O perfume da flor falsa

Como consegui ser tão leigo e cego por tanto tempo enquanto os sinais óbvios eram quase como luminosos gritantes a minha volta, mas estava tão entorpecido que não conseguia enxergar se quer um palmo a frente do nariz. Tomava as doses fortes da suave flor que mal sentia os espinhos que carregava e deixava-os marcar minhas mãos e corpo sem notar nada dos ferimentos, apenas o aroma doce.

Por tempos vivi aos devaneios e ocioso flutuava em seu mar alheio de falsas ondas, como uma figura imóvel sendo levada pela falsa enseada do teu ser. Bebi veneno por vinho, acariciei a face do maligno o tomando por nosso senhor, comprei o que já tinha pra vender o que não era, troquei certo por errado pra tentar fechar o grande e oco livro do passado. Fumei do melhor fumo possível e bebi nos melhores cálices como se realmente me importasse com algo bom além do meu falso cotidiano, fechei de vez os olhos, entrou ano e saiu ano e eu me negando a enxergar.

Sou cego por escolha, tomei por reta a linha torta, agora vivo de alucinações, sentido o cheiro de flor morta.

Tiago Silveira
Enviado por Tiago Silveira em 21/02/2013
Reeditado em 24/10/2019
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