Sobre o ensino automático
Os matemáticos conhecem há milênios um procedimento repetitivo conhecido pelo nome de algoritmo Este procedimento é muito comum e muito útil, mas, no entanto, traz certos riscos.
O risco fundamental do aprendizado de algoritmos consiste em acreditar que tudo pode ser resolvido por um procedimento automático, erro atroz, gritante!
Embora esse risco possa, à primeira vista, parecer remoto, uma breve lembrança das aulas de matemática deverá mostrar sua força. Durante as aulas de matemática, parte considerável dos alunos de ensino médio e básico aprende apenas métodos automáticos, um disparate.
Algoritmos têm sua utilidade. Devemos aprender a somar, a multiplicar, etc., provavelmente usando os dedos. Só depois disso, devemos aprender um método automático, um algoritmo, em substituição a esse método Tendo-se aprendido a somar, por exemplo, utilizando os dedos, convém decorar um algoritmo capaz de fazer o mesmo, mais eficientemente, mas só posteriormente ao aprendizado.
Deve-se aprender matemática por duas razões. A mais importante delas consiste no aprendizado do raciocínio A maneira utilizada nas escolas para desenvolver e treinar o raciocínio consiste no ensino de matemática, sendo esse seu papel fundamental. Além disso, tem certa importância o conteúdo do que é ensinado, o conhecimento matemático
Insisto em que o aprendizado de matemática NÃO constitui o propósito fundamental do ensino de matemática. Insisto em que a importância do ensino de matemática consiste no desenvolvimento do raciocínio, do pensamento. Só secundariamente o conteúdo do ensino de matemática tem relevância.
A imensa maioria dos professores, no entanto, parece não pensar assim. Esses tratam de ensinar seus alunos, exclusivamente, a executar algoritmos, técnicas idiotas, mecânicas, para a solução de problemas.
Em aulas de "matemática", a imensa maioria dos alunos aprende apenas a executar algoritmos, deveria aprender a raciocinar, deveria aprender matemática.
Pode-se reconhecer os alunos de tais aulas por formularem reiteradamente a pergunta: mas para que eu quero saber isso?
Os professores que ensinam seus alunos a executar algoritmos não costumam ter resposta satisfatória para essa pergunta.
Os alunos estão sendo adestrados como animais (serão os futuros professores!).
Talvez a maioria das pessoas não esteja disposta a aprender a raciocinar. Creio que, ao chegar ao ensino médio, o aluno comum já desistiu disso. Em outros tempos, até o início dos anos 70, havia no Brasil dois cursos médios distintos: científico e clássico. Uma reforma feita pelos militares acabou com o curso clássico, que privilegiava o ensino de humanidades, retirando toda a ênfase em matemática e nas ciências. Tenho franca preferência pelo curso científico, o curso médio atual. No entanto, acho que atualmente o que existe é uma farsa. Não se ensina matemática nem ciências, quando muito ensina-se umas emburrecedoras técnicas de solução de algoritmos; adestram-se os alunos como animais.
Talvez os que não estão dispostos a raciocinar devessem ter à disposição os cursos clássicos.
Nos cursos científicos deveria ser exigido o aprendizado do raciocínio
Quanto às técnicas de adestramento, deveriam ficar restritas aos animais.