O preconceito das cotas raciais
O fim da escravidão acabou e, por mais que seja difundido a perda do preconceito racial incrustado no DNA da população, ele é mantido, de forma não explícita, pelo próprio governo. Não adentrando muito à questão do preconceito (há muitos textos com esta temática), quero escrever algo que seja difícil (talvez não tanto) de ver dissertado, por mais que seja extremamente debatido. Digo que sou bem leigo em dialética, porém acho que posso aplicar ao assunto. Comecemos.
Um ateu não pode acreditar numa inexistência de um deus, já que, para haver a inexistência de uma entidade superior, teria que se supor a existência de uma. Explicando melhor: é impossível se posicionar contra a existência de algo se este, para o indivíduo, já não existir- é irônico. O mesmo fato ocorre com o sistema de cotas raciais nos vestibulares: se queremos que não aja preconceito, ou melhor, se achamos que ele não existe mais é porque cremos a existência da mesma. E ela é real. Mas não é criar cotas que acabará com esse preconceito, ou irá confirmar a falta, porém serão as cotas que certificarão a discriminação.
Pense comigo, leitor, como um sistema que separa, em porcentagem, pessoas de pele escura dos demais vestibulandos pode ser “anti-racial”? Na África do Sul chamavam isso de apartheid. A diferença que no Brasil é a apartheid dos 15% melhores colocados. Vi uma palestra dada pelo procurador geral da república, onde se defendia as cotas, com o argumento de que teríamos de retribuir, que pagar todos os anos de escravidão, de injustiça, de preconceito racial que afligiu os “afrodescendentes” (oficialmente o termo certo, mesmo que nem toda pessoa de pele escura possa ter origens africanas. Ou melhor, todos nós temos esta origem). Senhores! Senhoras! Estamos aumentando a descriminação! Com as cotas estamos dizendo que qualquer pessoa negra ou parda é incapaz, intelectualmente, de competir com um caucasiano. O regime escravocrata racial realmente é uma vergonha, uma mancha na história do mundo, porém não é subjugando-os e dando vantagens que vamos nos redimir.
Biologicamente, somos todos iguais: negros, brancos, amarelos, vermelhos, não importa a nossa cor, o corpo é o mesmo, a capacidade intelectual é a mesma. Afinal, evoluímos juntos. Se assim não fosse, não teríamos um presidente negro na maior potência do mundo, não teríamos um dos maiores escritores do realismo brasileiro e, pessoalmente, meu autor preferido (Machado de Assis).