Meus próximos textos
Os meus próximos textos insinuam-se de forma tão sutil que, frequentemente, não os percebo logo na sua primeira infância. Dura, às vezes, dias, semanas... - já durou mais de um mês – aquela ideia vaga não aflorada, não pronunciada de algo a ser dito, ao contrário de como costuma pronunciar-se da tuberculose, da galopante, o seu preconceito. Vêm, antes, os meus próximos textos, urdidos em detalhes subterfugiosos, preliminares que apenas me remetem à antevisão de uma não coisa, ou a um estado de não ser das coisas, que até mesmo quando tropeço em episódios de óbvia potencialidade literária, inoculo a ignorância, gestando, entretanto, uma próxima trama, sem nada perceber.
Então, é mais ou menos assim: tharan! – e nasce-me mais um texto, prontinho para ser batizado. Excepcionalmente, de alguns, eu não tenho dúvidas, já vêm com cara de conto, de poesia, de romance... de epitáfio, e por isso acabo assimilando-os, de imediato, como em um processo de criação natural - coisas da paternidade; a grande maioria, porém, eu preciso virar de ponta – cabeça, consultar alfarrábios de magia negra, astrologia, crendice popular, pedir opinião a Pai de santo, manicure, açougueiro, ao proctologista... para que, finalmente, eu possa, não apenas identificá-los, mas também reconhecê-los, saber das suas intenções, e assim evitar uma relação bastarda entre criador e criatura.
Apesar de toda essa peregrinação semântica a que passo a ser submetido, são esses últimos os mais caros para mim, textos inominados que, aparentemente, não revelam para que vieram, qual a sua utilidade, se devem, de fato, ser considerados como textos, se não se tratam de pura alucinação, se não são apenas anti-textos. O motivo para essa minha preferência é tão somente a oportunidade de, uma vez influenciado mentalmente por eles, aproveitá-los, promovendo o exercício da desconstrução – reconstrução - desconstrução de seus conceitos associados, negando-os, em tese, mas inaugurando, a partir deles, o “meu - deles” não – texto.
P.S. Caro leitor, não entre nessa viagem de “poça sem fundo”, - isso foi apenas o “meu dever de casa”. Assim como os cantores gargarejam para limpar a voz, da mesma forma, preciso por em dia a minha capacidade de argumentação, misturando palavras, intercalando períodos, mudando a ordem dos discursos e... até que deu um caldo, não foi?!