Dualidade versus Unidade

Dualidade versus Unidade

Vivemos num plano de dualidade.

Todas as nossas experiências são filtradas por uma consciência dualista.

O estado de dualidade é angustiante porque oscilamos entre alternativas opostas; percebemos a vida como uma série de acontecimentos que classificamos como bons ou maus. A dualidade mais assustadora é a que separa a vida e a morte. Sabemos, no entanto , que existe uma consciência superior num plano unificado e que a felicidade maior consiste em estar em contato com essa consciência.

Esforçamo-nos para alcançar a unificação, mas como chegar a ela sem renegar partes de nosso ser atual ?

A compreensão deste artigo somente pode ocorrer à medida que cada um penetrar nas camadas profundas de seu inconsciente, o lugar onde se aplica o que dissemos.

Há dois modos básicos de considerar a vida e o eu. Em outras palavras, existem duas possibilidades fundamentais para a consciência humana: a do plano dualista e a do plano unificado.

A maioria dos seres humanos vive principalmente no plano dualista, onde se percebe e vivencia tudo por oposições: ou ... ou , bom ou mau, certo ou errado, vida ou morte. Ou seja, praticamente tudo o que você encontra, todo problema humano, está moldado por este dualismo.

O princípio unificado combina os opostos do dualismo. Transcendendo o dualismo, você transcenderá o plano dualista, e por isso a maioria das pessoas experimenta apenas um sabor casual da perspectiva ilimitada, da sabedoria e da liberdade do plano unificado.

No plano unificado de consciência não há opostos. Não há bom ou mau, não existe certo ou errado nem vida ou morte. Há somente bom, somente certo, somente vida. Entretanto, não se trata do tipo de bom, de certo ou de vida evidenciado por um dos pólos opostos do dualismo.

O tipo a que nos referimos transcende ambos os extremos e é totalmente diferente tanto de um como do outro. O bom, o certo e a vida que existem no plano unificado de consciência unem os pólos dualistas, fato que elimina o conflito. Esta é a razão por que viver num estado unificado, numa realidade absoluta, cria a felicidade, a bem-aventurança, a liberdade ilimitada, a plenitude e aquela realização infinita de potenciais que a religião chama de céu.

Em geral, pensa-se que o céu é um lugar situado no tempo e no espaço. Obviamente, não é isso que acontece. O céu é um estado de consciência que pode ser concretizado a qualquer momento por qualquer entidade, quer seja um ser humano em carne e osso, quer se trate de alguém que não vive num corpo material.

O CAMINHO PARA O PLANO UNIFICADO É A COMPREENSÃO

O estado de consciência unificado é alcançado através da compreensão ou da sabedoria. 

A vida no plano dualista é um problema constante. Você tem de lutar contra a divisão arbitrária e ilusória do princípio unificado, divisão essa que cria as oposições que, por sua vez, dão origem aos conflitos. Esta criação de opostos irreconciliáveis gera a tensão interior e, como decorrência, o conflito com o mundo externo.

Vamos compreender um pouco melhor esta luta peculiar e, portanto a situação humana.

Apesar de seu desconhecimento e inconsciência dele você já tem um estado de mente unificado no seu verdadeiro eu. Esse verdadeiro eu encarna o princípio unificado. Mas, mesmo os que nunca ouviram falar disso, têm um anseio profundo e uma sensação quase totalmente inconsciente de um estado mental e de uma experiência de vida diferentes daqueles que conhecem. Eles aspiram à liberdade, à felicidade e ao domínio da vida que o estado de consciência unificado proporciona.

Esse anseio é mal interpretado pela personalidade, em parte porque ele se constitui numa aspiração inconsciente à felicidade e à realização. Mas procuremos entender com mais precisão o que essas palavras realmente significam.

Elas traduzem a unificação dos opostos dualistas, de modo a não mais haver nenhuma tensão, nenhum conflito, nenhum medo. Consequentemente, o mundo torna-se vivo e o eu é o mestre, não de um modo tenso e hostil, mas no sentido de que a vida pode ser exatamente o que o indivíduo decide que ela seja. Esta liberdade, domínio e regozijo, esta libertação, tudo é buscado consciente e inconscientemente.

