A saúde que conhecemos e a saúde que queremos.
Desde criança somos habituados a compreender a saúde como algo fundamental para as nossas vidas, sendo esta vista como ausência de doença. É com essa concepção também que muitos estudantes optam por fazer um curso de saúde.
Mas o que é saúde?
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), “é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença”. Por sua vez a constituição federal concebe a saúde como “um direito de todos e dever do estado”. Percebe-se, no entanto, que em tempos de redução do papel do Estado, as políticas neoliberais têm cada vez mais ganhado espaço, contribuindo com o entendimento de que a saúde é uma mercadoria e não um direito e dever garantido na constituição brasileira.
Nos anos 80, na contra - maré da história, a sociedade civil se organiza para reivindicar um sistema de saúde que assista a todos, de forma a atender às necessidades da população, priorizando-as dentro da especificidade de cada cidadão e considerando os indivíduos como protagonistas na busca de seus direitos. Essa luta se deu inicialmente através do movimento da Reforma Sanitária e culminou na construção do Sistema Único de Saúde (SUS).
Você utiliza o SUS?
O SUS está presente no nosso cotidiano, embora as pessoas não percebam isso. Desde a água que bebemos e tomamos banho, até a comida que nos alimenta, os produtos que consumimos e a atenção à saúde propriamente dita, tanto em serviços públicos quanto nos privados, o SUS se faz parte fundamental nas nossas vidas.
Há 19 anos atores diversos têm buscado implementar esse sistema, competindo com a desvalorização dele por parte da mídia , de profissionais despreparados, de neoliberais, de gestores corruptos, dos formadores conservadores e até dos próprios usuários, que desconhecem a ideologia e complexidade dele e não se dispõem a protagonizarem essa implementação.
Qual o papel da universidade na efetivação do direito à saúde?
A universidade é a responsável pela formação de profissionais de saúde que a compreenda como resultante de vários determinantes sociais (condições de trabalho, de higiene, de moradia, psicológicas, etc) e desta forma, deve nortear uma formação que se comunique com a sociedade e que faça jus aos impostos pagos por esta. É ela também a responsável por suprir o maior mercado de trabalho da área, o SUS, com profissionais capazes de trabalhar em grupos interdisciplinares, seja na atenção, na gestão e no controle social e preparados para assumir os desafios de implementá-lo num país cheio de disparidades sociais.
Qual é o seu papel nisso tudo?
Considerando o exposto, ser estudante de saúde hoje é muito mais que ter uma formação com informações técnicas que lhe conferem a capacidade de atuar a nível biológico. É também subsidiar-se de instrumentos que permitam se enxergar como protagonista de uma realidade que extrapola as patologias e que requer profissionais preparados tanto para a prevenção quanto para a promoção da saúde, entendendo o SUS como elemento fundamental de um projeto de sociedade justa, equânime e possível.
O papel do estudante, portanto, é ser sujeito de sua formação compreendendo que ela transcende as paredes da sala de aula e da universidade.
João Pessoa, 28 de janeiro de 2007.
Ângela Pereira e Lívia Milena.
Estudantes de fisioterapia,
respectivamente, da UFPB e da UFPE,
membros dos centros acadêmicos e
Integrantes da EXECUTIVA NACIONAL
DE ESTUDANTES DE FISIOTERAPIA(ENEFI).