O que é a verdade?

Tanto as ideias inatas de Platão, quanto o ceticismo metodológico de Descartes, que ensina a duvidar de tudo, até poder comprovar inequivocamente que é real, são facetas do racionalismo filosófico, que, mesmo parecendo convincente a muitos, não transitou sem oposição.

Entre os opositores mais notáveis, Aristóteles, Tomás de Aquino, John Locke, defensores do chamado empirismo. Para essa corrente de pensamento, nascemos como um CD virgem, e, pouco a pouco, mediante aprendizado, experiências, nosso saber se vai moldando.

Ambas as linhas de pensamento têm argumentos mui verossímeis, sem deixarem de ter seus pontos fracos. Se já nascemos com certo “conhecimento” armazenado no íntimo que, aflorará no tempo certo, nosso arbítrio se fragiliza, nos fazendo meros títeres do destino, Deus, ou, o que se acredite.

Por outro lado, se nossas “verdades” são meras tributárias de nossas experiências, a existência de valores universais, o absoluto, não faz sentido, pois, cada um terá suas experiências, apenas, como referencial, tendo assim, cada cultura, “verdades” diferentes.

Isso transportado para a arena teológica fatalmente colocará um gládio nas mãos de Armínio, outro, de Calvino. Aquele, defensor do livre-arbítrio, esse, da predestinação. Claro que, se centenas de homens mais hábeis que eu não lograram por termo à discussão com argumentos irrefutáveis, não seria eu a fazê-lo.

Mas, mesmo sendo um tanto temerário, tecerei umas considerações sobre isso. Meu arcabouço, porém, será mais espiritual que filosófico. Nem todos abordam nosso aspecto metafísico como dual, ainda que no campo verbal, usem os termos alma e espírito.

O espírito é nossa centelha divina, nossa partícula que traz “memórias” de Deus; noções de valores que, mesmo não os tendo experienciado, nos fazem interpretar como erros, certos modos de agir.

Minha alma é o que me faz único, ímpar, onde meus valores serão impressos mediante minhas experiências. A mensagem de salvação que permeia as Escrituras Sagradas, em momento algum fala em salvação do espírito, mas, sempre, da alma.

Em suas reflexões no Eclesiastes, Salomão dá como certos os destinos do corpo e do espírito humano, e omite a alma; “o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.” Ecl 12; 7

Por que isto? Porque o destino da alma dependerá de nossas escolhas, de nossa resposta à palavra de Deus. Essa, a alma, de per si, está morta; “No dia que pecares, certamente morrerás;” disse Deus a Adão. Essa morte, todavia, permite que continuemos respirando, mas, separados de Deus.

Assim como é impossível um homem falar com os animais, ( salvo no cinema ou nas fábulas) a comunhão com Deus não é possível senão, nos domínios do Espírito. Jesus que ensinou isso; “...Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” Jo 3; 3 Nos dois registros bíblicos em que animais falaram, houve motor espiritual; satanás agiu na Serpente, e o Anjo de Deus, na jumenta de Balaão.

Um homem de espírito morto, pois, é mero animal, como disse Davi; “O homem que está em honra, e não tem entendimento, é semelhante aos animais, que perecem.” Sal 49; 20

Assim, o homem natural que exige provas “científicas” da existência de Deus, fecha a porta na cara da visita e manda entrar. A fé não oferece nenhuma experiência “a priori”, mas, uma vez abraçada, tatua a alma de modo tal, que ela não consegue nem quer mais, negar a existência de Deus, ou abdicar do conforto de Sua presença.

O homem espiritual, pois, conhece muito sem ter aprendido, e aprende cada dia mais, em sua ditosa experiência de estar em paz com Deus. Nessa síntese empírico-racional, seu intelecto e suas emoções, encontram refrigério, pacificando seus conflitos.

A melhor maneira que o homem dispõe para se aperfeiçoar, é aproximar-se de Deus.” (Pitágoras)