BRASIL BRASILEIRO OUTRA VERSÃO

[Epígrafe em Jeito de Haicai]

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CANDANGO BRASILIENSE / DF 27

Brasília das…

Asas e Quadraturas

Cerrado Central.

(KX@ 1º Novembro 2012, quinta-feira, segunda madrugada).

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APONTAMENTOS AVULSOS: O BRASIL BRASILEIRO - A OUTRA VERSÃO.

Etimologia de Candango, Candengue ou Cambonga:

- filhote de, caçula ou moleque. Língua kiMbundo de Angola (ver Óscar Ribas).

As diatribes das crianças podem também ser associadas a mau comportamento, inconsciência, daí ser coisa ruim. Eram assim que os escravos africanos também viam os portugueses na época colonial no Brasil e em Angola.

Na década de 1960 na construção de Brasília e devido à conotação depreciativa por vir do africano, o nome, também era associado a ‘coisa ruim,’ ordinária, baixaria. No entanto, grosso modo, hoje refere-se ao natural de Brasília, muitos de origem nordestina poli-mestiça -, ameríndia, africana e européia (portuguesa sobretudo) - aliás como para grande parte das regiões do Brasil foram migrando do nordeste para o centro-norte e descendo para o sudeste e o sul. Esse processo nos últimos três séculos se misturando com todo tipo de origens. No fim, seus descendentes saíram negando essa origem humilde aos dias de hoje.

Por outro lado, a etnolinguística afro no Brasil faz parte da enorme herança cultural dos escravos africanos levados pelos portugueses, primeiro da Guiné-Bissau e a partir de 1502 segundo Margaret L. King (p. 331), mais ou menos cinquenta anos antes, do que dizem a maioria dos historiadores do Brasil e de Portugal. Cem anos depois grande leva desses escravos chegariam do Congo – Angola no século XVII (1600) como força braçal principal por mais resistentes fisicamente ao trabalho escravo, por desenraizados do seu continente de origem, portanto, de maior controlo psicológico pela parte dos feitores portugueses e dos vizinhos espanhóis coloniais.

Os suicídios ter-se-iam tornado mais comuns entre os frustrados guerreiros ameríndios, primeiros nativos da terra 'brasiliensis' e deserdados dela - 'contaminariam' os escravos africanos com o suicídio, muitos preferindo a morte do que a escravidão em massa.

Por outro lado, as guerras interétnicas e mortes entre os ameríndios estavam localizadas e não massificadas como com a invasão dos portugueses (e espanhóis). No canibalismo ritual só os homens mais bravos e corajosos eram sacrificados para "serem obtidos os seus espíritos de coragem." Nessa crença e prática cruel a vítima muitas vezes se sentia honrada em ser perpetuada numa tribo. É preciso contextualizarmos o tempo e espaço com distanciamento do nosso pensamento de humanismo atual. (Ver relatos do mercenário alemão Hans Staden do século XVI - 16, meados dos anos 1500).

Grosso modo, a aparente submissão inicial do africano em solo estranho (terra do pau-brasil), não impediu que muitos escravos africanos se revoltassem e se refugiassem no meio dos guaranis e afins e fossem protegidos e 'adotados' pelas cunhãs criando nova forma de mestiçagem (curiboca) aos dias de hoje.

Nessa "cooperação" afro-ameríndia teria havido troca de culturas no artesanato, agricultura, culinária, e também nas relações sexuais, segundo dados recolhidos por Darcy Ribeiro. Por outro lado, esse africano refugiado na selva brasileira introduziria na mulher guarani e afim, sensações ‘gozosas’ até então desconhecidas para ela, ao contrário da sua relação com o seu homem ameríndio, ou com o invasor europeu. Pois ambos, do alto dos seus machismos alfas tradicionais, a tomavam como objeto simples de descarga sexual.

O africano fugitivo faria a cunhã-mulher ameríndia sentir-se mais mulher num trato menos egoísta. “Ao homem ameríndio ela submetia-se por tradição, e ao homem europeu (português, espanhol ou francês e com outros), ela deitar-se-ia por interesse material de prebendas.”

