A BARBA DE AARÃO
“Oh! Quão bom e quão suave, é viverem os irmãos em união! É como um azeite precioso derramado sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Aarão, e sobre a orla dos seus vestidos. É como o “orvalho do Hermon, que desce sobre o Monte Sião. Porque o Senhor derrama ali a sua benção, a vida para sempre..” Salmo 132 (0u133)
Quão bom e suave é viver na doce união.
Isso é como orvalho do Monte Hermon,
Que desce sobre a negra barba de Aarão
E molha a orla dos seus santos vestidos.
Assim é que a fraternidade é consagrada,
Na paz que nasce da maravilhosa união,
Na alegria duma egrégora compartilhada,
Onde a verdadeira argamassa é o coração.
Dessa forma consolidamos a fraternidade.
E a sociedade vai conservando seu valor,
Na igualdade que é o alicerce da liberdade.
Pois a moeda da nossa pátria é a verdade;
E o indissolúvel laço que nos une é o amor,
O amor que nasce da verdadeira amizade.
A essência da união fraternal
Por que será que os maçons escolheram o salmo 133 (ou 132 na versão católica) para abrir a Loja Simbólica dos Aprendizes? Será somente por que ele consagra a união fraternal, que a Maçonaria prega como essência da sua prática, e virtude fundamental do seu catecismo, ou haveria outros ensinamentos iniciáticos por trás desse curioso simbolismo?
Nós acreditamos que sim. A abertura das seções da Loja de Aprendizes com esse belo poema salmódico visa, em primeiro plano, consagrar o princípio da união entre os espíritos congregados em Loja. Essa união proporciona a formação da necessária “egrégora” que capta a energia do grupo ali congregado e a dirige para a obtenção do resultado desejado.
Mas para além disso, esse salmo tem um significado simbólico de extraordinária magnitude que muitos poucos Irmãos conhecem. Ele vai além da mera invocação ao princípio da união fraternal, tão almejado pela Irmandade maçônica.
Na verdade, o salmo 133 (ou 132) pode ser entendido como um poderoso mantra que elicia energias poderosas. Por isso ele é cantado amiúde em cerimônias e reuniões da religião judaica desde tempos imemoriais, sendo crença da maioria dos judeus que esse poema tenha sido composto pelo próprio Rei Davi, como aliás é informado na própria Bíblia.
Essa, todavia, é uma informação difícil de se comprovar, pois esse salmo se fundamenta num simbolismo arcano de profunda significação nas doutrinas esotéricas desenvolvidas pelo povo judeu. Ele se fundamenta no poder dos pelos do corpo humano como elemento captador e irradiador de energia. Por isso, no ritual praticado pelos judeus, na consagração dos seus sacerdotes, o “o óleo precioso (óleo ritual) é derramado no alto da cabeça e escorre pela barba, molhando toda a orla das vestes sacerdotais.” Dessa forma, na figura do sacerdote, todo o grupo que ele representa é ungido.
Esse ritual, entretanto, não é exclusivo da cultura judaica. Haja vista que em todas as antigas civilizações, havia uma especial referência pelo cultivo de uma barba, pois ela era, na crença desses povos, o símbolo da majestade e do poder que a divindade conferia ás pessoas significativas dessas antigas sociedades. Daí sempre encontrarmos entre os reis, sacerdotes e pessoas de poder, indivíduos com barbas cultivadas com tal arte, que só podemos pensar numa obrigação ritualística a justificar tais cuidados. Essa característica é notável principalmente entre os potentados orientais (na Índia e Mesopotâmea principalmente), onde os reis e seus homens de poder, na política e na religião, ostentavam barbas fartas e bem cuidadas. Ela é notada também nos velhos patriarcas e juízes bíblicos, onde a barba e o cabelo eram símbolo de poder e majestade. O caso de Sansão e dos nazarenos (pessoas consagradas a Deus desde o nascimento) era uma típica aplicação desse simbolismo.
