Ensaio Sobre a Beleza, por Renan Flores
Que ironia! Começando pelo título. Renan Flores falando sobre beleza? Aí tem coisa! Pois é, tem mesmo, uma coisa tão bela que me faltam palavras pra descrever. Não que seja impossível descrever, mas pra mim, cujo vocabulário sobre a beleza eu nunca cultivei, é sim um trabalho.
Nunca me importei muito com a palavra "beleza" e seus derivados. Mentira! Me importei sim! A verdade é que eu sempre gostei dessa palavra e sempre sonhei em poder aplicá-la a mim e ao meu mundo, mas nunca pude. Nunca me vi belo (e talvez nunca veja). Meu reflexo sempre foi algo triste e terrível do qual só consigo sentir raiva ou pena. Do que reflexo da minha alma nem me atrevo a dizer o que penso. Nunca usei a palavra "beleza" porque em minhas mãos ela sempre se desfaz e vira uma coisa feia. Mas a "feiura" eu nunca destruí. Ela me serve como uma luva, me engrandece. Claro que nem sempre foi assim. Algo em mim, bem lá no fundo, ainda sonha com a beleza. E de tempos em tempos essa coisa organiza um ataque contra minha feiura. Dentro de mim lutam a beleza e o horrendo. Rasgam-me a consciência enquanto do lado de fora eu rasgava meus braços com uma gilete. Faz alguns meses que não me corto por dentro nem por fora. A feiura ganhou.
Mas hoje eu aprendi uma coisa. Beleza não é uma palavra que aplicamos a nós mesmos. São os outros que nos presenteiam. A beleza vem de dentro, mas é de fora que a percebemos.
Aprendi isso descobrindo a beleza de uma pessoa. Uma pessoa que eu nunca prestei muita atenção, mas que nas últimas semanas tem desabrochado numa flor triste e linda. E como me cativa a tristeza! Talvez eu tenha me apaixonado pela minha própria tristeza também e é por isso não consigo deixar de ser triste.