O Segredo
Carregava um segredo e esse segredo lhe dava medo só de pensar.
Pensar no segredo era proibido. Mesmo assim pensava.
Pensava e tinha medo.
Medo que o segredo deixasse de ser segredo.
Não compartilhava o segredo. Se não pudesse guardar o segredo, se contasse a alguém, como poderia esperar que esse alguém não o contasse a mais ninguém?
Esse alguém certamente contaria a outro alguém e esse outro alguém, que certamente prometeria não contar a ninguém, contaria a mais alguém.
Pois o outro alguém estaria prometendo a alguém que não era dono do segredo e que ouvira esse segredo do dono do segredo.
E quando esse outro alguém contasse a mais alguém, esse mais alguém poderia sequer conhecer o dono do segredo ou, conhecendo, não ter por ele qualquer simpatia.
E mais alguém sairia contando o segredo como se fosse uma coisa banal.
Quando mais alguém por fim contasse a alguém que conhecesse o dono do segredo e que não pudesse saber do segredo, tudo o que o dono do segredo deveria proteger estaria exposto.
E não seria mais segredo.
Por isso não contava a ninguém.