O próprio Jesus Cristo, segundo algumas tradições, era nazareno. Não porque tivesse nascido em Nazaré, pequena aldeia situada na Baixa Galiléia, mas sim porque seus pais tinham feito a profissão de fé dos nazarenos, que era a tradição de ofertar ao Deus do país o seu primeiro fillho. Assim, esse filho era considerado um eleito, um consagrado a Deus, e seus cabelos não podiam ser cortados.[1]
Até os faraós egípcios, cuja estrutura biológica e ambiente climático não lhe favorecia com uma fartura de pelos no corpo, sempre apareciam, nas solenidades públicas e nas celebrações ritualísticas, com uma barba falsa, na forma de um cavanhaque de madeira, que fazia parte da sua indumentária ritual. Consagrava-se, assim, no uso da barba e do cabelo, uma tradição mística de grande importância para os antigos, e que ainda hoje tem larga utilização entre os povos orientais.
Máscara do faraó Akhenaton usando a barba falsa
A barba de Aarão
Para os israelitas esse simbolismo fazia parte da sua tradição religiosa e cultural. Nas crônicas bíblicas do Êxodo e do Deuteronômio, lemos que Moisés consagrou o Tabernáculo na forma como Deus lhe havia ordenado, santificando depois a Aarão, espargindo sobre a sua cabeça o óleo precioso que escorreu para suas barbas e molhou as orlas do seu vestido. Assim, na sagração do Tabernáculo e na unção do seu Sumo Sacerdote, consumou-se a união que doravante deveria existir entre Jeová e seu povo, união essa que seria sacramentada toda vez que o povo eleito se reunisse em Assembléia. Era, pois, numa analogia com a tradição maçônica, a instituição da Loja que ali estava sendo feito, consubstanciada na Aliança que então se consumava entre os israelitas e seu Deus, aliança que, mais que política, religiosa e social, era fundamentalmente simbólica e iniciática.[2]
Na mística de Israel o barbudo Aarão, o levita, era o protótipo do sacerdote ideal, no qual se consumava esse simbolismo. Além de ser o primogênito da família de Anrin, o levita, ele tinha a figura exata do patriarca no qual o Deus de Abraão depositaria a liderança espiritual do seu povo. Isso porque, na tradição daquele povo, o seu Sumo Sacerdote era o elemento unificador entre as realidades do céu e da terra e representava o próprio canal por onde a energia de Deus era canalizada para a terra e distribuída ao povo. Por isso, somente ao Sumo Sacerdote era permitido entrar no espaço reservado ao Santo dos Santos, ou seja, o altar onde a própria energia do Criador estava concentrada e depositada dentro da Arca da Aliança. É nesse sentido que muitos escritores de orientação esotérica dizem que a Arca da Aliança se assemelhava a uma pilha atômica, que conteria uma energia semelhante ao chamado Bósson de Higgs, ou “partícula de Deus”, que segundo os cientistas seria a primeira e fundamental manifestação da energia criadora que deu origem ao universo.[3]
Todas essas informações justificam o fato de Deus, ao invés de consagrar o próprio Moisés como Sumo Sacerdote, ter preferido investir a Aarão nesse cargo, conservando para Moisés a liderança jurídica e política do povo de Israel.
Interpretação cabalística
A Barba de Aarão é um simbolismo muito importante na tradição iniciática do povo de Israel. Esse simbolismo é demonstrado de forma muito significativa nos ensinamentos da Cabala. De acordo com essa tradição, tanto o universo, que representa a imagem do Demiurgo, o seu Arquiteto Construtor, ou seja o Macrocosmo, quanto o corpo humano, que representa o microcosmo, (o homem) são uma projeção física e psicológica das manifestações do seu Criador. Nesse sentido, cada parte do universo, cada dimensão, cada fluxo energético, cada lei natural, enfim, tudo que nele existe como realidade fenomênica é uma manifestação da energia criadora que se espalha pelo vazio cósmico na forma de uma árvore. Essa árvore, chamada Árvore da Vida, ou Árvore Sefirótica, é um desenho mágico do próprio universo, que na sua conformação estrutural é semelhante ao organismo humano com todas suas funções. Ele é gerado a partir de um ponto único (Khetter, a coroa da criação) e se espalha pelo nada cósmico formando uma Árvore (Vasto Semblante) que é o próprio universo, com suas manifstações de vida.
Assim, no Livro do Mistério Oculto ( HADRA RBA QADISHA- A Grande Assembléia Sagrada) temos o misterioso texto que diz:
753 “ (...) existe uma parte venerável da barba que desce, sagrada, venerável, excelente, oculta e conciliada em tudo( a Barba do Macroposopo), pelo óleo sagrado e magnificente, que passa através da barba do Microposopo.”