A interpretação errônea desse anseio acontece em parte porque ele é inconsciente – apenas uma sensação vaga enterrada no fundo da alma. Mas, mesmo quando existe o conhecimento teórico de tal estado, ainda assim é mal interpretado por uma razão diferente.

Quando a liberdade, o domínio, a unificação e o bem-estar resultantes do estado unificado de consciência são buscados no plano dualista, disso resulta um conflito enorme, porque é absolutamente impossível alcançar essas realidades nesse plano.

Você luta para que a realização de seu anseio profundo transcenda e encontre, fundo em você, um novo estado de consciência onde tudo é um. Ao procurar isso num plano onde tudo é dividido, você jamais encontrará o que busca. Você se desesperará e se dividirá ainda mais em conflitos, pois a ilusão cria a dualidade.

Isso acontece particularmente com as pessoas que desconhecem essas possibilidades, mas ocorre também com pessoas mais preparadas espiritualmente, mas que ignoram as diferenças entre esses dois planos e também como podem aprender a transcender o plano dualista em sua vivência prática diária.

Quando o anseio vago pelo plano de consciência unificado ou seu conhecimento teórico preciso é mal compreendido - e, por causa disso, é procurado no plano dualista -  então, o que acontece é isto: você sente que existe apenas o bem, a liberdade, a justiça, a beleza, o amor, a verdade, a vida, sem um oposto ameaçador, mas quando aplica isto no plano dualista, você é imediatamente lançado no próprio conflito que procura evitar. Você então se põe a defender um dos aspectos dualistas em detrimento do outro. E essa opção sua torna a transcendência impossível.

Vamos demonstrar isso com um problema humano familiar do dia-a-dia para que todos possam compreender estas palavras de modo mais prático.

Vamos supor que você esteja em desavença com um amigo. Sob seu ângulo de visão, você está convencido de que está com a razão e que, por conseqüência, seu amigo está errado. Sob o ângulo dualista, tudo se reduz a ou ... ou.

Parece importar mais o resultado do que o fato em si, porque quando a intensidade das emoções é realmente testada, em geral ela não tem relação com a questão em foco. Ela se igualaria a uma questão de vida ou morte. Embora isso possa parecer-lhe irracional num nível consciente, no nível inconsciente estar errado significa, de fato, estar morto, porque estar errado significa ser negado pelo outro.

No plano dualista, seu sentido de identidade está associado com a outra pessoa, não com o seu verdadeiro eu. Enquanto você for apenas um ego exterior, você dependerá dos outros. Daí que uma simples rixa se torna uma questão de vida ou morte, o que explica a intensidade das emoções quando se trata de provar o acerto seu e o erro do outro. Somente depois de tomar consciência do Centro do seu ser, que corporifica a unificação, é que sua vida deixa de depender dos outros.

No plano dualista , todas as questões terminam ou em vida ou em morte. A vida se torna de fundamental importância para evitar a morte. Muitas vezes as pessoas temem tanto a morte, que se lançam para ela de peito aberto. Indivíduos assim não se livram do medo da morte. Bem ao contrário.

Sua luta constante com a vida, que resulta de seu medo e de sua luta contra a morte, os torna tão infelizes que acreditam não temer a morte. Essa é uma ilusão característica enquanto a vida é percebida no plano dualista; um lado é considerado mais importante e a pessoa luta por ele, enquanto o outro é visto como uma ameaça e a pessoa luta contra ele.

Enquanto você sentir que deve vencer porque considera o seu lado verdadeiro e o do outro falso, você estará profundamente envolvido no mundo da dualidade e, portanto, na ilusão, no conflito e na confusão. Quanto mais você lutar desse modo, maior se tornará a confusão.

Os seres humanos geralmente passam por períodos de aprendizagem que fazem parte de sua formação e tudo o que aprendem do meio em que vivem resume-se em que cada um deve lutar por si mesmo e contra o outro, seja qual for o número de opostos. Isso não se aplica somente às questões materiais, mas também aos conceitos e de maneira bem mais decisiva.

