NO "RODA VIDA" A VIDA QUE TUDO PODE

No último Roda Viva levado ao ar pela Rede Cultura de televisão, nós telespectadores cá do lado de fora pudemos assistir, com um certo desconforto, a um verdadeiro bombardeio da ali presente crítica jornalistica e/ou formadores de opinião técnica sobre um dos grandes- mas polêmico- expoentes da nossa música erudita, o mais atual "show-business man" -título ali explicitamente defendido pelos inquisidores da santa mesa quanto à atual performance de aparição artística "popular" do Maestro Antônio Carlos Martins.

Fiquei impressionada com a falta de respeito ao artista, atitude partida dos "doutos da mesa", por mais que possa nos parecer que sua história de vida ultimamente esteja algo acima da sua arte, segundo o que defendiam ali.

De fato algumas histórias de vida são mais artísticas que a própria arte, embora o maestro seja um artista empreendedor do seu grande talento para juntar as suas duas grandes artes: a sua vida de superações e a Música.

É fato também, estamos num mundo sem freio, em que absolutamente tudo pode, inclusive o desrespeito ao talento das consagradas cãs de quem prossegue nesse atual mundo meio...agressivo demais.

A enquete ao maestro nitidamente perdeu o foco de debate para entrar no campo político e pessoal de suas ações cidadãs dum artista que faz.

Defender que a música sozinha não salva o social brasileiro seria como propor para que qualquer um de nós, profissionais de todas as áreas do conhecimento, nos paralisássemos e não fizéssemos mais nada em prol do país, já que a resolução do tudo passa pelo processo de gerenciamento político...por aqui nem sempre dos mais competentes e comprometidos com o país.

Parece que o sucesso dos outros incomoda a muitos e ali naquela mesa tivemos que sentir a própria "música-arte" perdendo seu status de fortíssimo instrumento transformador e amortecedor das tristes realidades sociais que se disseminam pelo país, já que até o trabalho social promovido pelo maestro dentro das comunidades carentes "das elites" estava nitidamente na berlinda dos incomodados, até dos educadores das grandes universidades.

Ali pudemos entrar em contato com a vaidade humana teorizada, aquela que sempre muito prega nos compêndios das teorias escritas mas que muito pouco são levadas para o real campo do nosso social.

São desanimadoras certas refutações teóricas sobre a prática daqueles que, a despeito do tempo, ainda tentam transformar nossos cenários mais tristes.

Estou com o Maestro, a aqui parabenizá-lo pela calma e elegância naquela sua tortura em público.

Estudei sete anos de música erudita e não carrego tal preconceito comigo, o de blindar o clássico da inexistente "contaminação" pelo popular , como assim podem acreditar os doutos mais doutos no assunto, pelo contrário, segue dentro de mim a paixão pelos ecletismo e sincretismo culturais de todas as artes, tão prevalentemente miscigenados no nosso país, inclusive na Música, e achei brilhante a atitude histórica do Maestro que levou a sinfonia das elites para as avenidas do samba o que o fez campeão do carnaval paulistano.

Elite é sempre assim: serve-se das comunidades carentes para a mídia sócio-política como exímios benfeitores nas adversidades, mas... se blindam do que consideram possíveis contaminações sociais que os possam amalgamar às diferentes raízes das culturas.

Repudio o tudo que vi ali.Debater ideias sim, falta de compostura e respeito, não!

Se o Maestro leva sua história de vida para o prólogo da sua arte, esse é um caminho lícito que encontrou, um direito absoluto que lhe é conferido.

Tal fato não lesa a ninguém, tampouco à sua arte ou ao seu talento.

É só mais uma história bonita de vida... contada e recontada.

Eu pergunto: então seriam só as minorias anônimas que teriam o privilégio de se servirem legitimamente da vitimização nesse nosso mundo tão socialmente vitimizado, prestes a ser sempre socorrido pelos heróis das horas políticas?

Bravo maestro, que então seja pela música, sim!

A música, se não é tudo como disseram ali, decerto que é um dos grandes começos, um nobre recomeço, muitas vezes.

Aqui a bater palmas por aqueles que imobilizaram as suas mãos após o solo de piano do artista consagrado.

Continuar a fazer no decorrer das gerações é ato nobre e é para poucos...

Aplaudir ou não é mera questão de alma.