Abobrinhas cotidianas

Se liga aí na destreza daquele que, após homérico repasto, brande agora um palito de dente como se esse fosse a espada de um deus grego, encoberta pelo céu da boca e protegida ainda por uma ação legítima de quem é seguidor de atitudes politicamente corretas: a outra mão, que finge não ser translúcida.

No mijatório masculino daquele pé sujo, entre uma e outra rodada de chope, aquelas cabeças ali reunidas não pensam mais em nada; bravateiam, especulando sobre as chances que poderão ter para satisfazer Rosinha, moça muito boa, perdão, boníssima, mas que não está nem aí pros caras, pois, simplesmente, a criatura é fanchona.

Uma pochete, uma sunga, um tênis e meias três quartos. Deselegância? Não, liberdade de expressão.

Eu não acredito em uísque com mais de doze anos.

Quando ainda era criança, viu o cartão de movimentação bancária de seu pai ser impiedosamente engolido pelo caixa eletrônico. Não deu outra: hoje, explode essas máquinas.

No supermercado, professor de Sociologia fica bastante constrangido ao ver a companheira, no afã de “adiantar o lado” da Ceia de Natal, distribuir estrategicamente a sua prole entre as quatro filas de caixas que operam nessa tensa época de turbulência humana. Embora percebendo a sua incapacidade de persuasão diante daquele salve-se quem puder, o mestre insiste, sinalizando para a amada com um “não é ético, amor!” Porém, fácil, fácil, acaba sendo derrotado: o primogênito, percebendo o risco da festa de logo mais babar por conta do atraso dos aviamentos, aborta aquele tom dialético com uma certeira enfiada de batata de ondinha na sua boca.

Se você pensa que o seu vizinho do andar de cima o incomoda bastante só porque todo fim de semana, lá pras tantas, ele costuma chegar da farra fazendo o maior barulho, senta na beirada da cama e vai logo arremessando longe uma daquelas botas pesadas e que, só depois de cravados exatos cinco minutos, arremessa a outra bota, quando então “vocês” conseguem dormir, pense que isso pode piorar. Ele pode chegar, sentar na beirada da cama, arremessar a primeira bota e pronto. Você, provavelmente, não irá dormir enquanto não for lá, pedir para ele jogar a segunda bota!

Masé Quadros
Enviado por Masé Quadros em 23/04/2013
Reeditado em 23/04/2013
Código do texto: T4256074
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