Toda verdade pode assim ser dividida em dois opostos, um ao qual se deve aderir como sendo o “certo”  e o outro ao qual se deve rejeitar por ser “errado”. Na realidade, entretanto, ambos se complementam mutuamente.

No plano unificado, não se pode pensar um aspecto sem o outro. Aí os complementos não são “inimigos” ou negações um do outro; é somente no plano de consciência dualista que eles se opõem. Neste, todo conflito se multiplica em subdivisões intrincadas da divisão dualista primária. Visto que tudo isto é produto da ilusão, quanto mais o conflito continuar, menos condições você terá de resolvê-lo e mais desesperançadamente você nele se enredará.

Retornemos agora ao nosso exemplo e demonstremos como isto acontece.

Quanto mais você tentar provar que seu amigo está errado, mais aumentará a fricção e você ganhará menos do que pensava ganhar pela tentativa de provar que você estava certo e seu amigo errado. Você acredita que, provando que está certo e seu amigo errado, este irá aceitá-lo e amá-lo novamente e tudo voltará a ficar bem.

Quando isso não acontece, você interpreta o fato erroneamente e tenta ainda mais, porque pensa que não provou suficientemente que você está certo e que o outro está errado. A brecha aumenta, sua ansiedade cresce e quanto maior o número de armas que você usar para vencer, mais profundas serão suas dificuldades, até o ponto de prejudicar a si mesmo e ao outros e de agir contra seus próprios interesses.

Então surge um conflito ainda maior decorrente da primeira divisão dualista. Para evitar uma quebra total com todas as ameaças reais e imaginárias que esta pode provocar – porque o dano real começou a ser forjado -  você enfrenta as alternativas de ter de ceder para apaziguar seu amigo e para evitar maiores danos a você mesmo, ou de continuar lutando.

Por ainda estar convencido de que existe um certo versus um errado, a atitude de apaziguar o priva de seu auto-respeito e você luta contra isso. Quer utilize essa “solução” ou não, você estará dividido entre lutar ou submeter-se. Ambas as situações criam tensão, ansiedade e danos interiores e exteriores.

Assim, uma segunda dualidade se desenvolve a partir da primeira.

A primeira é “Quem está certo e quem está errado? Só eu posso estar certo. Se não for assim, tudo estará arruinado” 

A segunda é: ou ceder a um erro que você não pode admitir, por tratar-se de um erro absoluto, ou continuar lutando. Em certo sentido, admitir um erro significa morte. Assim, você se defronta com as alternativas: admitir o erro, o que significa morte na psique profunda, para evitar conseqüências danosas e a possibilidade de um risco real, pondo sua vida em sério perigo, novamente a morte, no seu sentido mais profundo, ou insistir em que você está totalmente certo.

Para qualquer lado que se volte, você vê morte, perda, aniquilação. Quanto mais você luta a favor ou contra, menos há para lutar a favor e mais todas as alternativas se voltam contra você. A ilusão de que um dos lados era bom e o outro era mau o levou à etapa seguinte, inevitável nessa rota de ilusão, que é que todas as alternativas são más. Toda luta dualista está fadada a conduzi-lo a mais armadilhas, sendo todas produtos da ilusão.

Logo que você decide pelo caminho que conduz ao princípio unificado, imediatamente o que de início lhe parecia um bem certo e um mal definido perde sua característica e você inevitavelmente encontra o bem e o mal em ambos os lados. Ao aprofundar-se nesse caminho, todo o mal desaparece, permanecendo apenas o bem.

A via ao princípio unificado conduz às profundezas do verdadeiro eu, à verdade que está muito além dos interesses medrosos do pequeno ego. Quando a pessoa desce a essas profundezas do eu para encontrar essa verdade, ela se aproxima do estado de consciência unificado. Nosso exemplo é bem comum e pode ser aplicado a muitas situações do dia-a-dia, simples ou complexas. Ele pode tomar a forma de uma pequena rixa entre colegas ou de um conflito bélico entre países. Ele está presente em todas as dificuldades que o homem encontra, individual e coletivamente.

