Mini-ensaio sobre o desapego

Segundo a teoria do existencialismo, o desapego é uma extensão da inteligência e capacidade de auto-controle. E inteligência, nesse contexto, é entendida como o ato de pensar em algo além da situação ou do objeto. Saber reconhecer a finitude das coisas nelas mesmas.

Já o auto-controle é a capacidade de reter ansiedade e não desejar gratificação mais do que a experiência. Resumindo, desapego não significa se importar menos, mas ter um critério de seleção do que é importante. Porém, o que torna o desapego difícil de entender é a sua semelhança com a alienação e a falta de cuidado, sendo confudido até mesmo com indiferença.

A valorização da liberdade alheia é difícil de ser praticada. Apesar de ser senso comum que ao ser amado só desejamos o bem, se esse “bem” involve o amadurecimento do outro através de experiências fora do cotidiano da relação é preciso vencer a desconfiança e o sentimento de importância da relação diminuída. Só assim o bem será, de fato, exercido.

Lidar com o desapego alheio é um exercício de auto-controle, e lidar com o próprio desapego é um desafio social. Dizer não às distrações da vida e à obsessão do companherismo para uma hora sequer de silêncio, reflexão ou estudo, é algo cada vez mais difícil na sociedade em que nada deve ser privado ou secreto.

Desapego não é alienação espontânea, mas a necessidade de expandir o pensamento e refletir sobre conceitos ou elaborar um processo criativo. Sendo assim, o desapegado não só beneficia o próprio intelecto, mas a relação dele com os outros.