756. “Essa barba é o elogio, a perfeição, a dignidade e o adorno de todo o Vasto Semblante, e nessas sagradas coisas está oculta e fundada para ser conciliada, e nunca para ser discernida.”
757. “Essa barba é a beleza e a perfeição do Semblante Menor do Microposopo. E encontra-se disposta nele em nove conformações.”
78. “Pois quando a venerável barba do Macroposopo brilha sobre a venerável barba do Microposopo, então as 13 fontes do excelente azeite fluem para baixo, sobre sua cabeça e sobre sua barba.”
759. “E, a partir dali, são fundadas as 22 partes que se estenderão depois nas 22 letras da Lei Sagrada.” [4]
A tradição cabalística ensina que cada membro, cada órgão, cada osso, cada pelo existente no corpo humano cumpre uma importante função na Árvore da Vida do homem, da mesma forma que cada elemento químico também cumpre função fundamental na composição do universo físico. Assim, um e outro (universo e corpo humano) são composições idênticas que seguem as mesmas leis de formação e composição. Entender como um funciona é entender também o outro. Nessa formidável intuição está presente o extraordinário sentido ecológico dessa estranha doutrina, que hoje se sabe, guarda uma formidável analogia com as mais recentes descobertas da física nuclear e da astronomia.[5]
Arvore sefirótica Árvore da Criação Homem vitruviano
O Bóssom de Higgs
Assim, a barba, na Cabala, é vista como sendo o influxo que nasce na primeira Séfora e percorre toda a Árvore da Vida unificando a totalidade das realidades existentes no universo. DE fato, a palavra barba, em hebraico, (Hachad) significa unidade, e por aplicação da técnica da gematria, o seu correspondente numérico é igual a 13. A=1, CH=8, d=4.[6] Esses valores, segundo o Sepher A Zhoar, correspondem às partes da barba do Macroprosopo, o Andrógino Superior ou Vasto Semblante, como a Cabala chama essa representação simbólica da primeira manifestação de Deus no mundo das realidades manifestas. Essa manifestação, por reflexo, gera o Microprosopo, que é a representação do Andrógino Inferior, cuja proporção numérica e geométrica (o homem vitruviano) deu origem ao modelo do homem da terra. Dessa forma, tanto o universo físico quanto o próprio organismo humano seriam uma representação da própria imagem de Deus, o que justificaria a informação constante em Gênesis 1: 27 de que o homem foi criado “à imagem de Deus.”[7]
Essa visão cabalística do processo energético que está na origem do universo material e do mundo das coisas vivas, também é aproveitada nas teses dos antroposofistas e nas doutrinas esotéricas defendidas por Helena P Blavatsky e seus discípulos. Para essas doutrinas, há um “homem do céu e um homem da terra”, ambos construídos com base no mesmo molde.[8]
Assim, o Salmo 132, ou 133, na verdade, é um simbolismo que está centrado em um segredo arcano de extraordinário significado. A Maçonaria, ao adotá-lo na abertura de suas Lojas não está apenas contemplando a idéia da Fraternidade pura e simples, mas realizando o objetivo cósmico de integração total de todas as suas emanações. Trata-se, na verdade, de um mantra poderoso, uma âncora fundamental para o eliciamento da energia cósmica necessária para a formação da egrégora maçônica, como já foi dito.
“Oh! Quão bom e quão suave, é viverem os irmãos em união! É como um azeite precioso derramado sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Aarão, e sobre a orla dos seus vestidos. É como o “orvalho do Hermon, que desce sobre o Monte Sião. Porque o Senhor derrama ali a sua benção, a vida para sempre..” Salmo 132 (0u133)
Quão bom e suave é viver na doce união.
Isso é como orvalho do Monte Hermon,
Que desce sobre a negra barba de Aarão
E molha a orla dos seus santos vestidos.
Assim é que a fraternidade é consagrada,
Na paz que nasce da maravilhosa união,
Na alegria duma egrégora compartilhada,
Onde a verdadeira argamassa é o coração.
Dessa forma consolidamos a fraternidade.
E a sociedade vai conservando seu valor,
Na igualdade que é o alicerce da liberdade.