Enquanto permanecer nesse conflito dualista ilusório, você viverá na desesperança, porque não há outra saída no plano dualista do pensar. Enquanto sua própria existência se identificar com o ego, e portanto com o enfoque dualista da vida, você não terá outro jeito senão desesperar, quer esse desespero esteja encoberto quer seja momentaneamente aliviado por um sucesso ocasional de uma das alternativas dos dois opostos.

O desamparo e a desesperança – a energia dissipada da luta dualista – roubam-lhe seu direito inato. É somente no plano da unificação que você pode encontrar seu direito inato.

Tudo o que você aprende através da educação e do mundo circunstante que está atrelado a padrões dualistas e, por isso, não é de admirar que você esteja totalmente submetido e adaptado a esse estado de consciência. Tanto isto é verdade que você fica chocado quando descobre que existe outra alternativa. Você não consegue acreditar nela e se apega ao seu padrão costumeiro.

Isto cria um círculo vicioso em que as regras e preceitos dualistas que o condicionam a este modo de vida são eles mesmos um resultado de seu medo de renunciar ao estado egoísta que por si só parece assegurar a vida. Você tem a impressão de que abandonar esse estado de ego é o mesmo que aniquilar sua individualidade, o que, naturalmente, é absolutamente errado. Assim, você tem essas regras dualistas por causa de seus medos errôneos e se aferra aos falsos temores devido à sua educação.

Antes de analisar mais detalhadamente o motivo que o leva a apegar-se ao estado dualista angustiante, apesar da possibilidade de acesso imediato ao plano unificado de consciência, gostaríamos de dizer alguma coisa mais sobre o modo de concretizar a unificação dentro de você mesmo.

O verdadeiro eu, o princípio divino, a inteligência infinita – ou qualquer que seja o nome que você dê a esse centro interior que existe em todo ser humano – contém toda a sabedoria e toda a verdade que se possa eventualmente imaginar. A verdade é tão abrangente e tão diretamente acessível que nenhum conflito existe quando ela tem condições de operar. Os “se” e os “mas” do estado dualista deixam de existir.

O conhecimento dessa inteligência inata ultrapassa em muito a inteligência do ego. É um conhecimento totalmente objetivo; ele não dá atenção ao auto-interesse mesquinho – é por isso que você tem medo de entrar em contato com ele e o evita. A verdade que flui dele iguala o eu com os outros.

Longe de ser o aniquilamento que o ego teme, essa verdade abre as portas do depósito de força e energia vibrante de vida que você em geral utiliza apenas em pequenas proporções e que emprega mal ao dirigir sua atenção e esperanças ao plano dualista, com as opiniões ferreamente sustentadas, com as idéias falsas, vaidade, orgulho, obstinação e medo que esse plano comporta.

Quando esse centro vivo o ativa, você começa seu desenvolvimento ilimitado, um processo cujas concretizações se tornam possíveis precisamente porque o pequeno ego não quer mais utilizá-las para encontrar a vida, como o fez, no plano dualista.

Sempre se pode entrar em contato com o verdadeiro eu unificado.

Retornemos nosso exemplo para ver como isso acontece.

A coisa mais difícil de se fazer, embora, na verdade, seja a mais fácil, é perguntar-se : “Qual é a verdade da situação?” Ao buscar mais a verdade do que as provas de que está certo, você entra em contato com o princípio divino da verdade transcendente, unificada.

Se o desejo de estar na verdade é genuíno, a inspiração deve manifestar-se. Por mais que as circunstâncias apontem para uma direção, você deve estar disposto a ceder e a questionar se o que você vê é tudo o que diz respeito ao problema. Este ato generoso de integridade abre caminho para o verdadeiro eu.

Será mais fácil prosseguir se você chegar à conclusão de que não se trata necessariamente de uma questão de ou...ou, mas que podem existir aspectos de certo na visão da outra pessoa e de errado na sua, aspectos que, até agora, você não percebeu porque sua atenção não se deu ao trabalho de considerar essa possibilidade.

Uma abordagem assim imediatamente abre caminho para o plano unificado de existência e na direção do verdadeiro eu. Ela de imediato libera uma energia que é sentida claramente quando isso é feito com intenção profunda e sincera. Ela traz alívio à tensão.

