TROPEÇOS DE UMA INSPIRAÇÃO CAPENGA
Ideias chegam, totalmente desencontradas, não se avolumam, ao contrário se esvaem como bolhas de sabão ao vento.
Me apego aos decantados clichês: Era uma vez... Ou então, naquela tarde ensolarada de outono... Pronto! Não vem mais nada!
Divago e inspiração que é bom, neca.
Preciso de uma palavra, uma frase... Quero um gancho... Até uma corda serve... espere!
Corda lembra brincadeira e pode ser usada num picadeiro.
Decidi!!!!!! Vou ser um palhaço!
PERERECA
Naquela tarde ensolarada de outono, antes do início do espetáculo, passeio olhar de reconhecimento nos espectadores, me assusto ao ver crianças com ares de adultos e acompanhantes, curvados como anciões.
Bem! o show já está para começar, espero levar-lhes alegria!!!
Me produzo com paciência. Alargo a boca com tons multicoloridos, estufo o peito, visto a indumentária com garbo de tenor.
Expio pelo rasgo da cortina empoeirada e ao deparar com aqueles olhinhos agora redivivos e os gritos ensandecidos em
rima: PERERECA... PERERECA.... PERERECA... PERERECA....
Alegria geral me encanta, sou o mais traquina de todos os palhaços e o picadeiro se torna pequeno para tamanhas estripulias.
Mas, tempo passa... E os refletores vão sendo apagados e novamente pela nesga da cortina revejo crianças com ares de adultos e adultos arqueados como anciões.
Lágrimas e suor se misturam com a maquilagem barata, me sinto um derrotado!
Olhe só! Caro leitor a emboscada que entrei!!
Dei-lhe vida, sentimentos, não posso parar de escrever agora e deixar o carismático palhaço com a cara borrada, chorando para todo o sempre...
SOCORRO... INSPIRAÇÃO ME AJUDE!
PLIIM!!
E assim, os artistas circenses consternados com a tristeza de PERERECA, naquela mesma noite desmontam a lona e rumam para a próxima cidade.
Então na OUTRA tarde ensolarada de outono, passeando um olhar de reconhecimento antes do espetáculo. PERERECA vê crianças com ares de crianças e adultos eretos com ares de crianças.
E sorriso ilumina o rosto de quem teve coragem de ler até aqui.