O SURREAL MINIMALISTA

Recebo, com alegria, o seguinte pedido de análise textual:

“Oi, amigo! Como vais? Há tempo não sei notícias tuas. Tens viajado muito?

Eu continuo escrevendo contos, artigos, crônicas, poesias e os tenho postado na internet. Estou te enviando uma poesia para, se puderes, comentá-la. Vou postá-la no Recanto. Se quiseres, e tiveres tempo, podes comentá-la no Recanto das Letras ou enviar-me por e-mail. Com carinho um afetuoso abraço. Suely.

FANTASMAS

Suely Eva dos Navegantes Braga

Os fantasmas são morcegos

em busca da luz.

Sugam o sangue dos corações.

Cupins, roem a alma.

No silêncio,

na escuridão

esmagam com pontas de lanças.

Osório,03/09/2011.”

FANTASMAS é uma peça minimalista de inspiração surrealista, com alta codificação vocabular e parece-me razoável para publicação. Creio que está melhorando o teu universo de significantes e significados. No entanto, seria útil observar que o leitor necessita de uma janela para espiar melhor o sol da mensagem que a Poesia contém, ainda mais no caso de poemas minimalistas, de poucos versos – aquele que despreza o excesso formal na apresentação do conteúdo. Todavia, entendo que tu estás buscando forma e formato, num belo exercício, como se fosses uma novata... O que me agrada é que não deixas de buscar o formato exato para expressar o assunto do poema. Forma essa que tem de conter o subjacente Mistério, que é o único que realmente constrói o bom poema. E este só a codificação, através das figuras de linguagem, poderá vir a revelar... Todavia, a codificação não pode ser tão “fechada” ao ponto de a luz rarefeita não conseguir adentrar ao ambiente em que o poema está sendo gerado. Indico o lapso aparente: a separação de sujeito e verbo com o sinal gráfico de respiração breve, a vírgula. "Cupins roem a alma." seria o certo. Portanto, nada de colocação da vírgula, por desnecessária ritmicamente, e gramaticalmente incorreta. Seria bom observar como se comportam os leitores do Recanto das Letras em relação ao hermetismo do poema, através do cômputo de leituras. Lograremos saber – pragmaticamente – se entenderam ou não o texto. Daí se poderá aquilatar a sua validade estética. Porque, sem o leitor, a relação literária não se completa, fica perdida, por inconclusa... Parabéns!

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4321591