O que você acaba descobrindo é sempre completamente diferente tanto do que esperava como do que temia no plano dualista. Você descobre que não é tão certo e inocente quanto pensava nem tão errado quanto temia. E o mesmo acontece com seu desafeto. Você imediatamente passa a conhecer aspectos da situação que não vira antes, embora fossem bastante visíveis até.

Você começa a compreender como o desentendimento surgiu, o que o provocou, qual foi sua história antes mesmo de sua eclosão. Com tais descobertas você alcança a compreensão da natureza do relacionamento. Você aprende sobre si mesmo e sobre o outro e, ao mesmo tempo, aumenta seu entendimento sobre as leis da comunicação.

Quanto mais ampliar sua visão, mais livre, forte e seguro você se sentirá. Essa visão não apenas elimina este conflito em particular e mostra o modo correto de elucidá-lo, mas também revela aspectos importantes das dificuldades que você tem e facilita sua eliminação através dessa compreensão.

A paz vibrante que deriva dessa compreensão ampliada é de valor duradouro. Ela afeta sua auto-realização e sua vida diária. O que descrevemos é um exemplo típico de compreensão intuitiva e unificada: de conhecimento da verdade. Depois da necessidade inicial aparente de coragem e da resistência momentânea em ver uma verdade maior do que a verdade egoísta, seu caminho se torna bem mais fácil do que a luta que resulta do plano ou...ou da vida dualista.

Antes que você possa situar-se no modo unificado de pensar e de ser, a tensão elevar-se-á, pois enquanto permanece no plano dualista, você luta contra a unificação porque acredita falsamente que ao admitir e ver onde está errado e o outro certo, você se rende e se escraviza. Você se torna nada, inútil, insignificante – a partir desse ponto, basta um passo para a aniquilação de sua vida de fantasia.

Daí que, para você, abandonar o plano dualista é o maior perigo. A tensão aumentará enquanto seus conflitos se avolumaram. Mas no momento em que você se decidir pela verdade, no momento em que você estiver ansioso e preparado para não ver apenas o seu lado, sua pequena verdade, e para não ceder à pequena verdade do outro por medo das conseqüências se não o fizer, no momento em que você desejar possuir a verdade maior, mais abrangente, que transcende pequenas verdades de ambos, uma tensão específica será removida de sua psique. Estará, então, preparado o caminho para a manifestação do verdadeiro eu.

EMPECILHOS PARA A DESCOBERTA DO VERDADEIRO EU

Recapitulando: os dois empecilhos mais significativos para a descoberta do verdadeiro eu são: primeiro, a ignorância de sua existência e da possibilidade de entrar em contato com ele e, segundo, um estado psíquico tenso, comprimido, com movimentos tensos e comprimidos da alma.

Esses dois fatores tornam impossível o contato com o verdadeiro eu e, portanto, com um estado unificado de existência. Enquanto permanecer num plano dualista, você estará passando por uma tensão constante em sua alma. Ao lutar contra um dos aspectos dualistas e se aliar ao outro, observe seus movimentos de alma.

Superficialmente, você pode apoiar-se na justificativa aparente da posição a que se alia. Você pode dizer “Não estou perfeitamente justificado por combater este erro no mundo ?” No plano dualista, as coisas podem passar-se desse modo. Mas com essa perspectiva limitada, você ignora que esse erro existe apenas por causa de seu enfoque dualista quanto ao problema e de sua ignorância básica da existência de outro enfoque. A tensão resultante empana a visão de que existem outros aspectos que unificam tanto o que você considera certo como o que julga errado, independentemente de qual seja realmente o erro.

Este simples ato de querer a verdade requer várias condições, sendo a mais importante a disposição de renunciar àquilo que a pessoa se apega, quer seja uma crença, um medo ou um modo de vida agradável.

Quando dizemos renunciar, queremos dizer questionar e estar disposto a ver que há algo mais além dessa perspectiva. Isto nos leva de volta ao motivo de você se apavorar pelo fato de abandonar o estado do ego, o seu modo de vida dualista e angustiante.

