No meio do fim.

Num desses dias em que a madrugada nos rouba, como quem não quer nada, tudo é silêncio, ela quer existir em nós. Um segundo livre, e já corro para um poema. Leio como se bebesse água. Já dizia Pessoa, "navegar é preciso, viver não é preciso".

E é num desses encontros de gênios que tudo desconcerta. Depois de Pessoa, foi a vez de Manoel de Barros vislumbrar minha visão "as coisas muito claras, me noturnam". Mas que madrugada essa insônia me proporcionou. Brotou de leve entre meus dedos que agarrados estavam no copo, palavras...

Estou a navegar na luz que

escurece uma parte do dia

ansioso para saber o que

num fio, o fim nos guarda.

Lembro que viver não é

preciso e venho a lembrar

que não vivo e sim existo

criação, tudo crio, fui criado.

Noite sempre é que puxa

seus olhos de gato preto

captam uma luz e reflete

sombrio minha sombra.

E agora Drummond
Enviado por E agora Drummond em 21/12/2012
Código do texto: T4046351
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.