" Hilda Furação e os Intertextos Literários" .

Hilda Furação, Roberto Francis Drummond.

Epígrafe:

[...] As fronteiras de um livro nunca são bem definidas por trás do titulo, das primeiras linhas e do ultimo ponto final, por trás de sua configuração interna e de sua forma autônoma, ele fica preso num sistema de referências a outros livros, outros textos, outras frases: é um nó dentro de uma rede.

(HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo: história, teoria, ficção apud. Michel Foucault. Rio de Janeiro: Imago, 1999. Pág.167)

Hilda Furação (1991), de Roberto Francis Drumonnd, narra a historia através de episódios da vida da personagem. A trajetória de Hilda Furacão, a mais desejada prostituta da zona boêmia de Belo Horizonte nos anos 50, filha de uma tradicional família de classe média, Hilda escandalizou a sociedade mineira ao romper com a família e com as convenções fugindo no dia de seu casamento e indo refugiar-se entre as prostitutas.

Na pequena cidade de Santana dos Ferros, vivem três amigos inseparáveis, cada um deles com um sonho. Os planos dos três são afetados pelo surgimento de Hilda, por quem frei Maltus se apaixona, passando a enfrentar um intenso conflito, dividido entre a castidade e o pecado.

A história é narrada pelas memórias do jornalista Roberto Drummond, então repórter iniciante do jornal Folha de Minas, encarregado de traçar o perfil de Hilda Furacão, uma mulher que desafiou as regras da moral e bons costumes numa época de repressão em que a sociedade, hipócrita, ditava as normas de conduta.

Roberto Drumonnd nascido em Santana de Ferros, MG em 1936, assumido comunista, romancista, contista e cronista esportivo.

Drummond surge no cenário literário mineiro e brasileiro como parte de uma geração de escritores que participaram do revolucionário “boom” de contos que invadiu o Brasil nos anos 70. Podemos enquadrar o nome de Roberto Drummond entre os autores desta geração pós-moderna porque ele rejeita o binarismo estático de alguns modernistas e rompe com o tradicionalismo na contínua exploração das possibilidades oferecidas pelas técnicas de escrita.

Pós-modernismo é o nome dado às mudanças ocorridas nas ciências, nas artes, nas sociedades desde 1950. Os pós-modernistas não têm intenção de chocar com uma arte sempre vanguardista, mas de integrar a manifestação artística à vida cotidiana e estimular a interação como público.

O pós-modernismo dá lugar ao conceito de diferenças, a uma descentralização e a uma ruptura com a ideologia do passado. Um discurso anterior e dar a esse discurso uma nova roupagem ideológica. Assim, o passado, como referente, não é enquadrado nem apagado, ele é incorporado e modificado, recebendo vida e sentido novos e diferentes a textos. Essa comunicação entre textos nas narrativas contemporâneas é uma marca do da Literatura Pós Moderna.

Entre todos os termos que circulam na teoria atual e nos textos contemporâneos sobre as textos literários, o pós modernismo deve ser o mais subdefinido.Ele costuma ser acompanhado por um grandioso cortejo de retórica negativizada.Esses prefixos que negam o compromisso(des, in e anti),é para incorporar aquilo que querem contestar.

Uma das principais características desse estilo e amplamente utilizado no romance é a utilização deliberada da intertextualidade.

Para entender melhor a palavra, começando em sua estrutura. O prefixo inter, de origem latina, se refere à noção de relação (entre), logo, intertextualidade é a propriedade de textos se relacionarem.

A intertextualidade acontece quando os textos pertencentes às mais variadas obras literárias conhecidas dialogam com a obra original criando assim, outra historia. Pode-se definir a intertextualidade como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já existente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que é inserida. O fenômeno da intertextualidade está ligado ao "conhecimento do mundo", que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos. O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento, não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.

No romance Hilda Furação, a intertextualidade acontece quando os textos pertencentes as mais variadas obras literárias conhecidas dialogam com a obra original criando assim outra historia. As obras passam por uma avaliação para serem encontradas as semelhanças em relação ao texto original. A intertextualidade pressupõe um universo cultural muito amplo e complexo, pois implica a identificação o reconhecimento de remissões a obras ou a textos, trechos mais, ou menos conhecidos, além de exigir do interlocutor a capacidade de interpretar.

