O ENCONTRO DAS IDEIAS

O analista atua somente sobre o texto que lhe foi enviado. Nada mais. A subjacência que não ficou registrada, que o autor não conseguiu lavrar ao ponto de imprimir veracidade, é mergulho íntimo que não chegou ao plano material. Portanto, não existe. E pouco importa se teve raiz no intuitivo ou no intelectivo. O que importa é a forma e o formato que carregam o intento de brilhar como a “estrela que vira flor...”. Quando o crítico sugere nova forma para o texto do criador original, intenta comunicação através de possível lucidez que o surreal pode intuir. Neste momento, ele é o titular do intertexto surgido a partir da impressão autêntica, logo, é apenas o subcriador da peça. Todavia, o texto é do autor que o criou, e é ele quem o assina, na forma e formato de sua escolha. O texto analítico é quase sempre a antítese à tese posta. A formulação sugerida, em Arte, dificilmente é a síntese. Desta sorte, não há lógica formal na crítica literária. A antítese é somente quanto à forma e não em relação ao conteúdo. O autor original gosta ou não gosta da proposta e a aprova ou não... E, se acaso a pretender estética (e não o cordão umbilical visceral da intuição) terá a chance – possivelmente – de agradar mais pessoas, por sua clareza objetiva ou subjacente. É uma mera questão de escolha sobre um trabalho de terceiro, que enriquece ou não o original, segundo a ótica de seu autor. Este é que deverá definir o texto definitivamente. De “O CORDÃO UMBILICAL”, de Joaquim Moncks.

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4322221

Amigo Moncks. Não sou expert em crítica literária. Entretanto, concordo plenamente com todas tuas colocações. A ótica da leitura analítica, que é captada sutilmente pelo crítico, é uma tarefa difícil e que exige muita sensibilidade e conhecimento. Muitas vezes faz-se necessário, como dizes, que o Crítico sugira ao texto uma nova forma, e por vezes é por aí que se revelam grandes criações. Ao reconstruir o texto com uma releitura, o autor constrói um novo estilo de se comunicar e vivenciar o mundo. Ao analisar o tema, o analista precisa observar se todo o conjunto de opiniões está bem fundamentado, procurando ir de encontro às ideias e questionamentos, visando desse modo atingir o objeto da análise. É exatamente aí que se ajusta tua afirmativa de que “não há lógica formal na crítica literária”, portanto, ela precisa ser entendida e compreendida pelo autor do texto em exame. Achei genial a analogia que fizeste com o cordão umbilical. Parece-me que muitos autores se prendem a uma ideia gestada e totalmente engessada por suas convicções, como se estivessem presos ao cordão umbilical, como único meio de sobrevivência. Entendo que saber ouvir e compreender um posicionamento crítico, ou correr o risco de olhar em várias direções, é muito mais produtivo do que permanecer com uma visão unilateral. Certa vez eu li uma frase muito inteligente, e acho que se adapta perfeitamente a esse tema: "É melhor ser criticado pelos sábios do que ser elogiado pelos insensatos. Elogios vazios são como gravetos atirados numa fogueira." (Eclesiastes) Abraços. Marilú Duarte.

– Do livro O IMORTAL ALÉM DE SI PRÓPRIO. Joaquim Moncks / Marilú Duarte, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4322952