A luz um dia brilhou!

Ai meu Deus! Quantas noites aquecidas e muito bem dormidas, que jamais serão esquecidas.

Na velha casinha construída com sacrifício pelos pais da gente, na cidade do interior, quando a luz lá chegou nossa vida, também, se modificou!

Na escuridão da noite quase sempre a mãos tateavam e procuravam, rente à parede, a "pera" mágica que afastava o medo da nossa mente e impedia os velhos de tropeçar no antigo urinol!

Um click se fazia, na escuridão, e rapidamente tudo se iluminava, para a alegria de quem já não mais respirava as fuligens das velhas lamparinas de querosene que ficavam no alto das paredes!

Com a luz, um universo de imagens e sons diante de nós, pobres caipiras, também logo se manifestou. Pois, com ela e para a nossa alegria, também, o rádio chegou.

Foi todo um mundo que se transformou. Já que, aos poucos, a música o nosso coração de criança intensamente tocou e as novelas, de grandes riquezas de fantasias, junto com as noticias e as propagandas, nossa pueril imaginação povoou.

Bendita sejas eternamente tu, oh luz!

Luz que um dia lá em nossa casa brilhou, para acabar aos poucos com os nossos medos de criança, que faziam desfilar na escuridão, das noites frias e sem luar, os fantasmas e as mulas-sem-cabeça, das histórias muito bem contadas pelos nossos queridos e saudosos velhos, na beira do fogão ou junto às fogueiras em nossos quintais.

Foste tu, oh luz brilhante, que nos fez trocar os encantos, que se revelavam na escuridão, pela força da imaginação, que sempre era estimulada pelas aventuras das histórias radiofônicas e movimentadas pelos sons das mais belas e puras canções!

Hoje, bem sei que para meninos como eu a chegada da luz, promovida pela eletricidade, lá no interior, foi um marco de diferenciação. Como um rito de passagem, que na verdade muitos não querem não!

Hoje, também sei que, entre computadores, vídeos-game, smarts phones, internet e televisão, pouco se estimulam a mais rica das faculdades da Alma, que é a simples imaginação. Pois, tudo vem pronto, acabado com a fria lógica da ciência e da razão.

Já não se deixam viver medos e profundas emoções que faziam nós, nos “antigamentes”, nascer fé e que, tão logo amadurecíamos, permitia também surgir religiosidade em nossos corações.

E o romantismo então? Onde anda com sua força natural, que refinava nossos comportamentos e sempre nos faziam elegantes e suaves, diante das possibilidades das conquistas de jovens ainda pueris, que desfilavam diante do coreto na praça central?

Coitado, anda fora de moda! E, já não encontra morada nos recônditos das novas Almas, que vivem com pressa e sem a prática da sensibilidade e da percepção e que, por essa razão, infelizmente, não sabem o que é o encantamento das mais simples paixões.

É. A luz iluminou minha existência e clareou a minha mente. Além de me permitir progressos e me levar para os bancos das faculdades, onde aprendi lições.

Mas o tempo me fez velho e hoje sou quase teimoso, quando brinco com as palavras ao brilho da luz que clareia a minha memória e me traz belas recordações.

Às vezes, me chamam de velho romântico e até mesmo ultrapassado. Mas, queiram ou não, vou continuar vivendo e recordando coisas que só o passado me ofereceu. E também tentando, a luz do meu novo computador, minhas reminiscências de alguma forma imortalizar, através das fortes palavras que brilham em mente sem cessar.