Pois a moeda da nossa pátria é a verdade;
E o indissolúvel laço que nos une é o amor,
O amor que nasce da verdadeira amizade.
A essência da união fraternal
Por que será que os maçons escolheram o salmo 133 (ou 132 na versão católica) para abrir a Loja Simbólica dos Aprendizes? Será somente por que ele consagra a união fraternal, que a Maçonaria prega como essência da sua prática, e virtude fundamental do seu catecismo, ou haveria outros ensinamentos iniciáticos por trás desse curioso simbolismo?
Nós acreditamos que sim. A abertura das seções da Loja de Aprendizes com esse belo poema salmódico visa, em primeiro plano, consagrar o princípio da união entre os espíritos congregados em Loja. Essa união proporciona a formação da necessária “egrégora” que capta a energia do grupo ali congregado e a dirige para a obtenção do resultado desejado.
Mas para além disso, esse salmo tem um significado simbólico de extraordinária magnitude que muitos poucos Irmãos conhecem. Ele vai além da mera invocação ao princípio da união fraternal, tão almejado pela Irmandade maçônica.
Na verdade, o salmo 133 (ou 132) pode ser entendido como um poderoso mantra que elicia energias poderosas. Por isso ele é cantado amiúde em cerimônias e reuniões da religião judaica desde tempos imemoriais, sendo crença da maioria dos judeus que esse poema tenha sido composto pelo próprio Rei Davi, como aliás é informado na própria Bíblia.
Essa, todavia, é uma informação difícil de se comprovar, pois esse salmo se fundamenta num simbolismo arcano de profunda significação nas doutrinas esotéricas desenvolvidas pelo povo judeu. Ele se fundamenta no poder dos pelos do corpo humano como elemento captador e irradiador de energia. Por isso, no ritual praticado pelos judeus, na consagração dos seus sacerdotes, o “o óleo precioso (óleo ritual) é derramado no alto da cabeça e escorre pela barba, molhando toda a orla das vestes sacerdotais.” Dessa forma, na figura do sacerdote, todo o grupo que ele representa é ungido.
Esse ritual, entretanto, não é exclusivo da cultura judaica. Haja vista que em todas as antigas civilizações, havia uma especial referência pelo cultivo de uma barba, pois ela era, na crença desses povos, o símbolo da majestade e do poder que a divindade conferia ás pessoas significativas dessas antigas sociedades. Daí sempre encontrarmos entre os reis, sacerdotes e pessoas de poder, indivíduos com barbas cultivadas com tal arte, que só podemos pensar numa obrigação ritualística a justificar tais cuidados. Essa característica é notável principalmente entre os potentados orientais (na Índia e Mesopotâmea principalmente), onde os reis e seus homens de poder, na política e na religião, ostentavam barbas fartas e bem cuidadas. Ela é notada também nos velhos patriarcas e juízes bíblicos, onde a barba e o cabelo eram símbolo de poder e majestade. O caso de Sansão e dos nazarenos (pessoas consagradas a Deus desde o nascimento) era uma típica aplicação desse simbolismo.
O próprio Jesus Cristo, segundo algumas tradições, era nazareno. Não porque tivesse nascido em Nazaré, pequena aldeia situada na Baixa Galiléia, mas sim porque seus pais tinham feito a profissão de fé dos nazarenos, que era a tradição de ofertar ao Deus do país o seu primeiro fillho. Assim, esse filho era considerado um eleito, um consagrado a Deus, e seus cabelos não podiam ser cortados.[1]
Até os faraós egípcios, cuja estrutura biológica e ambiente climático não lhe favorecia com uma fartura de pelos no corpo, sempre apareciam, nas solenidades públicas e nas celebrações ritualísticas, com uma barba falsa, na forma de um cavanhaque de madeira, que fazia parte da sua indumentária ritual. Consagrava-se, assim, no uso da barba e do cabelo, uma tradição mística de grande importância para os antigos, e que ainda hoje tem larga utilização entre os povos orientais.
