Lutar, resitir e produzir!

O que são cerca de doze horas de vivência perto da história de luta daquele povo?

Para alguns, o primeiro contato com uma realidade bem diferente da que vivem e da que é reproduzida pela mídia. Para outros, uma experiência a mais com gostinho de novo, já que uma sempre difere da outra, trazendo um olhar mais reflexivo.

Colher novas informações nas falas dos dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra um dia antes da ida a campo foi, sem dúvida importante. De ouvidos bem atentos, perceber o que a sigla MST carrega consigo e transportar esse significado para a vivência. Assistir atenta à “Jornada Socialista” no Sábado à noite em comemoração ao aniversário de morte de Che Guevara. Incorporar-se à mística. Deixar-se levar pelas imagens das bandeiras de Che e do Movimento e pelo nome de Che escrito em auto-relevo no chão de terra batida na penumbra da matinha da universidade. Questionar algumas das incoerências do movimento, seja as trazidas pelas páginas do livro que lia,seja as que o motorista do ônibus argumentava com tanta certeza , ao longo do caminho, embora dissesse entender a luta dos “Sem Terra” e constatar a luta para romper com elas .

Três estágios diferentes representados na palavra de ordem do movimento “Lutar, Resistir e Produzir!”. Pequena Vanessa, Zumbi dos Palmares e Tiradentes, respectivamente, o acampamento recém-montado que se juntou às terras do Zumbi para garantir a segurança dos acampados, o acampamento em fase de transição para assentamento com oitenta e quatro famílias ansiosas por seu pedaço de terra e por suas casas e o assentamento, comemorando seis anos de existência exatamente naquele dia 09 de outubro de 2005, dia também do aniversário da morte de Che.

Perceber nas feições daquelas pessoas uma certa desconfiança dos mais velhos e a curiosidade dos mais novos, natural num primeiro contato. Notar a disponibilidade e a receptividade dos coordenadores que deixaram de realizar algumas de suas atividades do dia para nos acompanhar foram reafirmando a imagem do movimento que tenho construído dentro de mim desde os primeiros contatos.

Colher a cada passo dado ao lado de seu Raimundo, um dos coordenadores do Zumbi dos Palmares, uma nova experiência, uma nova concepção de mundo, uma posição política convicta e imaginar as vivências que fizeram seu Raimundo ser quem é hoje enquanto pessoa e enquanto líder . Ouvir dele a importância da formação, das horas de sono trocadas pelas linhas das cartilhas e das teorias–base do Movimento e perceber a alegria dele ao nos conduzir às áreas coletivas, enfatizando a necessidade da valorização do espírito de coletividade. Tudo isso também reafirmou em mim a necessidade de nos formarmos politicamente ,entendermos que a nossa luta deve transcender os muros da Universidade. Entendermos que querermos uma universidade melhor deve significar querermos um mundo melhor!

Entender também que é hora de fazer uma opção: ser opressor ou ser oprimido. A escolha em si não é difícil. Difícil é se manter na escolha! Lutar como o seu João e a dona Maria do acampamento Pequena Vanessa, resistir como o Luciano do Zumbi dos Palmares e produzir como a Dona Francisca do Tiradentes!

João Pessoa, 18 de outubro de 2005.

Ângela Maria Pereira.

Anja
Enviado por Anja em 16/03/2007
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