Mestres e Discípulos
(Dedicado à turma de formandos 2012, 5º ano, da Escola Bom Jesus - Alcobaça, Bahia)
Mestre: ah, meus queridos alunos! Para mim é muito difícil depois de tantas lutas ter que, agora, deles me separar.
Tempo: mas é sua obrigação, pois melhor momento não há, faz parte da vida e eles têm que continuar.
Mestre: e quem ensinará para eles, daqui por diante, nos desafios que terão em outro lugar?
Tempo: eu ensinarei para eles, como tenho ensinado a todas as vidas, até mesmo a você, para aqui chegar.
Mestre: e quem é você que está presente em todas as vidas, e vive sempre a ensinar? És por acaso professor? Queira se identificar!
Tempo: não sei se sou professor, mas posso ser auxiliar, eu sou o tempo, que por estar sempre presente, muito lhe ajudei no passado e no seu futuro, para lhe ensinar, também estarei lá.
Mestre: oh, tempo! Quando foi que me ajudaste que não consigo me lembrar?
Tempo: os alunos por quem hoje lamentas em ter que se separar, são os mesmos por quem te preocupaste quando começaram a juntos estudar. No desafio de conviver e a responsabilidade de educar, para hoje aqui chegar. Foi comigo que contastes, e só por isso aqui está.
Mestre: agora que falaste, consigo me recordar, o desafio foi grande, foi longa a caminhada e há muitos anos já. Juntos fizemos muitas coisas: cantamos, passeamos, brincamos, choramos e quando foi preciso, não deixei de com eles brigar, mas o mais importante na vida, é que por todo esse tempo juntos, estudamos e até numa família nos tornamos, pra melhor verdade falar.
Tempo: não precisa agradecer, mas fui eu que ensinei a vocês como era cada um, e a melhor forma de agradar, a melhor forma de brincar, e pra colocar um tempero, ensinei também como provocar e um ao outro zoar.
Mestre: tempo por favor me responda, em parte convenceu-me a aceitar, a partida dos meus alunos, pois sei que só assim cada um crescerá; mas será que eles estão seguros e medo de partir neles não há?
Tempo: muitos estão afoitos, doidos pra logo chegar, a hora de conhecer novas escolas, novos colegas, novos professores, os lugares de estudar e principalmente brincar; outros estão cautelosos, com receio do que vai lhes esperar, mas darei conta, e a todos colocarei, a seu tempo, cada um em seu lugar: no afoito porei freios, para no rítmo dos outros andar; aos mais cautelosos, com a experiência darei segurança, para que todos juntos cresçam, e lá no futuro, mais uma vez nos encontremos, em outro momento de se formar.
Mestre: tempo, suas palavras são sábias e muito pode me confortar, já tenho forças para entender a minha separação dos meus alunos, mas há uma ultima pergunta que em mim não quer calar. A gente sempre há de aprender e tu sempre há de ensinar? Quando finda tudo isso e quando haveremos de descansar?
Tempo: primeiro, jamais se separarás daqueles com quem convivestes, ao menos na memória, um ao outro sempre há de levar; por isso dos seus alunos jamais se separarás, nem seus alunos de você, juntos para sempre vão estar. Quanto ao tempo de aprender e descansar, para isso, enquanto houver vida, tempo também sempre haverá; mas descansa na vida com todo tempo do mundo, aquele que aprende que no mundo é sempre tempo de recomeçar; recomeço para quem vai e para quem há de ficar; para os professores que ficam, os alunos irão, mas outros alunos hão de chegar; para os alunos que vão, o professor e a escola fica, mas outra escola e outros professores estarão a lhes esperar.
Mestre: tempo, agora sei que também é professor, por isso lhe convido, para juntos nos despedirmos dos alunos a se formar: (as duas vozes falam juntas) adoramos tudo o que passamos juntos, principalmente de estudar, juntos aprendemos muito, disso sempre vamos nos lembrar, que vocês tenham coragem e sucesso na vida, porque são vencedores e gostam de lutar, é pra isso que os professores, a cidade e até o tempo, veio aqui pra lhes testemunhar e parabenizar.