Máscara do faraó Akhenaton usando a barba falsa
A barba de Aarão
Para os israelitas esse simbolismo fazia parte da sua tradição religiosa e cultural. Nas crônicas bíblicas do Êxodo e do Deuteronômio, lemos que Moisés consagrou o Tabernáculo na forma como Deus lhe havia ordenado, santificando depois a Aarão, espargindo sobre a sua cabeça o óleo precioso que escorreu para suas barbas e molhou as orlas do seu vestido. Assim, na sagração do Tabernáculo e na unção do seu Sumo Sacerdote, consumou-se a união que doravante deveria existir entre Jeová e seu povo, união essa que seria sacramentada toda vez que o povo eleito se reunisse em Assembléia. Era, pois, numa analogia com a tradição maçônica, a instituição da Loja que ali estava sendo feito, consubstanciada na Aliança que então se consumava entre os israelitas e seu Deus, aliança que, mais que política, religiosa e social, era fundamentalmente simbólica e iniciática.[2]
Na mística de Israel o barbudo Aarão, o levita, era o protótipo do sacerdote ideal, no qual se consumava esse simbolismo. Além de ser o primogênito da família de Anrin, o levita, ele tinha a figura exata do patriarca no qual o Deus de Abraão depositaria a liderança espiritual do seu povo. Isso porque, na tradição daquele povo, o seu Sumo Sacerdote era o elemento unificador entre as realidades do céu e da terra e representava o próprio canal por onde a energia de Deus era canalizada para a terra e distribuída ao povo. Por isso, somente ao Sumo Sacerdote era permitido entrar no espaço reservado ao Santo dos Santos, ou seja, o altar onde a própria energia do Criador estava concentrada e depositada dentro da Arca da Aliança. É nesse sentido que muitos escritores de orientação esotérica dizem que a Arca da Aliança se assemelhava a uma pilha atômica, que conteria uma energia semelhante ao chamado Bósson de Higgs, ou “partícula de Deus”, que segundo os cientistas seria a primeira e fundamental manifestação da energia criadora que deu origem ao universo.[3]
Todas essas informações justificam o fato de Deus, ao invés de consagrar o próprio Moisés como Sumo Sacerdote, ter preferido investir a Aarão nesse cargo, conservando para Moisés a liderança jurídica e política do povo de Israel.
Interpretação cabalística
A Barba de Aarão é um simbolismo muito importante na tradição iniciática do povo de Israel. Esse simbolismo é demonstrado de forma muito significativa nos ensinamentos da Cabala. De acordo com essa tradição, tanto o universo, que representa a imagem do Demiurgo, o seu Arquiteto Construtor, ou seja o Macrocosmo, quanto o corpo humano, que representa o microcosmo, (o homem) são uma projeção física e psicológica das manifestações do seu Criador. Nesse sentido, cada parte do universo, cada dimensão, cada fluxo energético, cada lei natural, enfim, tudo que nele existe como realidade fenomênica é uma manifestação da energia criadora que se espalha pelo vazio cósmico na forma de uma árvore. Essa árvore, chamada Árvore da Vida, ou Árvore Sefirótica, é um desenho mágico do próprio universo, que na sua conformação estrutural é semelhante ao organismo humano com todas suas funções. Ele é gerado a partir de um ponto único (Khetter, a coroa da criação) e se espalha pelo nada cósmico formando uma Árvore (Vasto Semblante) que é o próprio universo, com suas manifstações de vida.
Assim, no Livro do Mistério Oculto ( HADRA RBA QADISHA- A Grande Assembléia Sagrada) temos o misterioso texto que diz:
753 “ (...) existe uma parte venerável da barba que desce, sagrada, venerável, excelente, oculta e conciliada em tudo( a Barba do Macroposopo), pelo óleo sagrado e magnificente, que passa através da barba do Microposopo.”
756. “Essa barba é o elogio, a perfeição, a dignidade e o adorno de todo o Vasto Semblante, e nessas sagradas coisas está oculta e fundada para ser conciliada, e nunca para ser discernida.”
757. “Essa barba é a beleza e a perfeição do Semblante Menor do Microposopo. E encontra-se disposta nele em nove conformações.”
78. “Pois quando a venerável barba do Macroposopo brilha sobre a venerável barba do Microposopo, então as 13 fontes do excelente azeite fluem para baixo, sobre sua cabeça e sobre sua barba.”
