas rasas e comuns para poder conversar com o alter ego sobre a imantação da criatura humana, suas atribulações e afetos. Afinal, são quarenta anos de Poesia. Dez livros editados, desde a década de 70. E como és a musa que, de somenos, me invade os olhos, talvez possas imaginar mariposas e borboletas pousando suas larvas, feito o canto de um canário, ainda que pássaro triste, em seu solilóquio musical. E tudo dentro de mim... A linguagem poética é dominadora. Faço força pra que não me ocupe por inteiro, e tenho medo, por vezes, que seja alçado do chão para o etéreo, como o pássaro que gorjeia aos olhos e ouvidos. Mais do que cotidianamente preso, a saltitar dentro do espaço diminuto do viveiro, e, sim, curtindo a liberdade da brisa – o canto liberto que transpassa a memória e o riso descolado do momento em que se aparenta a felicidade borrifada pelo mistério... Joaquim Moncks, in O CANTO LIBERTO.”

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/4348860

Amigo Moncks! Acabo de chegar do Seminário sobre o pelotense Lobo da Costa, da geração romântica, séc. XIX, do qual participei realizando um perfil psicológico deste grande e apaixonante poeta. Foram momentos incomparáveis, repletos de ternura e de encantamento. Sinto-me em estado de graça. Creio que Francisco Lobo da Costa, homem e poeta, foi dignamente defendido, ao ponto de ser-lhe concedida a “soltura”, e, um século e meio depois, perdoado pela mesma sociedade que o crucificou em épocas passadas, por avesso às estampas fixas do real. Ao deparar-me com tua mensagem, fiquei novamente em transe. O etéreo das tuas palavras apresentam teorias que os nossos “doutores da mente” ficariam por certo estarrecidos. Mutualidade posta, o desejo se insinua e se prostitui, entregando-se à vontade que, reconfortada pela fantasia, um tanto provocativa, desnuda-se sem o menor pudor. Eis que o casulo, onde se ocultam as relações reais, simbioticamente se entrelaça e se abraça no desconforto de um alter ego, deslumbrado com o “poder ser”, sem ter sido um dia. É como o regurgitar de afetos, indiscriminados, amassados, recosturados no vínculo do vir a ser. Ah! Ter todos os sonhos do mundo; ter Fernando Pessoa no sonho, ter sonhos na fantasia do tudo... Borboletas, brancas e azuis, possuindo-te por inteiro, sobrevoando o verde do sonho que ainda não floresceu. Alter ego, a identidade dissociada no transtorno ou o transtorno dissociativo de identidade? Quem sou? Quantos “eus” existem em mim? Mistério é o pássaro preso no casulo, o esconderijo das asas, a possibilidade de voar... A palavra me possui e eu morro inteiro, enquanto me desfaço em todos os “eus” que me habitam. Marilú Duarte.

– Do livro O IMORTAL ALÉM DE SI PRÓPRIO. Joaquim Moncks / Marilú Duarte, 2013.

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