O VALOR DAS TRADIÇÕES

Em reportagem veiculada num telejornal local no dia 28 de março, o repórter indagava pessoas nas ruas sobre o porquê de abster-se do consumo de carne na sexta-feira da paixão. Sem causar-me nenhuma surpresa, a maioria respondia apenas que não comia carne no referido feriado por tratar-se de uma tradição católica. “Eu sigo porque a minha mãe segue, minha avó segue e...” justificavam-se os entrevistados. Porém, o motivo de tal tradição continuava a ser uma incógnita.

Questionado ao final da reportagem, um padre respondeu que toda carne tem sangue e que por isso a abstinência é um ato para recordar o sacrifício de Jesus _ o Cordeiro de Deus imolado_ que teve o seu sangue derramado para salvar a humanidade. Pobre Mestre! Sacrificou-se para salvar quem não queria ser salvo, antes, desejavam que o Messias os libertasse do jugo romano. Mas deixem-me tratar agora do assunto proposto no título deste ensaio, senão serei taxado como herege.

Você conhece o significado da palavra tradição?

Tradição é a transmissão oral de cultura, costumes, histórias etc. de geração em geração. Resumindo: tradições são costumes arraigados.

Quando optamos por fazer algo da forma tradicional, a mensagem que estamos passando é que não desejamos correr riscos, dispensando assim as possíveis metodologias inovadoras que alguém possa vir a nos apresentar.

E por que agimos dessa maneira?

Porque existe muita pressão externa e interna sobre os nossos ombros e temos muito medo de fracassar. Contudo, eu gostaria que você parasse para refletir um pouco na seguinte questão: as grandes inovações, mormente as científicas e tecnológicas, que hoje estão melhorando a vida de todo mundo, surgiram primeiramente das ideias de indivíduos que ousaram romper com antigos paradigmas em suas áreas de atuação.

Chegados até este ponto vem naturalmente a pergunta inevitável: Qual o valor de uma tradição?

Acho que costumes e tradições são válidos enquanto servirem à boa instrução intelectual e moral das pessoas. Entretanto, perdem o seu valor quando tais práticas corriqueiras passam apenas a refletirem um amontoado de superstições tolas e fantásticas e um modo preconceituoso do agir e do pensar recalcitrante de tantas criaturas desavisadas.

Mas é óbvio, devemos respeitar as tradições alheias e cuidar de inquirir, e quando oportuno, eliminar em nós mesmos toda forma de arquétipo cultural que nos impede de crescer como seres humanos.

De posse dessas informações, pelo menos você poderá decidir por si próprio _ com a consciência tranquila _ se quer, ou não, comer carne vermelha na próxima Quaresma.