O trem chiou a um palmo de distância de seus pés. Lembrou-se da perna presa no vão da plataforma e entrou com cuidado. O primeiro vagão estava cheio de gente vazia, duas velhinhas conversavam em pé porque as cadeiras reservadas aos idosos estavam ocupadas por jovens que sorriam zombeteiros. Outras pessoas penduradas nas barras de ferro disputavam um lugar para colocar as mãos. Olhou atentamente, com certeza, não era ele.  Não guardara maiores informações na memória da fisionomia de seu herói. Mas aquele homem não usava terno. Não era o cavalheiro que a ajudara no dia do acidente na plataforma. Imagens desfilam velozmente na janela do trem, aos poucos, a máquina perde velocidade, e uma voz anuncia:
 
Próxima estação, Estação Carioca. Desembarque pelo lado direito. Next stop Carioca station, landing on the right side.
 
Pensou em telefonar para Morgana. Sempre que se sentia em baixo astral, ligava para a “Morga” e ela recitava alguma poesia, na maioria das vezes, de autoria da própria Talita.
— Sabe quem disse isso? “Se te sentes triste, solte a gaivota que há dentro de ti... grite, faça voos rasantes sobre o espelho das águas, depois, pouse no  capelo de um  navio.
Esta abordagem fez lembrar-se do pássaro de Bach. “Sim, Fernão é o nome dele”.