Síndrome do Poeta ou Síndrome de Espanca: um ensaio

Há um tipo de dor que não parece vir de nenhum outro lugar se não do âmago da alma, pode se dizer que é uma dor que vem, ou parece vir, da própria existência; uma Dor oculta, uma algia mental, na qual não pode ser tangível ao corpo. No entanto, não se pode chamar de “crise existencial”, pois não é por falta de identificação da existência, pelo contrário, é por encontrar a identidade de sua existência, a própria Dor de existir, que sente essa convulsão espasmódica e irreverente nas profundezas de seus pensamentos.

Chamo esse fenômeno patológico de Síndrome de Espanca, em homenagem a Florbela Espanca, mais especificamente ao seu “livro das mágoas”, na qual demonstra expressivamente, principalmente nos sonetos “Minha Dor” e “Lágrima oculta”, os sintomas respectivos dessa dor. Importante lembrar que essa dor, aqui descrita, não é a única coisa que formará um poeta, aliás, pode muito bem não formar Poeta algum, um poeta é muito mais alguém que consegue brincar com as palavras e tem fome de criar, e pode nem ser para escrever sobre uma Dor oculta.

Além disso, há mais uma coisa a ressaltar: A Síndrome de Espanca não é decorrente de um fenômeno físico, mas sim metafísico. É a criação artificial de um dogma existencial (no caso, da Dor oculta). Por se tratar de um dogma, ela pode também ser categorizada como um tipo de loucura.

Entendo por loucura, tal como descrito em Foucault, um sujeito que perde a razão ou a capacidade de raciocinar. A razão (lógos) é a faculdade cognitiva e mental que nos permite questionar e conjecturar sobre alguma coisa – no momento que se tem certeza absoluta sobre algo, está se falando de um indivíduo louco, isto é, impossibilitado de usar a razão sobre a coisa de que tem certeza (pois o que se tem certeza já não se duvida, já é certo). Dessa feita, para o caso do sujeito com Síndrome de Espanca, ele tem certeza total e absoluta de sua profunda Dor existencial ao ponto de interferir plenamente em todos os seus pensamentos e atividades. Com efeito, essa Síndrome pode ser mortal não fisicamente, mas psicologicamente, pois pode levar a: depressão (inclusive nervosa) suicídio, desvios de personalidade e fobias diversas. Só não pode, outrossim, levar a crises existenciais; pelo contrário, por estranho que possa parecer, a crise existencial é o que pode claramente “curar” ou, melhor dizendo, marcar o fim dessa síndrome. Nesse sentido, o paciente que sofre de Síndrome de Espanca precisa criar um propósito muito mais confortável para a sua existência e só assim romper com o seu dogma da profunda Dor que intui de seu ser.

Vitor Costa
Enviado por Vitor Costa em 03/02/2013
Código do texto: T4121533
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