A Lenda da Mandioca
Em cada parte do mundo existem alguns alimentos tradicionais que formam a base da culinária local. Assim é o trigo e o azeite para a região do Oriente Médio, a pizza e o macarrão para os italianos, os pães e bolos para os franceses, a batata para os ingleses, o chocolate para os suíços, o arroz para os chineses, o hot dog e o hambúrguer para os americanos. E aqui no Brasil não é diferente, pois também existe um alimento bastante tradicional - a mandioca.
Bem antes da chegada dos colonizadores portugueses, todos os povos indígenas faziam uso da mandioca como base da sua alimentação.
É comum entre os índios a existência de mitos e lendas para explicar a origem das coisas, e para a mandioca é da mesma forma. Existe uma bela estória no folclore indígena para falar da origem desta raiz.
Assim diz a “Lenda da Mandioca”: num passado muito distante, num certo dia a filha do cacique chega perto de seu pai para lhe contar que estava grávida.
Essa notícia inesperada deixou o líder da aldeia cheio de fúria. Ele estava com muita raiva, pois queria saber como aquilo havia acontecido com sua única filha sem ela estar casada.
O ancião queria a todo preço saber quem havia desonrado sua família. Ele queria punir o índio que havia engravidado sua filha. A índia por sua vez insistia em dizer que nunca havia namorado ninguém.
O cacique não acreditando na filha queria punir a jovem índia por causa dessa situação. Sua raiva por essa vergonha era tamanha que ele estava disposto a sacrificar sua própria filha. Porém, numa noite de lua cheia o cacique caiu num sono profundo e sonhou com um mensageiro celestial que lhe dizia para acreditar na sua filha e, assim, ele desistiu da punição.
Ao final do período de nove meses, a jovem índia deu a luz a uma bela menininha e deu-lhe o nome de Mani. A aldeia toda ficou surpresa ao ver que a criancinha era bem diferente de todos os outros índios. Ela tinha a pele branquinha e os cabelos bem claros. Com poucos meses de vida a indiazinha Mani aprendeu a falar e andar. Mani andava de um lado pro outro da aldeia, sempre sorrindo e encantando a todos com sua graça e beleza.
O nascimento de Mani trouxe muita alegria para a aldeia, pois junto com ela veio um tempo de prosperidade e abundância. As colheitas eram fartas, as pescarias rendiam muitos peixes, havia muitos animais na mata e todos os índios estavam saudáveis.
Certo dia uma grande tragédia inesperadamente atinge a aldeia. Quando Mani estava completando um ano e meio de vida ela morre de repente. Esse acontecimento triste foi um choque para todos, pois até aquele dia a indiazinha Mani não havia adoecido, nem apresentava nenhum sintoma de doença.
A menina simplesmente deitou na rede, fechou os olhos e morreu. Isso trouxe grande tristeza para toda aldeia.
O velho cacique e sua filha decidiram enterrar a criancinha dentro da própria oca, como era tradição do seu povo. Junto com Mani a alegria da aldeia foi embora.
Com a morte de Mani as colheitas acabaram, as pescarias e caçadas se tornaram ruins, o que trouxe a fome para a aldeia. O tempo de alegria e fartura deu lugar à escassez de alimentos e ao luto. Assim, todos os dias sua mãe, a jovem índia regava o local da sepultura de Mani com água e muitas lágrimas.
Após algum tempo, algo estranho aconteceu. No local onde Mani foi enterrada começou a brotar uma planta desconhecida que crescia bem rápido. Todos ficaram admirados com aquele acontecimento. Por isso, os índios resolveram desenterrar Mani, para enterrá-la em outro lugar.
Para espanto de todos da aldeia, o corpo da pequena índia não foi encontrado. No seu lugar os indígenas encontraram as grossas raízes da planta desconhecida. A raiz tinha a casca marrom, e no seu interior ela era bem branquinha, parecida com a cor da indiazinha Mani.
Dessa planta os índios extraíram muitos alimentos diferentes e saborosos. Das suas folhas fizeram a maniçoba, da raiz fizeram farinha, tapioca, tucupi, beiju, mingaus e bolos.
A raiz de Mani veio para saciar a fome da aldeia e trazer de volta a alegria e prosperidade. Os índios batizaram o nome da raiz de “mandioca”, ou seja, uma junção de “Mani” (nome da indiazinha morta) e “oca” (habitação indígena).
O velho cacique e sua filha entenderam que a criancinha tinha partido, mas em seu lugar receberam como retribuição a mandioca para trazer novamente grande alegria e fartura para seu povo. Eles perceberam que aquela planta misteriosa era um presente dos Céus. Por isso, desde aquela época a mandioca se tornou parte da alimentação das comunidades indígenas e hoje ela é sem dúvida um item indispensável na mesa dos brasileiros.
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Publicado no Jornal Mesa de Bar News, edição n. 487, p. 15, de 07/12/2012. Gurupi - Estado do Tocantins.
Giovanni Salera Júnior
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br
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