BREVE INTRODUÇÃO À LITERATURA GAÚCHA
A literatura do Rio Grande do Sul apresenta um caráter sistemático e de continuidade a partir da fundação do Partenon Literário, em 1868, que, com sua revista publicada entre 1869 e 1879, permitiu uma atividade conjunta dos escritores, com uma produção literária razoável.
Antes, nossa literatura esteve à mercê de iniciativas individuais de escritores, que, aleatoriamente, publicaram seus textos. Foi assim que ocorreu, por exemplo, com Caldre e Fião, que, em 1847, lançou “A divina pastora”, romance há pouco redescoberto, e “O corsário”(1851).
Durante o Partenon, delineiam-se duas variantes que iriam lançar seus raios por sobre toda a literatura rio-grandense até os dias de hoje. Uma, mais universalista, com autores como o poeta romântico Lobo da Costa. Outra, mais regional, tematizando a campanha e suas lides, bem como o gaúcho, representada por autores como Apolinário Porto Alegre, Múcio Teixeira e Bernardo Taveira Júnior.
A linha mais universalista viria a fusionar Romantismo, Simbolismo e Parnasianismo, cujos autores, representando um destes movimentos ou aderindo a mais de um, viriam a apresentar uma literatura que reflete o homem moderno, sem estar vinculada a fatores locais.
À linha mais regional coube apresentar o gaúcho, sua história, seus costumes, seus hábitos, estabelecendo uma marcada diferença da literatura gaúcha com o resto do país, o que serve para tornar ainda mais complexa e rica a literatura brasileira.
Os autores da linha mais universalista, além de Lobo da Costa, romântico, seriam ainda os simbolistas Alceu Wamosy, Eduardo Guimarães e Felipe de Oliveira em seu primeiro livro; os modernistas Augusto Mayer, Mario Quintana e uma lista de autores que se estende até os nossos dias.
Da linha regionalista, os autores são os pré-modernistas Alcides Maya, Simões Lopes Neto e Amaro Juvenal (Ramiro Barcelos); os modernistas Darcy Azambuja e Erico Verissimo na trilogia “O tempo e o vento”, além de uma série de outros escritores.
A linha mais universalista, posteriormente, também englobaria o romance urbano do RS, que igualmente seria cultuado por alguns autores da linha regionalista. Os primeiros representantes do romance urbano são Dyonélio Machado e Erico Verissimo.
Hoje, centralmente, nossa literatura continua dividida entre a linha universalista (urbana) e a regionalista. Na linha urbana, temos autores como Laury Maciel (conto e romance), Charles Kiefer (conto e romance), Lia Luft (poesia e romance), Arnaldo Campos (conto e romance), João Gilberto Noll (romance). Lembramos ainda os nomes de Carlos Nejar (poesia), Vera Ione Molina (conto e romance), Marcelo Carneiro da Cunha (novela), dois santos dos santos (poesia), Armindo Trevisan (poesia), etc.
Na linha regionalista (ou de aproveitamento da temática regional) aparecem autores como Cyro Martins (conto e romance), Aureliano de Figueiredo Pinto (poesia e romance), Tabajara Ruas (romance) e Luiz Antônio de Assis Brasil (romance). Desse filão nutre-se a literatura de Sérgio Faraco (contos), José João Sampaio da Silva (poesia), Luiz Sérgio Metz, “Sérgio Jacaré” (conto e romance), Fernando Borges (conto), etc.
A literatura do Rio Grande do Sul, segundo Mário de Andrade, curinga da intelectualidade brasileira e fundador do Modernismo, é a que apresenta uma maior unidade e identidade dentro do panorama geral da literatura regional brasileira. Fiquemos com essas palavras, sem estimular o sentimento de competição que, historicamente, rege o coração do gaúcho. Não importa se a literatura regional gaúcha é ou não a melhor do Brasil. Importa que saibamos que é ela que fala de nós para o mundo, seja o mundo exterior, seja o mundo que levamos dentro de cada um.
RESUMO DE AUTORES
Simões Lopes Neto (1865-1916) – Publicou “Contos gauchescos” em 1912 e “Lendas do Sul” em 1913. Em “Contos gauchescos”, as histórias são contadas por Blau Nunes, um velho gaúcho cruzador de caminhos, que narra guerras, amores, farras, carreiras, tragédias, tudo o que ele presenciou em sua longa vida. É nessas histórias que aparecem personagens inesquecíveis, como o negro Bonifácio, a Tudinha, o Juca Guerra, entre outras.
Amaro Juvenal - “Amaro Juvenal” é o pseudônimo de Ramiro Barcelos (1851-1916), que rompe com o PRR, partido de Borges de Medeiros, e escreve um poema que satiriza a ascensão de Borges ao governo da província, ridicularizando-o e o acusando de ter conquistado o poder com conspirações, conchavos e acordos espúrios.
Cyro Martins – Sua principal obra é a “trilogia do gaúcho a pé”, na qual retrata a degradação das condições de vida no campo e a migração para a cidade, Os romances da trilogia são “Sem rumo”, “Porteira fechada” e “Estrada nova”.
Erico Verissimo – Sua obra é igualmente urbana e regionalista. Entre os romances urbanos estão “Clarissa”, “Caminhos cruzados”, “Música ao longe”, “Um lugar ao sol”, “Olhai os lírios do campo”. Da linha regionalista é a trilogia “O tempo e o vento”, sua principal obra. Nela, através da evolução de uma família e de suas gerações, ele conta toda a saga da formação histórica do RS e imortaliza personagens como Pedro Missioneiro, Ana Terra, Bibiana e Capitão Rodrigo.
Erico Verissimo também escreveu romances de cunho político, como “O senhor embaixador” e “O prisioneiro”, além de obras infanto-juvenis e de memórias, como “Solo de clarineta”.
Augusto Mayer – É o introdutor do Modernismo no RS. Sua obra é de linha universalista, mas sem deixar de tratar de temas do folclore gaúcho. São famosos seus ensaios sobre Machado de Assis.
Mario Quintana – É o principal poeta do RS. Sua poesia incorporou todas as tendências estéticas. Escreve tanto sonetos como estrofes de versos brancos. Dessa forma, confluem em sua obra influências parnasianas, simbolistas e modernistas. Foi colunista do jornal Correio do Povo. Obras: “A rua dos cataventos”, “Canções”, “Sapato florido”, “Espelho mágico”, “O aprendiz de feiticeiro”, “Caderno H”, “Apontamentos de história sobrenatural”, “A vaca e o hipogrifo”, etc.
* Texto produzido para a disciplina de Literatura Brasileira da Escola Santa Rosa de Lima, nos anos 90, em Porto Alegre.