Índios Mapuá: Guerreiros da Ilha de Marajó

Quando os europeus chegaram há mais de 500 anos no Novo Mundo havia no Brasil mais de 320 etnias indígenas, e boa parte desses grupos não aceitou a presença dos colonizadores.

Um desses grupos que resistiu às imposições dos colonizadores foram os índios Mapuá, que lutaram bravamente atacando os barcos portugueses que percorriam o rio Amazonas nas viagens entre Manaus e Belém do Pará.

De acordo com registros históricos, sabe-se que os índios Mapuá se deslocaram do estado do Amapá para o interior da Ilha de Marajó em 1610, onde se uniram a outros grupos indígenas, como os Aruã, Anajá, Piixi-pixi, Mamaianá, Camboca, Guaianá etc. Esses índios pela ferocidade com que lutavam ficaram conhecidos como “Nheengaíbas”, que traduzido quer dizer “gente feroz”.

O Arquipélago do Marajó fica na foz do rio Amazonas, próximo da cidade de Belém, que era a capital do Grão Pará, e naquele período administrava todo o gigantesco território da floresta Amazônica. Os representantes da corroa portuguesa que ficavam em Belém eram cobrados constantemente para resolver os inúmeros problemas e conflitos na região Norte. Se hoje já é difícil para qualquer governante atender as demandas, imaginem naquela época. Os portugueses tinham que manter o domínio colonial contornando as intrigas e indisciplinas de seus próprios aliados e ainda combater os aventureiros estrangeiros que se aliavam aos índios.

A conquista da Ilha de Marajó era essencial para os objetivos da coroa portuguesa que queria consolidar a navegação entre Manaus e Belém. Naquele tempo, eles já sabiam que o arquipélago do Marajó era uma vastidão de terras que em comprimento e largura excedia o Reino de Portugal. Esse arquipélago é formado por centenas de ilhas entrecortadas por inúmeros rios, furos e igarapés, formando um imenso labirinto. Como se não bastasse todas essas dificuldades, os portugueses ainda tiveram que enfrentar uma longa guerra contra os “Nheengaíbas” que habitavam boa parte do Marajó e o transformaram em uma grande fortaleza indígena.

Os índios Mapuá não aceitavam a ideia de perder suas terras e sua liberdade para os colonizadores portugueses, e repassaram em 1635 uma ordem às demais tribos que fechassem as fronteiras dos rios do Marajó.

Nessa guerra que durou mais de duas décadas os índios Mapuá ficaram famosos, pois eles tinham canoas ligeiras e andavam sempre bem armados. Sua rapidez e seu conhecimento aprofundado da geografia da região os colocavam em vantagem, o que permitia que eles atacassem as caravelas e matassem muitos portugueses que se arriscavam a atravessar o interior do arquipélago.

Em 9 de abril 1655 foi decretada a lei de liberdade aos índios, e ficou a encargo da Companhia de Jesus negociar em nome do poder real a pacificação dos conflitos existentes no território brasileiro. Assim, em 27 de agosto de 1659, o padre jesuíta Antônio Vieira esteve no rio Mapuá, hoje município de Breves, para se reunir com o cacique Piyé Mapuá, representante da federação de sete cacicados marajoaras (Aruã, Anajá, Piixi-pixi, Mamaianá, Mapuá, Camboca e Guaianá) para celebrar a paz.

Esse evento histórico aconteceu numa igreja improvisada pelos próprios índios que recebeu o nome de “Santo Cristo”. Acredita-se que esse monumento foi erguido pelos índios onde atualmente está a comunidade “Vila Amélia”, que possui um cemitério com diversas “urnas funerárias” – que são prova vida da arte cerâmica das comunidades indígenas que habitaram essa belíssima região.

O padre Antônio Vieira ao retornar para o convento jesuíta em Belém preparou uma Carta, datada em 11 de janeiro de 1660, relatando a pacificação do Marajó e outros fatos relacionados à sua missão no Pará. A assinatura da “Paz Marajoara” no rio Mapuá foi anunciada à coroa portuguesa como uma grande conquista, pois permitiu a integração do rio Amazonas ao antigo estado do Maranhão e o Grão Pará. Pela singularidade desses fatos o pesquisador José Varella Pereira tem defendido que essa data deve ser reconhecida e valorizada como parte do calendário histórico e cultural dos municípios da região.

De acordo com o historiador Djalma Paes, os índios Mapuá se destacavam das outras tribos por vários aspectos, o dialeto, seus costumes, o porte físico e principalmente por causa de sua bravura. Prova disso é que numa localidade que hoje se situa a cidade de Breves, num determinado momento do ano, acontecia uma grande festividade reunindo todas as comunidades indígenas, que se pintavam da cor verde para mostrar a união entre eles. Essa agremiação geralmente durava 3 dias, e era um momento especial em que aconteciam várias competições com a participação de homens e mulheres, como: pescarias, caçadas, lutas, e geralmente os Mapuá saiam vencedores.

A resistência dos índios Mapuá em combate era reconhecida por todos. Dizia-se que em combate com os portugueses ou com outras tribos inimigas os índios Mapuá preferiam lutar até a morte a se render.

Na localidade aonde viveram esses famosos índios o governo federal criou em 2005 a Reserva Extrativista Mapuá, que é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO). A RESEX Mapuá é com certeza é um dos lugares mais bonitos e preservados de toda a Ilha de Marajó.

Hoje os índios Mapuá não existem mais. Entretanto, é possível ver que a alma desses nativos valorosos se mantém bem viva entre nós. Eu acredito que os índios Mapuá estão bem presentes nos traços do rosto, na cor da pele, na lisura dos cabelos, na beleza do corpo, na simpatia do trato diário e principalmente na garra e bravura do povo marajoara !!!

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Publicado no Jornal Mesa de Bar News, edição n. 489, p. 15, de 04/01/2013. Gurupi - Estado do Tocantins.

Giovanni Salera Júnior

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Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 16/12/2012
Reeditado em 09/01/2013
Código do texto: T4038551
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