Por que você resiste tanto em entregar-se a este centro interior profundo que unifica todo o bem e é acessível instantaneamente? Ele está, contudo, além das pequenas considerações pessoais do ego.

SEU EGO VERSUS SEU CENTRO DIVINO

O plano dualista é o plano do ego.

O plano unificado é o mundo do centro divino, o eu maior.

O ego encontra toda sua existência no plano em que se sente à vontade. Renunciar a esse plano significa abandonar as exigências do pequeno ego. Isso não significa aniquilação, mas para o ego parece ser exatamente isso. Na verdade, o ego é uma partícula, um aspecto isolado da inteligência-mestra, o eu interior, verdadeiro.

Aquele não é diferente desta; apenas há nele menos do verdadeiro eu. Por ser separado e limitado, ele é menos confiável que aquele do qual brota. Mas isso não significa que o ego deve ser destruído, aniquilado. Na verdade, chegará o momento em que o ego se integrará ao verdadeiro eu, formando um único eu, mais pleno , mais bem equipado, mais sábio. Ele terá um patrimônio maior e melhor do que você pode imaginar.

Mas o ego separado pensa que esse desenvolvimento significa aniquilação. No seu modo néscio, limitado, o ego existe apenas como um ser separado; daí que ele busca ainda maior separação. Visto que a consciência limitada desconhece a existência do verdadeiro eu - mesmo que seja aceito como uma teoria, sua realidade estará sujeita à dúvida enquanto os equívocos pessoais não forem eliminados -  ela teme afrouxar e soltar seu punho apertado, exatamente o movimento da alma que conduz ao verdadeiro eu. Esta é a luta constante do ego até que cesse de enfrentar um oposto através de reconhecimentos repetidos de uma verdade maior em cada questão pessoal menor.

O verdadeiro eu pode manifestar-se enquanto os problemas pessoais não forem resolvidos. Mas o processo de resolver esses problemas e os primeiros indícios de auto-realização frequentemente se sobrepõem; um auxilia o outro. Esta maneira de ver sua luta humana básica pode ajudá-lo consideravelmente.

Enquanto houver identificação total com seu ego, você continuará a cultivar mais separação e a conseqüência será a auto-idealização. Deste ponto de vista, a autoglorificação e a idealização parecem ser a salvação e a garantia que ameniza seus medos existenciais.

O ego pensa, “Se todos ao meu redor me consideram especial, melhor que os outros, esperto, bonito, talentoso, feliz, infeliz ou mesmo mau – ou qualquer característica que tenha escolhido para sua autoglorificação idealizada – então receberei a aprovação, o amor, a admiração e a concordância de que necessito para viver”. 

Este argumento significa que, em algum ponto em seu interior, você acredita que pode existir apenas se for percebido, você deixa de viver. Isto pode parecer exagero, mas não é. Isto explica por que sua auto-imagem idealizada é tão destrutiva. Você se sente mais confiante quando faz de tudo para ser notado do que quando faz esforços positivos.

Assim, sua salvação parece estar nos que reconhecem sua existência somente se você for especial. Ao mesmo tempo, a mensagem emitida pelo verdadeiro eu, e que você interpreta mal, quer que você domine a vida, mas você a domina no plano errado e acredita que deve vencer toda resistência que se interponha em seu caminho.

Toda pseudo-solução pessoal é um artifício de que você dispõe para eliminar os obstáculos que o impedem de ser algo especial. A pseudo-solução que você escolhe depende de aspectos específicos de seu caráter individual, das circunstâncias e das influências dos primeiros anos de vida. Quaisquer que sejam as soluções – e há três soluções básicas: a da agressão, a da submissão e a da retirada -  elas estão destinadas a suplantar as outras e a definir sua liberdade e realização.

Sua existência parece estar assegurada quando você é plenamente amado, aceito e servido por outros, e você espera chegar a isto triunfando sobre eles. Agora você pode ver que é governado por uma sucessão de conclusões errôneas, todas completamente diferentes na realidade.

Naturalmente, todas as suas reações e crenças podem ser constatadas somente quando você tiver aprendido a aceitá-las. Você também precisa questionar o sentido de uma reação particular e observar o que há atrás da fachada, o que está além do que ela pretende significar.

