Microensaio: linguagem
Muitas vezes não nos fazemos interpretar da forma que queremos, quando se faz necessário. Se já é muito difícil passar para a escrita o que se pensa, imagine escrever o que se sente. Está aí o maior desafio da filosofia, ser clara e precisa na descrição do que se pensa. É por isso que a matemática, por ser uma ciência exata, tem sua linguagem própria. Outros ramos encontram grandes dificuldades seja porque devem lançar mão da descrição, seja porque devem usar discrição, seja porque seu objeto é o trabalho sobre as impressões que as coisas do mundo externo causam ao mundo interior de cada um etc.
Um compositor musical, por exemplo, ao receber aquele “estalo” de inspiração, escreve o que sentiu para imortalizar sua criação e para não se esquecer da obra diante das várias outras inspirações que venha ter e, principalmente, para poder passar para outros seu momento de sentimentos. No entanto, um maestro deve estudar esse compositor para perceber e transferir para a execução da obra toda carga emocional o mais próximo daquilo que realmente o compositor sentiu, pois não terá fórmula escrita em partituras, por mais símbolos que possa conter essa linguagem, que venha a reconstruir o que o artista sentiu no momento da criação. Nem se fala na leitura que cada um fará ao ouvir a obra, leitura essa que depende da experiência de vida de cada um, portanto de sua vivência cultural individual e coletiva.
Entretanto, músicos compositores, poetas, em fim, os artistas não têm um compromisso com uma lógica - a lógica tão necessária à matemática, à física, à filosofia que tentam retratar a nossa realidade. O compromisso do artista é com a realidade sentimental, portanto sua criação diz respeito ao seu eu, embora esse eu seja também o de muitos outros – está aí a estética da empatia, da afinidade, da afeição, da paixão, da cumplicidade...