O Troglodita

Xexeu (pai): Filho de rapariga, cala essa tua boca! Para de chorar, seu filho de rapariga!

Bebê: Hummmmmmmm...AAAAAAAAAI...!(Abre o bocão)

Xexeu: Caladooo! Senão vai apanhar! Vai levar porradaaaa! Eu já não falei pra parar, filho de quenga ruim!

Bebê: Pai, quero almoçar! Tou com fome.

Maria (mãe): Bebê, tome o seu almoço; tá aqui. Coma!

Bebê: Mãe, depois posso ir brincar?

Maria: Pode, filho!

Xexeu: Nãoooo! Só brinca se comer toda a comida!

Bebê: Papai, vou comer tudo, o senhor vai ver.

Xexeu: E se não comer, vai levar um safanão bem nas ventas.

Bebê: Tá bem, papai. ( o menino come tudo)

Xexeu: Já vou, mulher, preciso trabalhar senão a coisa fica feia nessa joça. (sai feito um doido)

À noitinha

Xexeu: Cadê minha janta? Ainda não fez, sua fdr? É porque não é tu que fica até agora trabalhando! Chego leso de fome e o fogão tá apagado.

Maria: Calma, amor! Vá tomar o seu banho, que já apronto.

Xexeu: Calma, é? Se fosse tu, aí eu queria ver se dizia calma!

Maria: Calma, home! Já...já tá pronto!

Xexeu: (sai do banho, a mesa está posta) Não aguento mais, tou

brocado acabando de fome.

Maria: Tá tudo pronto, é só comer. Parece que vai morrer...tá esganado, é?!

Xexeu: Caladaaa! Só eu sei o que passei naquele inferno de trabalho!

E chegar em casa, nada feito ; a mulher só de boa. Cala a boca, se não vai levar uma mãozada!

Maria: Tá bem, não está mais aqui quem falou! (sai de perto)

No outro dia cedo.

Xexeu: Põe meu café, já tou atrasado.

Maria: Tá na mão! Vai querer suco? Se quiser, eu faço.

Xexeu: Vou, e tu sabe que sim.

Maria: Bem, arranja um dinheiro que vou fazer umas compras.

Xexeu: Quando eu voltar; mais tarde eu te dou.

Maria: Tá bem.

Xexeu: Tou indo. (sai correndo)

Ao meio dia.

Maria: Tá na mesa o seu almoço.

Xexeu: Assim é que eu gosto!

Maria: Benzinho, tu vai me dar o dinheiro?

Xexeu: Mais é interesseira! Quando é pra pedir dinheiro, é tudo a tempo e a hora!

Maria: Não é verdade. Deixe de ser ingrato! Faz dez anos que faço tudo pra ti com maior carinho e amor. Vai, me dar logo a grana!

Xexeu: (saca uma nota de $100,00) É isso que tenho, outro dia dou mais.

Maria: Benzinho, isso aí não dar pra comprar quase nada! Tou precisando de sapato, calcinha, e outras coisinhas.

Xexeu: Se não quer esse, me devolve. Eu já te disse, que vou te dar mais outro dia.

Maria: (guarda a nota no seio) Você nunca tem pra mim, mas pro bar o bolso tá cheio.

Xexeu: Não é minha a grana?! Tá achando ruim, dê seus pulos.

Maria: É o que tenho de fazer mesmo! Vou vender avon. Faturar o meu próprio dinheiro.

Xexeu: Isso lá dá dinheiro! Só não quero que amanhã ou depois, eu tenha que pagar as tuas dívidas.

Maria: (nem responde e sai)

Uma semana depois

Maria: Amor, olha aqui, o meu kit de venda: Catálago, amostras dos perfumes... Ei, tá tudo pronto aí; o seu almoço tá em cima do fogão. Tchau, vou na casa da Vera, mas volto logo; vou vê se vendo alguma coisa.

Xexeu: Como é a história? Tu não vai pôr minha comida?

Maria: Tenho que ir atrás das minhas clientes.

Xexeu: Pois fique pra lá com elas e não volte mais. É, porque eu não quero mulher que não cumpre com as tarefas domésticas!

Maria: (a mulher dá às costas e sai assim mesmo).

fim

Qualquer semelhança é pura realidade!

De acordo com o site R7.com, 56,8% dos brasileiros vivem com o salário mínimo. Essa é a pura realidade dos jovens casais brasileiros. Jovens que não estudaram e se matam de trabalhar pra sustentar suas familias pra o patrão enricar.

Inspirado num jovem casal de vizinhos meus aqui do Bessa. Não dá pra acreditar que uma mulher viva uma situação horrenda dessa em pleno século XXI. Mas, o que fazer quando fizera a pior escolha, casar quando não tinha estrutura de vida?O pior é que o casal tem dois filhos e vivem nesse mundo de maus-tratos.

Quando eu tinha 19 anos, não havia acabado o colégio, recebi um convite de casamento (com flores e bombom) de um rapaz chamado Rui. Ele era tudo que uma moça poderia querer; um amor de rapaz! Trabalhava na prefeitura de João Pessoa. Acabei o namoro na hora, pois aquilo não era o que eu desejava. Não queria esse tipo de vida pra mim. Lembro como se fora hoje, ele chorou muito no portão de casa. Tive muita dó. Mas, menos mal. Ele foi namorar a Cleide, minha vizinha.

Lourdes Limeira
Enviado por Lourdes Limeira em 28/01/2013
Reeditado em 30/01/2013
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