Lippy, Hardy e a Esteira Hedonista

Há desenhos animados dos anos 60 que voltam continuamente à lembrança...ainda se lembram daquele desenho animado "Lippy & Hardy" em que Lippy era um leão otimista, cheio de planos mirabolantes buscando animar seu parceiro dizendo "Calma Hardy!" e Hardy uma hiena pessimista que tinha o bordão: "Não vai dar certo, eu sei que não vai dar certo... Oh Dia, Oh Céus, Oh Vida, Oh Azar..."?

Numa associação livre, poderíamos referir esse desenho animado às nossas reações diante da vida?

Esteira Ergométrica Hedonista*

O termo "Esteira Hedonista" surgiu a partir da pubicação de um trabalho em que Philip Brickman e Donald T. Campbell descrevem uma interessante observação sobre os seres humanos e a felicidade num estudo denominado "Hedonic Relativism and Planning the Good Society", no começo dos anos 1970.

Refere-se a uma correlação em que se pode imaginar as pessoas numa 'marcha da vida' em uma esteira em constante movimento, num caminho que na realidade não leva a lugar nenhum. Nessa comparação, as pessoas estariam, independentemente das mudanças em suas vidas, em um constante estado de desejo dentro de uma busca insaciável até o final.

De modo geral, as pessoas trabalham duro para adquirir um certo 'status' na vida, que inclui acumulação de riqueza vencendo desafios. No entanto, conforme a "Esteira Hedonista", uma vez que as pessoas percebam encontrar uma sensação de felicidade ao cumprir ou mesmo suplantar metas estabelecidas elas somente ficam extremamente satisfeitas por um muito curto período de tempo.

A razão para isso, conforme o estudo de Brickman e Campbell é que as pessoas tendem a se adaptar constantemente às condições da vida presente, o que provoca uma necessidade de desejar um nível de recompensa continuamente em elevação ao longo do tempo em relação às últimas realizações.

A aplicação desse estudo tem sido apropriada em diversos outros trabalhos, como o 'best-seller' de David Myers ("The Pursuit of Happiness") onde demonstra que a alegria do sucesso em cada experiência desejável é transitória.

Robert E. Lane, um professor emérito de Yale, incorporou em seus estudos para afirmar que realmente "o dinheiro não pode comprar felicidade", pois as pessoas tendem a desejar mais e mais.

Além disso, Daniel Kahneman, prêmio Nobel de Economia e professor de psicologia em Princeton utiliza-se da teoria da Esteira Hedonista para sugerir que a felicidade é uma habilidade que requer prática.

Por outro lado, Ed Diener, Richard E. Lucas e Christie N. Scollon fizeram uma pesquisa de atualização daquela teoria (cfe. "American Psychologist") demonstrando que as pessoas tendem a voltar a 'pontos de ajuste', que variam de pessoa para pessoa, nos quais cada uma delas avaliam conforme o foco de cada presente, enquanto que as pessoas se adaptam às situações em níveis diferentes de satisfação.

Já Dan Ariely, um especialista em comportamentos financeiros e autor de "The Upside of Irrationality", sugere que a aplicação da teoria de Esteira Hedonista pode favorecer a escolha de 'memórias de longo prazo'. Ele diz, por exemplo, "Se num período de férias você estiver decidindo entre um sofá ou viajar é preciso levar em consideração que você rapidamente tende a se acostumar com o sofá, enquanto que uma viagem traz memórias de longo prazo."

* informações a partir do texto de Jill Blessing (com revisão de Allen Cone) publicado em 25 de outubro de 2010 em Livre Strong "What is the hedonic treadmill" e do texto "5 Sinais de Infelicidade" de "Mundo Interpessoal" de 12 de julho de 2010.