Castelo de Vidro

Vamos deixar uma coisa bem clara?

Parente não é o mesmo que amigo. E vice-versa.

Isso quer dizer que desde que voce se entenda por gente, deve saber estritamente a diferença entre um e outro para não confundí-los. Embora haja uma possível semelhança entre ambos, ou a tradição social insista em desmentir isso.

Um pai, por exemplo, não é obrigado a gostar de um filho.

Assim como uma filha não é obrigada a morrer de amores por uma mãe ou seus avós, e outros tantos parentes com quem se tem uma ligação - embora pouco ou nunca antes tenham se visto.

Irmãos não tem a obrigação de se adorarem mutuamente.

Tias e tios não são necessariamente, pessoas confiáveis com quem se pode conversar de peito aberto sobre assuntos íntimos.

Primos não nos dão garantias de serem boas companhias quando os solicitamos.

Assim como sobrinhos podem não se tornar o modelo ideal para se manter em nosso convívio.

Em suma, família é como um castelo de vidro, formado por pessoas deferentes, com objetivos e visões de mundo diferentes. E que apesar disso tem como consequência o laço sanguíneo em comum, independente do sentimento que se nutre entre os seus entes.

Pois o querer bem, dedicar respeito, afetividade e compreensão, é uma escolha individual que antes de mais nada, passa pelo crivo da sintonia existente ou não entre cada membro.

Sendo que cada um só pode doar aquilo que tem e realmente sente.

E isso vai muito além do grau de parentesco. Pois como já mencionado, trata-se de uma decisão.

E por falar em parentes, esses muitas vezes são uma pedra no sapato de muita gente. Pelo simples fato de que são seres que voce não escolheu, e com os quais muitas vezes não se tem a menor afinidade. Mas que estão intrinsecamente ligados à sua trajetória existencial, à quem da sua vontade própria.

E que assim como as demais pessoas do mundo, voce também deve aprender a lidar com eles.

Existem aqueles que são naturalmente amáveis, respeitosos, abrangentes e agradáveis.

Em contrapartida, também não faltam os arrogantes, mal educados, inconvenientes e insensatos, que sempre se acham no direito de especular e invadir a privacidade dos demais parentes, ou opinar sobre aquilo que consideram ser o melhor a ser seguido ou necessário.

Não é por acaso que estas pessoas são na maioria das vezes, mal resolvidas, frustradas e desiludidas em sua vereda de insatisfação pessoal. Alheias ao bem que fariam a si mesmas caso procurassem se ocupar menos com o que não lhes diz respeito, e tratassem de buscar uma melhoria em qualidade de vida.

E Não. Não é preciso recorrer às palavras bruscas para corrigir os erros que por estes venham a ser cometidos.

Basta tão somente ser quem voce é na íntegra.

Agir naturalmente de acordo com os seus princípios, para ensinar-lhes em silêncio, o que se gastaria em tempo para ser dito.

Acredite, não há resposta mais perturbadora e eficiente que o desprezo.

Porque ignorar unicamente só alimenta ainda mais o mal cometido.

A pessoa continuará falando e agindo como se nada antes tivesse acontecido.

Ainda mais se lá no fundo tiver plena certeza de que mesmo incomodado, voce por ser educado, não se dará uso da veemência para retribuir o agravo sofrido.

Desse modo, faça a sua parte afastando-se o máximo que puder.

Não se intimide em ser um parente ausente.

Imponha seus limites.

Ergue barreiras para se proteger.

Pois esse é um direito legítimo!

Por mais que no começo isso lhe doa ou dê aos críticos de plantão mais um motivo, voce ganhará tempo para se dedicar a quem de fato mereça a sua atenção. E estará livre de cumprir certos compromissos familiares pré-estabelecidos, como ter que participar daquela festa chata e mal planejada, ou o almoço inquisitório do domingo.

Tenha em mente que o afastamento em si não é a execução da mágoa, ou qualquer tipo de sentimento corrosivo contra aqueles com quem, por alguma razão voce se envolveu em atrito.

Trata-se tão somente em estabelecer como meta a sua defesa e a prevenção contra males que tanto podem ser evitados quanto dissolvidos.

Sem se furtar em ser solidário e prestativo sempre que for imprescindível. Abrindo caminhos para uma futura e pronta reconciliação.

Pois afinal de contas, parente é um elo indestrutível.

E em nome da solidariedade humana, esquecer os desafetos familiares e dar as mãos, é o princípio fundamental para fazer desse mundo um lugar ainda mais bonito.