A desgraça alheia como forma de espetáculo
O humanitarismo, muitas vezes acabou produzindo um direito de intervenção onde o indivíduo é considerado apenas um corpo biológico, cuja existência deve ser garantida contra a fome, epidemias ou catástrofes naturais”.
O direito a vida virou um produto no final do Séc XX, graças à despolitização e moralização generalizada da sociedade.
A universalização dos direitos dos homens é uma afirmação simpática quanto problemática. Com certeza não se trata do mesmo sujeito citado na Declaração dos Direitos Humanos aprovado na Assembléia Nacional da França em 1789.
Nos dias atuais o povo aparece passivo diante de um marketing emotivo. Na verdade a maioria das pessoas não se vê como vítima, mas como um indivíduo confortado com um drama.
A intervenção humanitária passou a ser vista como uma cortina de fumaça criadora de confrontos políticos. Não é de hoje que se passou a questionar ações de ONGS e militares. A parte essencial de todo esse problema está na falta de legitimidade política.
A ação humanitária utiliza de maneira abusiva as mazelas alheias como espetáculo, sendo campo estratégico para os governos, porque junto com os médicos vão os militares.
O humanismo tornou-se o espaço de políticos demagogos. A mídia também criou o seu espetáculo através da infelicidade dos outros.
O séc XXI deverá continuar gerando inúmeros problemas naturais e econômicos. Nesse vulcão, muito profissionais tentam evitar o pior. O que fazem é útil e generoso, porém não é a solução. A ideologia humanitária contribuiu para eclipsar o desenvolvimento substituindo-o pela luta contra a pobreza.
Através da mercantilização da vida, encontramos vencedores bem-sucedidos de um lado e doentes ou refugiados dos outros. Contribui-se para gerar uma especíe de Apartheid planetário. No melhor dos casos, a sensibilidade humanitária produz indignação. Mas impede a rebelião.
Sintese do artigo (Espetáculo da desgraça alheia – Le Monde Diplomatic Brasil).