Assim, o livro estabelece inúmeras ligações com a história em que vários personagens de diferentes épocas entram em cena. A princípio surgem referências a Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas. Os personagens apresentam certas semelhanças com Roberto Drummond. A diferença entre o destino das personagens de Os Três Mosqueteiros e Hilda Furacão tem a ver com o desenrolar dos fatos históricos. No primeiro caso, os três amigos vencem todos os perigos, salvando a rainha Ana d’Áustria. No segundo, Roberto Drummond, Malthus e Aramel acabam se separando em função dos perigos e das incertezas de um momento avassalador da história do Brasil. Ainda nesse particular, não há qualquer final feliz junto com Hilda. Esse final infeliz, a rigor, teria mais aproximações se pensar na Cinderela, (também Conhecida como a Gata Borralheira),do Francês Charles Perrault.

Um dos aspectos intertextuais que se observa é a construção da intriga entre Hilda Furação e Frei Malthus, desencadeada a partir do sapato que a moça perde e do qual o rapaz se apossa, o que acontece no conto Cinderela ou a Gata Borralheira. Na abertura do romance, Hilda foi a uma cartomante, madame Janete que lhe disse:

Hilda, para você encontrar o amor de sua vida, você vai ter que sofrer mais do que a Gata Borralheira, porque sua madrasta vai ser sua vida, e uma noite você vai perder um pé do sapato que você mais ama, e quem encontrá-lo, Hilda vai ser o seu príncipe encantado, o único que vai poder tirá-la da vida que esta levando.

Drummond, Roberto. Hilda Furação. 18 ª Ed. São Paulo: Geração Editorial, 2008.(Pág.135)

O romance dialoga com a obra infantil, pois, Cinderela ao sair do baile, perde o pé do sapatinho, O conto de fadas Cinderela mostra o Príncipe à procura do sapatinho de cristal. Como se vê, é possível elaborar um texto novo a partir de um texto já existente. É assim que os textos "conversam" entre si. É comum encontrar ecos ou referências de um texto em outro. A essa relação se dá o nome de intertextualidade. Mas diferente do conto infantil, Hilda Furacão inverte o jogo da história, pois neste caso a Princesa vai aos jornais e rádios de Belo Horizonte pedir que seja devolvido o pé direito de seu sapato e em troca, seu felizardo será coberto de beijos e abraços. O Romance Hilda Furação é um conto de fadas diferente, é taxado como a “Cinderela do Meretrício”, pois foi para prostituição por vontade própria,como uma forma de penitência, e desta forma, o escritor Roberto Drummond utiliza de artifícios dos contos de fadas para criar um “romance de fadas”.

“O que esta se ressaltando é a narratividade e textualidade de nosso conhecimento sobre o passado: não é questão de privilegiar o fictício ou o histórico, mas de verificar aquilo quem têm em comum.” (HUTCHEON, Pág.176)

A intertextualidade tem sua utilidade como uma estrutura teórica que ao mesmo tempo hermenêutica e formalista é óbvia ao se lidar com a metaficção historiográfica, que exige do leitor não apenas a inevitável textualidade de nosso conhecimento de vestígios textualizados do passado literário e histórico, mas também a percepção daquilo que foi feito por intermédio da ironia. O leitor é obrigado a reconhecer não apenas a inevitável textualidade de nosso conhecimento sobre o passado, mas também o valor e a imitação da forma inevitavelmente discursiva desse conhecimento.

Roland Barthes definiu o intertexto como “a impossibilidade de viver fora do texto infinito”, fazendo da intertextualidade a própria condição da textualidade. (HUTCHEON, Pág.167)

Esse é o discurso parodicamente duplicado da intertextualidade pós-modernista.

Por meio da intertextualidade aparentemente introvertida, ou dimensão é acrescentada pela utilização das irônicas inversões da paródia :a relação crítica da arte com o mundo do discurso e, por intermédio deste com a sociedade e política.Tanto a história como na literatura proporcionam b intertextos no romance mencionado , mas não se cogita nenhuma hierarquia,implícita ou não.Ambas fazem parte dos sistemas de significação de nossa cultura, e ai esta seu sentido e seu valor.

Referências Bibliográficas

DRUMMOND, Roberto. Hilda Furação. 18ª Ed. São Paulo: Geração Editorial, 2008.

HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo: história, teoria, ficção. Rio de Janeiro: (Imago, 1999)

SANTOS, Jair Ferreira. O que é pós-moderno 25º Ed. São Paulo. Brasiliense, 2006

PROENÇA FILHO, Domínio. Estilos de época na literatura. 15ª Ed. São Paulo: Ática, 2004.

Jaiane Cléia Lacerda Oliveira de Melo

Graduanda em Letras Vernáculas da Universidade do Estado da Bahia- UNEB ,campus XXI, Ipiaú-Ba.

Jaiane Cléia Lacerda
Enviado por Jaiane Cléia Lacerda em 03/04/2013
Reeditado em 03/04/2013
Código do texto: T4222312
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