Os guaranis e afins resistiam desesperados fugindo para o interior da selva. Outros eram reduzidos à escravidão ou ao alcoolismo das bebidas europeias introduzidas para consumo à força visando enfraquecê-los no corpo e na alma. Mais tarde, os bandeirantes fariam o resto. O dito progresso para uns traz a desgraça, para outros o lucro e a avidez da riqueza a todo custo. No Brasil não foi excepção. É a dura lei dos homens (mais do que das mulheres).

Espanhóis, holandeses, franceses e ingleses, tentariam participar no botim, em vão. Os portugueses controlariam a situação até ao século XIX (1822). Todavia, os seus descendentes já mestiços (ver Ribeiro 1995:119) criariam raízes aos dias de hoje reforçando laços genéticos com outras origens europeias e asiáticas.

Em 1500 a grande nação guarani ao longo de todo litoral sul ao nordeste e interior compreendia cerca de 4 milhões. Hoje são pouco mais de 200 mil dispersos sem identidade de memória comum. (Ver Pe. Antº Vieira 1652 apud Darcy Ribeiro: 278,305).

No entanto, segundo testes recentes de DNA (UFMG e USP) a maioria do povo brasileiro de todos os tons de pele terá algum vestígio de sangue ameríndio, além do africano e europeu: - e «dos brasileiros autodeclarados “brancos” os seus DNA registariam 33% ameríndio; 39% europeu; 28% africano.» Fonte UFMG, Professor Dr. Sérgio Pena (10/10/ 2008).

A ironia da história, pois ainda que historicamente exterminados por limpeza genética, mas na realidade vem os guaranis e afins ditos ameríndios e guaikurus sobrevivendo no ADN da cidadã e do cidadão comum brasileiros - da mais clara e claro aos mais escuros e escuras de tom de pele. A Ciência prova, com-prova.

Kuaracy Xamã@

ANEXOS

Bibliografia:

King, Margaret L. (2003). THE RENAISSANCE IN EUROPE. London, UK: Laurence King Publishing.

Ribeiro, Darcy (2008). O POVO BRASILEIRO. São Paulo, Brasil: Companhia de Bolso.

Nota explicativa: A epígrafe em jeito poético, no início deste texto, faz parte do Grupo de 27 Haicais Toponímicos Brasileiros, todos originais de Kuaracy Xamã (KX) e publicados no Recanto das Letras - a saber:

Ara-Caju SE 1 / Jaú SP 2 / Florianópolis SC 3 / Porto Alegre RS 4 / Rio de Janeiro RJ 5 / Belo Horizonte MG 6 / Curitiba PR 7/ Mato Grosso MT 8 / Espírito Santo ES 9 / Campo Grande MS 10 /

/Rondônia Velhense RO 11/ Acreano AC 12 / Amazônia AM 13 / Roraima Boa-Vistense RR 14 / Belenense Paraense PA 15 / Amapá AP 16 / Ludovicense Maranhense MA 17 / Teresina Piauiense PI 18 / Tocantins Palmense TO 19 / Fortalezense Cearense CE 20 /

/Natalense Potiguara 21 RN / Paraibano Nego PB 22 / Maracatu Pernambucano PE 23 / Maceioense Alagoano AL 24 / Bahia Mãe De Santo BA 25 / Goianiense De Goiás GO 26 / Candango Brasiliense DF 27.

Kuaracy Xamã@ 1º Novembro 2012, quinta-feira, segunda madrugada.

NB: «O Brasil é dividido administrativa e politicamente em 27 unidades federativas, sendo 26 estados e 1 distrito federal.»

'Data Venia:' - Sogeografia.com.br

http://www.sogeografia.com.br/Conteudos/Estados/

Kuaracy Xaman
Enviado por Kuaracy Xaman em 09/11/2012
Reeditado em 09/11/2012
Código do texto: T3976931
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