Ao Tempo

Tempo, o passar dos ponteiros do relógio, esse pequeno universo que se repete a cada segundo em nossas vidas, sempre o tive como um aliado na vida e sempre achei entender os eventos que se ocorriam dentro dos seus domínios, dividi a vida em turnos, fazer uma coisa de cada vez porque tudo tem seu tempo, hoje, me sinto traído por ele, como se tivesse sido amigo de alguém que nunca fora meu também, alguém que parece me cobrar minha postura passada.

Posso cometer injustiça com a única força do universo que sempre foi presente e pareceu olhar por mim, pois me sinto um ponto escuro, vácuo, aos olhos de Deus e dos santos e que minhas orações são ditas para as paredes do quarto e não alcançam qualquer um dos sete céus sobre nós, agora também abandonado pelo tempo, velho amigo.

Através de seus ponteiros encontrei um amor maior do que poderia imaginar ser possível, a paciência de esperar a lenta caminhada pelo coração dela me fez ter sucesso e por todo o período em que vivi este amor, você esteve presente em nossas declarações trocadas: Te amo por hoje, amanha e depois; te amo pra sempre; te levarei por todos os meus caminhos; te amo por todos os tempos da minha vida.

Quem não há de se sentir seguro por sentir que ama e é amado até o fim da vida e depois? Eu era feliz por isso, era seguro por ter encontrado O amor e sob tua benção, sabendo que momento algum iria terminar.

Mas terminou, terminou pelas horas de estrada que nos separam, terminou pela falta de tempo que tínhamos um com o outro e agora me sinto sem Deus, sem santos, sem tempo. Absolutamente abandonado por tudo, pela minha incompetência em me expressar falando, só conseguia me expressar com exatidão a ela.

Vejo tantos amores menores, sem respeito, vivos por aí e o meu, o maior de todos, que para não ser perfeito só tinha o problema da distancia, morrer assim, me faz perguntar por qual merecimento recebi este golpe.

O amor não morreu, eu vi que não, encontrei-a e na minha frente estava a mesma que me acompanhou esses meses, o mesmo cheiro e beijo, o meu amor estava ali, mas que amor vai resistir sem o beijo e o abraço? Que amor de unir corpos vai sobreviver ao se tornar amizade comum? Como vou ser testemunha de vê-la cometendo o erro de unir-se a outro, se ninguém chegará perto do amor que sinto por ela?

Você só nos deu momentos perfeitos e minha relação acabou por isso, não entendo como pode haver queixa do casal que só teve momentos perfeitos... Não entendo muita coisa... Tu eras meu aliado para o futuro, um futuro armado, feito, pronto para começar, cinco anos e viveria uma vida perfeita ao lado da mulher por quem eu morreria se precisasse.

Não precisei morrer, mas estou morto, o peito pesa com o vazio deixado e os olhos quase choram todos os dias, a noite pedi o fim do meu tempo, sem qualquer intenção dramática pedi para morrer do coração a noite, para acabar essa dor.

Me sinto perdido, não sei se subo uma montanha para gritar ou mergulho no mar e me deixo lavar por suas águas, nada disso me trará de volta porque o remédio da minha doença esta na boca dela e não mais receberei, ontem dei meu ultimo beijo de amor e tenho medo de me juntar ao time dos amargurados e contar aos meus filhos (tidos com uma mulher que não amo) sobre o grande amor da minha vida que passou e não sei por onde anda.

Hoje, tenho medo de dar tempo ao tempo, ele que me deu e me tirou a sensação de estar vivo, tenho raiva de musicas de amor, tenho raiva de me identificar com “O cara” da musica, pois tudo que lá esta sendo cantado, eu faria ou fiz, mas de mais nada adianta.

Amei e amo muito, não sei se um dia deixarei de amar porque ainda que consiga colocar este sentimento dentro de uma caixa, quando vê-la tudo voltará a flor da pele, nossas bocas não foram feitas para beijar só os nossos rostos. Agora não me restou qualquer esperança de nada, só me resta crer que seja atendido meu pedido noturno e dar um fim a tudo isso.