Quando você admite isso, é fácil verificar que todas essas interpretações errôneas o dominam e lhe roubam a beleza da realidade. Você também chegará a entender não como uma teoria, mas como uma realidade – que sua vida não depende de que outras pessoas afirmem sua existência ; que você não precisa ser especial e separado dos outros ; que essa mesma exigência o aprisiona na solidão e na confusão ; que outros lhe darão amor e o aceitarão no momento em que você não desejar ser melhor ou mais especial ou diferente deles. Esse amor chegará quando sua vida não mais depender dele.

Quando você tiver verdadeiramente alcançado o conhecimento, sua realização, em qualquer campo que seja, não poderá ter sobre os outros o efeito que tem quando ela serve para separá-lo. No primeiro caso, realização será uma ponte que leva você em direção aos outros, por não ser uma arma contra eles. No segundo caso, ela criará o antagonismo porque você a deseja para ser melhor do que os outros, o que sempre significa que eles devem estar numa posição inferior.

Quando você tem necessidade de ser melhor por meio de suas realizações, o que você dá ao mundo voltar-se-á contra você porque você o oferece em espírito de guerra. Quando você oferece suas realizações para enriquecer a vida e os outros, você e sua vida serão aperfeiçoados por isto, porque você dá em espírito de paz. Neste caso, você se torna parte da vida. Ao retirar da vida – e do centro vivo dentro de você – e ao devolver à vida como uma parte essencial dela, você age de acordo com o princípio unificado.

Sempre que você acredita que “para viver devo ser melhor do que os outros, devo separar-me“ , o desapontamento será inevitável. Esta crença não pode trazer o resultado desejado porque se baseia na ilusão. O conceito dualista é “eu versus o outro“. Quanto mais você lutar com os outros, menos eles irão concordar com sua exigência de afirmar o seu eu e mais você vivenciará isto como um perigo semelhante a renunciar à luta em si.

Assim, para qualquer lado que você se volte, parece haver um bloqueio. Você se torna extremamente dependente dos outros através de seu conceito ilusório de que se eles não o aprovarem, você estará perdido, enquanto, ao mesmo tempo, você tenta superá-los e obter a vitória. Você se ressentirá da primeira situação e se sentirá culpado pela segunda. Ambas criam grandes frustrações e ansiedade; nenhuma delas conduz a nenhum tipo de salvação.

Perceba a falta de interesse inicial em questionar suas suposições a respeito de qualquer questão problemática de sua vida. Esta é sua verdadeira pedra de tropeço, porque seu afastamento do que parece tão angustiante e assustador faz com que seja impossível revelar a falácia de sua crença oculta.

Quando você observa seus problemas da maneira mais objetiva e distanciada que pode, expressando a perspectiva mais ampla do verdadeiro eu, quando você direciona sua melhor intenção e vontade à questão que o perturba com um desejo autêntico de imparcialidade, você irá primeiramente perceber um recuo com relação a um desejo assim e um modo mais ou menos evidente ou sutil de encobrir seu desejo de fuga.

Surpreenda-se neste ato e prossiga com coragem, questionando a si mesmo ainda mais e com maior profundidade. Então você perceberá que a dificuldade externa é uma representação simbólica de sua batalha interior em que você luta pela vida contra a morte, pela existência contra a aniquilação. Você verá que aquilo em que você evidentemente acredita é exigido de outros para que você exista.

A TRANSIÇÃO DO ERRO DUALISTA PARA A VERDADE UNIFICADA

Quando tiver chegado a este nível de seu ser, você será capaz de questionar os princípios que lançaram a base para isso. E esse é o primeiro passo para tornar possível a transição do erro dualista para a verdade unificada.

Você também perceberá que renunciar a ideais e convicções é como aniquilar-se, porque estar errado significa morrer, e estar certo significa viver. No momento em que você passar por este movimento de abrir-se e de ter a coragem de querer a verdade, uma verdade mais plena do que aquela que consegue ver neste instante, você chegará a uma nova paz e a um novo conhecimento intuitivo sobre o modo de ser das coisas. Algo em sua substância psíquica enrijecida se afrouxará e preparará ainda melhor o caminho para a auto-realização total.

