À MANEIRA DE PREFÁCIO

No contexto da contemporaneidade em curso assiste-se, de uma forma vincada, a uma depreciação e desvalorização, cada vez mais acentuada, da Arte Poética. O mesmo se dirá do papel que a própria Poesia personaliza na estruturação dos conceitos literários, bem assim do lugar e importância que os poetas assumidos conseguem conquistar no horizonte planetário da escrita.

A Arte Poética, como soe dizer-se, encontra-se hoje derivando nos caminhos estéreis e desérticos da humana cultura artística. E esta realidade comprova-se por dois factores basilares que dão que pensar: a falta de espaço coerente no mercado das letras e, em simultâneo, a situação desequilibrada entre a oferta e a procura, fenómeno que resulta, e as estatísticas o confirmam, em que a segunda coordenada é nitidamente inferior à primeira.

Quer isto dizer que, bem vistas as coisas, a Poesia encontra-se num impasse angustiante e, porque não, “pelas ruas da amargura” perdendo, de momento, muito do seu valor real para os tradicionais concorrentes: a prosa romanceada e, até, a denominada literatura de teor sensacionalista ou de lazer cultural.

Onde estão as causas e as razões deste tão triste fenómeno? Nos mercados que dominam as actividades económicas, nos sistemas de motivação artística, na falta de qualidade ou de empenho dos agentes poéticos, em geral, no menosprezo ou sectarismo dos órgãos de comunicação escritos ou visuais ou simplesmente na falta de leitores e défice de motivação da própria opinião pública?

A resposta para todas estas questões no que diz respeito à situação concreta de toda a Arte Poética, quanto a nós, está pura e simplesmente na falta de valores humanistas – familiares, educacionais, morais, etc. – consistentes que, em última análise, são o maior problema desta mesma contemporaneidade.

Na panorâmica sociocultural, naquela que está mais em evidência, predominam em primeiro lugar as preocupações puramente consumistas e materialistas. O resto são simplesmente “questões acessórias”.

Ler Poesia, mais que toda e qualquer arte literária ou artística, não é propriamente uma necessidade vital. Antes, e só apenas, uma postura do “dar a entender que se tem cultura”. Tudo o que vai para além dessa preocupação não passa de uma forma banal ou trivial de mostrar que se é diferente, em algo.

Nesta obra que ora editamos, sem preconceitos formais ou ideológicos, temos uma intenção expressa de contribuir para uma recuperação desses valores humanos e culturais, na qual a forma poética, por excelência, assuma verdadeiramente o seu genuíno papel de catalisador de sentimentos e emoções, contribuindo para ajudar a preencher o “vazio” desgastante da pessoa humana.

Com esta tetralogia poética «Liras do meu canto» pretendo partilhar uma experiência de algumas décadas de vida, em que se destaca indelevelmente o fiel da cultura mística, e em que se descobrem diversas formas de expressão literária segundo a qual a Arte Poética se estrutura, a partir de uma reflexão de espiritualidade originária no interior da alma do poeta, visando contribuir objectivamente para um maior enriquecimento da interioridade de cada leitor e, se possível, constituir por si aquela chama viva e dinâmica no sentido da clarificação das mentes.

Frassino Machado

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 31/03/2013
Reeditado em 01/04/2013
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