Cidade Perdida

Por. Alessandro Barreta Garcia

O que observamos é um verdadeiro fascismo das bicicletas, uma simples e pura imposição da vontade perante o todo (o coletivo), não há diálogo, sensatez, respeito e acima de tudo bom senso. Por que isso ocorre? Porque são organizados, formam uma militância. Porque há muito dinheiro por trás.

A insanidade de nossos governantes está proporcionando aos cidadãos um dilema já resolvido por Aristóteles na antiguidade, a auto-suficiência. É de conhecimento comum a qualquer cidadão, minimamente bem informado que o trânsito da cidade de São Paulo está bem longe desse ideal de autossuficiência. Como apontei estudando Aristóteles:

Algumas qualidades são esperadas, tanto na organização da cidade, como para o cidadão que vive nela. É importante lembrar que a cidade é uma junção de pequenas famílias, que formam um povoado e a junção de vários povoados formam, finalmente, a cidade. Esse é o início do sistema educacional de Aristóteles. Uma dessas qualidades da cidade, sem dúvida, é a autossuficiência (GARCIA, 2011, p.91).

Nota-se que atrelada à categoria de autossuficiência, a educação é fundamental para um convívio equilibrado, pois, um povo mal educado não pode agir civilizadamente. É esse o caso do Brasil, estamos entres os últimos, melhor dizendo, entre os piores sistemas educacionais do planeta.

Voltamos ao trânsito, é sabido também que se locomover em São Paulo é um privilégio de poucos, talvez daqueles que possuem helicópteros. Nosso transporte público é horroroso, metro, ônibus e o altíssimo custo de um taxi, inviabilizam uma locomoção justa e saudável, uma vez que os ditames da Constituição são porcamente desobedecidos. Nosso trânsito é sem dúvida um verdadeiro inferno, carros, carretas, ônibus, motos, carroças, e agora as bicicletas.

Nada mais justo que passear de bicicleta, contudo, que se faça isso nos parques. Como transporte, essa não é uma boa ideia, e não me venham com argumentos pueris, pois, modelos que funcionam, seguem muito bem o espírito de Aristóteles, ou, seguem a razão bem redonda. Isto não ocorre neste país. Nos falta lógica, simplesmente reconhecer que o quadrado é quadrado, e o retângulo é retângulo. Basta isso para que os governantes observem suas burrices. Modelos que não partem dessa lógica, não atingem civilizadamente uma harmonia, não anseiam a autossuficiencia, uma lógica de mobilidade saudável, virtuosa e acima de tudo, educacional.

Muitos ciclistas estão morrendo por irresponsabilidade de nossos governantes, é certo que muito deste dilema, é forcadamente resultado da pressão de militantes, de uma nova ordem mundial, de um marxismo cultural, ou, de uma ideologia doentia, não é possível impor a bicicleta em meio ao caos. Entretanto, no final de tudo isso, a responsabilidade é inteiramente de quem governa, daquele que permite esse caos, essa irresponsabilidade, esse crime.

Quem governa, representa os interesses da maioria, da lógica, do bom senso, do equilíbrio e da paz. O que estamos assistindo é exatamente o contrário, o que testemunhamos é um verdadeiro cenário de insanidade mental, de doença coletiva, cuja origem ocidental remonta o período helenístico. Não há política de transporte àquele que sofre com o ônibus lotado, guiado por maus profissionais, sem conforto, pontualidade e dignidade. Não há linhas de ônibus suficientes, segurança, trens, metros, estradas, e sinalização suficiente, tudo isso e muito mais é o que nos falta.

Como se não bastasse esse universo de problemas, todo ele e muito mais, não é mais importante que um ciclista. As mortes ocorrem por todos os lados, pedestres, motoristas, motociclistas, taxistas, caminhoneiros, ciclistas e skatistas, estas mortes sempre existiram e nada mudou, só piorou. De quem é a culpa? A culpa é da insanidade governamental, daquele que deve dizer não, que eticamente deve impedir desordenamento das partes perante o todo, que deve negar a barbárie. Assim, como um pai que deve dizer não ao seu filho, o mesmo serve a um governante, caso contrário, não há referência ou lucidez, o que existirá é apenas vontade, individualismo, egoísmo, e ódio ao ser civilizado. Dessa maneira, o que observamos é um verdadeiro fascismo das bicicletas, uma simples e pura imposição da vontade perante o todo (o coletivo), não há diálogo, sensatez, respeito e acima de tudo bom senso. Por que isso ocorre? Porque são organizados, formam uma militância. Porque há muito dinheiro por trás. Esse é o mundo da militância, e elas são muitas, e quem não é, ou seja, a maioria torna-se refém da ditadura dos costumes fascistas, do comportamento imbecilizado pela falta de razão, de argumentos inequívocos e puramente lógicos. Essa é nossa cidade, uma cidade perdida, sem ordem, referência e respeito ao próximo. Aquele que não aprende a ser governado jamais poderá ser governante. Quando todos podem tudo, não há lugar para o coletivo, para a ética, o bem maior da sociedade. Aqueles que não se adéquam a cidade, que saiam dela, abandonem-na, e as deixe sobreviver e renascer melhor.

Referência

GARCIA, A. B. Aristóteles nos manuais de história da educação. 1. Edição, São Paulo: Clube de Autores, 2011.

Fonte:http://ufscon.wordpress.com/2013/06/03/cidade-perdida/

Alessandro Barreta Garcia
Enviado por Alessandro Barreta Garcia em 07/06/2013
Código do texto: T4329051
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