Vó
Há momentos, em que nem as folhas do dia acalmam. E dizem tanto para mim, quanto a vida diz a um recém-nascido. Oi, amor. É a sensação de quando ponho a planta dos meus pés no chão. Sem compromisso de estar construindo uma família, ou grande ardor a eles próprios.
É tão bonito como o mar e triste como o sol, que se queima para não tocar os outros. Que egoísta, que previsível. Não te pões a pensar nas crianças? Não sei se continuo tão parecida com a vida. Deixei de lembrar se ela é tão incrível assim como dizem.
Parece quadro de Monet, ou uma cadeira. Tanto faz. O sentido que eu dou a um pedaço de madeira é o mesmo que ele dá a mim.nisso, vejo sorrisos; ali enxergo. Chuva. Durma-te, porque haverá sempre os óculos da vó, para que eu ponha e veja lá atrás uma menina linda, de nariz insolente e de boca calada, que vivia com a irmã e com as outras irmãs, colhendo jabuticabas, subindo em cavalos, ensaboando panos, até que seus olhos já não pudessem mais ver cor neles. Isso tudo é bem simples.
Daí quando abraço a minha vó, sinto até a vontade dela de falar pelos cotovelos. Desvinculo-me da menina muda que ela era. Sinto de mais que se os pés me fogem há dias, me amontoo lá na minha vó e costuro todas as ruguinhas dela com o meu pensamento.
Então, quando das sinapses eu me for, e não souber mais como se aperta uma caneta, ou como se aperta a mão de alguém, me sentirei a mais feliz das vidas, por participar de novo do mundo!