ENSAIO SOBRE A LIBIDO DO SAPO

Com alegria, apresento aos leitores do Recanto das Letras uma bela peça na modalidade “ensaio”, produzido pela acadêmica Neusa Marilú Duarte, (atual presidente da Academia Sul-Brasileira de Letras – ASBL, sediada em Pelotas/RS), em que fica patente a sua ótica como psicóloga. Tomo a liberdade de fazer o registro desta peça interativa, surgida da troca de e-mails, na intenção de que não se perca o seu belo estudo analítico sob este viés. Também porque a autora referida não tem o hábito de postar os seus trabalhos na Grande Rede, nem conseguiu publicar o seu ‘comentário’, ao pé de meu texto, o qual segue abaixo. Este impedimento, por si só, é a melhor justificativa para a saída do anonimato de tão inusitada peça... Consequentemente, escancaro ao público leitor a atenção e o carinho de Marilú, com o meu sincero penhor de gratidão. JM.

“METAMORFOSES

Joaquim Moncks

Imagina a crisálida saindo do casulo por sentir-se aprisionada, e, ao fugar alada, o sapo esticará a língua (à falta de outro uso) e, num upa, a comerá, num estalo. Acho que nada dirá como príncipe da palavra, só se deliciará com o gosto do petisco... Sim, também me atiças à novidade, borboleta, e até a palavra claudica... Escrevo BOROBOLETA?! Enfrento o ato falho psicológico, aqui e agora, a pressa claudicante do teso espiritual se materializando. Sim, mas será que as musas seriam assexuadas, sem libido? E eu, que nem sei se as tenho em mim? A musa é a própria Poesia. Se as possuo? Este é um verbo que não posso conjugar. A posse? Não sei a posso ter... Sim, é mesmo, só sei falar... O que teria por dizer? Há metamorfoses no corpo. A musa é uma crisálida...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/4306633

SOBRE A LIBIDO...

Sendo as musas os clones de seus progenitores, a libido não seria apenas uma circunstância? Tal reflexão se condiciona ao fato de que Freud ao referir-se à libido, evidencia o seu impulso vital para a autopreservação da espécie humana. Um outro enfoque marcante, seria o do filósofo Santo Agostinho, que classificou a libido em três categorias distintas: a do desejo de conhecimento, (que é a libido que identifico sobremaneira em ti e que te faz tão invejado); a do desejo sensual; e a libido do desejo de dominar. Tudo nos leva a concluir que todos esses desejos, ao coexistirem em cada um de nós, se fragmentam e recosturam um propósito único e definitivo: o de ser visto. Portanto o sapo ao comer a crisálida, em um ato falho e descompensado, traz para si a atenção do mundo, suprindo a sua carência imensurável, por ser rejeitado, ou quiçá, por ser invejado pelas suas longas patas que o tornam livre para atingir o topo, em qualquer momento ou lugar. Isto é liberdade. Isto é desejo. Isto é libido. Segundo Freud, a libido, não está relacionada somente com a sexualidade, embora ele a tenha definido como sendo a "energia de tais instintos, que tem a ver com tudo o que pode ser resumido com o amor." Talvez porque a vida não possa ser definida sem amor. A libido também está presente nas atividades culturais, caracterizadas pela sublimação da energia libidinosa de Freud. Na metamorfose do corpo os desejos brotam e se reconstituem, se perdem nos descaminhos, ou se fragmentam, permanecendo eternamente na fantasia. A libido é uma crisálida, em constante transmutação e mistério! Marilú Duarte.

– Do livro O IMORTAL ALÉM DE SI PRÓPRIO. Joaquim Moncks / Marilú Duarte, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4312704