Cada vez que você relaxa, o clima de sua psique se torna mais auspicioso para o despertar final, total, em direção a seu centro interior, que contém toda a vida, toda a verdade, toda a bondade unificada da criação. Todo passo nessa direção elimina outra concepção errônea; e cada concepção errônea representa outro fardo.

A renúncia ao que inicialmente parecia uma proteção contra o aniquilamento será agora exposta em sua realidade verdadeira: a renúncia a um peso, a um sofrimento, a um aprisionamento. Você então chega a compreender o fato absurdo de que se opõe a renunciar à vida dualista, com todo o padecimento e desesperança que esta contém.

Talvez você possa compreender agora alguma coisa disso tudo, e este fato o ajudará em seu caminho pessoal. Ao aplicar essas verdades à sua vida diária, você verá que as palavras aparentemente abstratas que utilizamos aqui não são algo distante, mas são acessíveis a cada pessoa.

Você verá que estas palavras são práticas e concretas, bastando apenas que esteja disposto a ver a si mesmo em relação à vida sobre o pano de fundo de uma verdade mais ampla do que a que você, até agora, está disposto a admitir.

A mensagem que vem do verdadeiro eu diz: “Seu direito inato é a felicidade perfeita, a liberdade e o domínio sobre a vida". Quando luta por esse direito inato seguindo os princípios dualistas, você se afasta mais e mais da auto-realização, na qual você pode verdadeiramente ter domínio, liberdade e realização total. Você busca tudo isto com meios falsos. Estes são tão variados quanto o caráter de cada indivíduo.

Note como é você mesmo que dá início à falsa luta que leva a uma crescente confusão e sofrimento. Qualquer que seja o modo pelo qual tente vencer, você depende de outros e de circunstâncias que muitas vezes estão além de seu controle atual; portanto, você está fadado a fracassar.

Essa luta fútil enrijece a sua essência psíquica. Quanto mais frágil for essa essência menos você será capaz de entrar em contato com o centro do seu ser interior, que pode dar-lhe tudo aquilo de que você possa precisar: bem-estar, produtividade e paz interior, verdadeiros subprodutos da descoberta do verdadeiro eu.

O único modo de que você dispõe para entrar no estado de união onde você pode verdadeiramente alcançar o domínio é renunciar à falsa necessidade de vencer, de estar separado, de ser especial, de estar com a razão, de querer as coisas a seu modo.

Descubra o bem em todas as situações, quer as considere boas ou más, certas ou erradas. É desnecessário dizer que isto não significa resignação nem rendição medrosa ou fraqueza. Significa seguir com o fluxo da vida e lidar com o que até agora está além de seu controle imediato, seja ou não de seu agrado. 

Significa aceitar o lugar onde você está e a vida que lhe está reservada neste momento. 

Significa estar em harmonia com o seu próprio ritmo interior. 

Esse procedimento abrirá o canal para o seu Eu divino, acontecendo finalmente a auto-realização total.

Todas as suas manifestações na vida serão motivadas e vividas pelo princípio divino que opera em você e que se expressa a si mesmo através da sua individualidade, integrando as faculdades do seu ego com o eu universal. Essa integração aperfeiçoa a sua individualidade; ela não a diminui. Ela intensifica cada um de seus prazeres; ela não lhe retira absolutamente nada.

Possa cada um de vocês compreender que a verdade está dentro de cada um. 

Tudo aquilo de que precisam está em vocês. 

Possam todos descobrir que, na verdade, não precisam lutar, como vêm fazendo continuamente. Tudo o que precisam fazer é reconhecer a verdade, seja qual for a posição em que estejam agora. Tudo o que precisam fazer, neste momento, é reconhecer que pode haver em cada uma mais do que podem ver; invoquem esse centro interior e estejam abertos às suas mensagens intuitivas.

Possam descobrir que isso é possível exatamente onde vocês mais dele necessitam neste momento particular. Seu parâmetro é sempre o que parece mais desconfortável, aquilo do qual você está mais tentado a desviar-se.

Gary Burton
Enviado por Gary Burton em 18/12/2012
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