Desce Mais Um Copo.
Eu falei pra ela, garçom. Eu falei tudo o que eu sentia, o quanto eu me arrependia, mas não teve jeito. Ela estava linda, cara. Sem nenhum defeito, linda pra outro. Eu falei que a amo e me arrependo, que fui um canalha, um sem juízo e bom senso, mas ela mal quis me ouvir. Eu disse que não durmo, nem como há dias e vi as feições dela mudarem de desprezo pra pena. Pena, garçom. Pena. Pena de mim, aquela mesma mulher que me amou tanto e tão ingenuamente. Mulher não, menina. Mulher foi o que ela se tornou. Minha pequena, garçom, eu já não sei lidar mais com ela. Ela era tão frágil e doce, tão minha. Eu pisei na bola, garçom. Pior que isso, pisei nela. Fiz dela um chiclete na minha sola, pisei demais e depois não conseguia tirar. Tirei, finalmente. Mas maldito chiclete, garçom, sem ele eu não consigo andar. Ela mal olhou pra mim, foi tão monossilábica. Perdeu a doçura nos olhos, a ternura nos gestos. Não é mais a garotinha que eu joguei no lixo, sabe? Não é mais aquela garota boba que eu enganei por tanto tempo. Ela traz mágoas nos olhos e no coração. No final, eu consegui olhar no fundo daqueles olhos fundos que não couberam as lágrimas que trannsbordaram por minha causa. O remorso, garçom, eu não consigo suportar. Eu quis do fundo da alma que ela tirasse aquela indiferença dos olhos e voltasse a chorar por mim. Eu não tenho jeito, garçom. Eu sou o mesmo egoísta de sempre.