AMOR TOTAL
... e, ao longo de tantas noites caminhando juntos, anos de conversas intensas, o nosso vocabulário comum foi ficando afinado.
Com disso, foi-se esboçando e tomando formas mais concretas a teoria do meu amigo, sobre o amor - ou melhor, sobre como amar.
Para ele, amar, era algo que se deve fazer com intensidade total, como quem corre e se atira contra uma parede, esborrachando-se mesmo - e fragmentando-se em mil pedacinhos de amor.
E, como o amor não é estável, sempre aumenta ou diminui, numa eterna construção de tempo-forma, ele explicava essa construção como sendo a reunião de todos esses pedacinhos de amor; como uma tentativa de reunificação de todos eles visando reconstruir o amante esborrachado...
Eu concordava, claro, mas achava também que, quando amamos, encontramos novas forças, descobrimos em nós novas facetas e improvisos, crescemos e, como tal, mudamos...
Aí, ele concordava comigo, pressurosamente .
'-Isso é evidente !' - dizia ele.
'-Se somares os pedacinhos, vai dar mais do que o todo ...Só prova que eu estou certo !'- completava.
Esta era a sua teoria para amar, mas também se aplicava á nossa amizade - cada um de nós conhecendo bem todos os pedacinhos do outro. E sabendo que, a soma dos nossos pedacinhos, era bem maior que nós.