759. “E, a partir dali, são fundadas as 22 partes que se estenderão depois nas 22 letras da Lei Sagrada.” [4]
A tradição cabalística ensina que cada membro, cada órgão, cada osso, cada pelo existente no corpo humano cumpre uma importante função na Árvore da Vida do homem, da mesma forma que cada elemento químico também cumpre função fundamental na composição do universo físico. Assim, um e outro (universo e corpo humano) são composições idênticas que seguem as mesmas leis de formação e composição. Entender como um funciona é entender também o outro. Nessa formidável intuição está presente o extraordinário sentido ecológico dessa estranha doutrina, que hoje se sabe, guarda uma formidável analogia com as mais recentes descobertas da física nuclear e da astronomia.[5]
Arvore sefirótica Árvore da Criação Homem vitruviano
O Bóssom de Higgs
Assim, a barba, na Cabala, é vista como sendo o influxo que nasce na primeira Séfora e percorre toda a Árvore da Vida unificando a totalidade das realidades existentes no universo. DE fato, a palavra barba, em hebraico, (Hachad) significa unidade, e por aplicação da técnica da gematria, o seu correspondente numérico é igual a 13. A=1, CH=8, d=4.[6] Esses valores, segundo o Sepher A Zhoar, correspondem às partes da barba do Macroprosopo, o Andrógino Superior ou Vasto Semblante, como a Cabala chama essa representação simbólica da primeira manifestação de Deus no mundo das realidades manifestas. Essa manifestação, por reflexo, gera o Microprosopo, que é a representação do Andrógino Inferior, cuja proporção numérica e geométrica (o homem vitruviano) deu origem ao modelo do homem da terra. Dessa forma, tanto o universo físico quanto o próprio organismo humano seriam uma representação da própria imagem de Deus, o que justificaria a informação constante em Gênesis 1: 27 de que o homem foi criado “à imagem de Deus.”[7]
Essa visão cabalística do processo energético que está na origem do universo material e do mundo das coisas vivas, também é aproveitada nas teses dos antroposofistas e nas doutrinas esotéricas defendidas por Helena P Blavatsky e seus discípulos. Para essas doutrinas, há um “homem do céu e um homem da terra”, ambos construídos com base no mesmo molde.[8]
Assim, o Salmo 132, ou 133, na verdade, é um simbolismo que está centrado em um segredo arcano de extraordinário significado. A Maçonaria, ao adotá-lo na abertura de suas Lojas não está apenas contemplando a idéia da Fraternidade pura e simples, mas realizando o objetivo cósmico de integração total de todas as suas emanações. Trata-se, na verdade, de um mantra poderoso, uma âncora fundamental para o eliciamento da energia cósmica necessária para a formação da egrégora maçônica, como já foi dito.
[1] Mateus, 2;23
[2] O termo Loja, aqui é tomado no sentido maçônico da palavra, ou seja, uma assembléia de irmãos maçons. Nos tempos medievais, esse termo era aplicado à reunião dos profissionais da construção civil que trabalhavam em uma determinada obra, para discutir os problemas técnicos com ela relacionados.
[3] Cf. Pawels e Bergier- O Despertar dos Mágicos Ed. Bertrand Russem, 1986, e Daniken, Erich Von- Eram os Deuses Astronautas? Ed. Melhoramentos, 1968.
[4] Knorr Von Rosenroth- A Kabbalah Revelada, pg. 211. Segundo a tradição cabalística, todo o universo e suas manifestações de vida se explicam no alfabeto hebraico, através das combinações formadas pelas 22 letras, com seus sons e valores numéricos.
[5] Vejam-se, especialmente, as obras do escritor Fritjof Kapra e Stephen Hawking,
[6] As “13 fontes do excelente azeite” que fluem para baixo, e segundo o Salmo 133 “desce sobre a barba, a barba de Aarão, e molha a orla dos seus vestidos.”
[7] Não uma “imagem” em termos de forma física, pois segundo a própria doutrina hebraica, Deus não tem forma nem nome conhecido, mas sim, a imagem mística de uma energia que se expande numa determinada forma que se assemelha ao corpo humano.
[8] Helena P. Blavatsky- Síntese da Doutrina Secreta- Ed. Pensamento, 1995. A Antroposofia, do grego "conhecimento do ser humano", é uma doutrina desenvolvida no início do século XX pelo austríaco Rudolf Steiner, que estuda o universo físico e vida que ele abriga, a partir de uma perspectiva toda espiritual.